Desde que comecei a assimilar as coisas, morando em uma rua de pessoas importantes como políticos, deputados, prefeitos, juízes, promotores, médicos, empresários, fazendeiros, professores e grandes comerciantes, via Bacabal dividida em três castas sociais distintas. A elite 1 que era o Clube Recreativo Icaraí, a elite 2 que era a Associação Atlética Vanguard e a União Artística e Operária Bacabalense, clube povão. . A AABB - Associação Atlética Banco do Brasil, apesar de independente, fazia parte da casta 1 e 2.
Naquele tempo, o carnaval não passava por órgãos públicos, e acontecia da forma mais alegre e animada. Existiam dezenas de blocos de sujos que saiam bebendo cachaça, batendo latas e garrafas, e jogando pó em todo mundo. Os blocos tradicionais desfilavam fantasiados, batendo seus tambores de compensado cobertos com couro de bode e suas ritintas cobertas com couro de cobra, visitavam as casas e na terça-feira competiam entre si, com músicas próprias e arrastavam multidões.
O carnaval sempre fez parte da vida de Bacabal com os extintos blocos tradicionais, blocos de sujo, escolas de samba e até festivais de marchinhas.
Para quem não conhece a história de Bacabal, não conhece tambem a sua cultura, principalmente a carnavalesca. Completaremos cento e cinco anos e ainda não se sabe o que será feito para, pelo menos, avivar a memória do povo que um dia já brincou o melhor carnaval do estado.
A baluarte Iranise Lemos junto com Zezim Trabulsi, fizeram o Primeiro festival carnavalesco de Bacabal onde revelou artistas como Zé Jardim, Mário, Laurindo, Tchaka, dentre outros e essa tradição durou até a gestão Raimunda Loiola e outros nomes como Zeneide Miranda, R. Cavalcante, Josa, Perboire Ribeiro, Dalva Lopes, Masa Pagodinho, também se sobressaíram.
O festival passou um bom tempo sem acontecer, cerca de 24 anos, só tendo outras duas edições na gestão Zé Alberto, onde revelou uma gama de novos artistas como Frahn Almeida, Sarah Sarute, Tânia Tomaz, Manoel Baião de Dois, Erinaldo, esses em meio aos mais antigos. Infelizmente o evento não aconteceu mais.
Bacabal já viveu anos dourados em antigos carnavais. Já tivemos desfilando e disputando o título “Turma do Samba” do mestre Pinduba, “Águia do Samba” de Raimundo Marcelino e Pedro Paulo, “Turma de Mangueira” do mestre Duzinho, “Boêmios do Samba” de Dionézio e Dionízio, "Bloco dos Cangaceiros" do propagandista Neco Fininho, “Asas do Samba” de Zé Jardim, Zeca de Filuca e Telê, “Salgueiro do Samba” de Raimundin Gangá, Vandico e Durval, “Bloco das Casadas” de Luzia de Vavá, “Estrela do Samba” de Edilson, Zé Sampaio e Tôca, . "Reis do Ritmo", do ícone Lídio Cutrim, “Academia do Samba” de Calixto e Alberto Cardoso e "Bloco dos Comerciarios", .da Associação Comercial que era liderado por Walter Corrêa e por Otaviano Andrade.
Com a evolução, instrumentos de latão e pele de nylon, os blocos foram se tornando Escolas de Samba e o Carnaval cresceu tanto em Bacabal, chegando a ter sete agremiações: Asas do Samba, Salgueiro, Unidos do Bairro da Areia, Unidos do Satuba, Unidos do Juçaral, Estrela do Samba e Unidos da Esperança. Já fomos o melhor Carnaval de Passarela do Estado. De tão grande, o carnaval não teve como sobreviver.
Voltando aos clubes, o Icaraí e o Vanguard, duelavam pra ver quem fazia melhor, era uma disputa acirrada e as bandas eram as melhores, Brito Som Seis e Carlos Miranda Show. Já a AABB, fazia um Carnaval para funcionários do Banco e para seletos convidados. Nenhum dos três clubes aceitavam a presença de "pretos", tampouco as "moças faladas", aquelas que não eram "virgens" e nem casadas.
Já a União, que era clube de pretos, fazia um Carnaval muito bom para a massa menos abastada, mas, também não aceitava as tais "moças faladas"
O carnaval não precisava de máquina pública para acontecer, as ruas, as praças eram de todos e as músicas que faziam a folia acontecer, eram os sambas, os frevos e as marchinhas.
Bacabal também tinha como tradição, o Festival de Músicas Carnavalescas, que movimentavam cantores, compositores, revelavam talentos e lotavam as praças.
Com a carnavalização dos baianos com suas micaretas, seus trios elétricos, seus abadás e seus axés, o poder público viu uma forma de agradar a "todos" e com a folia na praça, ficou inviável a permanência de clubes, chegando a fechar todos em Bacabal.
Hoje a coisa ficou pior, do Carnaval sobrou apenas os quatro dias na folhinha. Não se ouve mais as marchinhas, não se bate mais lata e nem garrafas, os dias são tristes e as ruas vazias, a noite a praça vira um espaço para cantores de seresta, forró, brega, arrocha e outros ritmos eletronicos que não dizem e nem condizem ao reinado de Momo.
As redes sociais fizeram muito mal para o movimento cultural. Os políticos se aproveitaram disso para fazer tudo acontecer em um só lugar e aquela multidão é exibida como um troféu em forma de fotos e vídeos. É um novo momento anticultural onde é mais divertido estar no meio da multidão vendo um celular do que se divertindo.
Para quem sobrou dos velhos tempos, o carnaval de hoje é uma tristeza, é o carnaval do adeus. Adeus aos clubes, adeus ao confete, adeus a serpentina, adeus ao pierrot, adeus a colômbina, adeus ao mascarado, adeus ao fofão, adeus a porta bandeira, adeus a batucada, adeus ao pó, adeus a alegria. Anda bem que de tanto adeus, nos sobrou a saudade. Ah! Deus, quanta saudade.
Para: Abel Carvalho, Paulo Campos, Zé Jardim, Vale Neto, Perboire Ribeiro, Nilson Fazenda, Paulinho, Sotero, Zé Maria, Manim da Trizidela, Rachid, Kalil Trabilsi, Aquileia, Gilvanete, José de Ribamar Viana, Osvaldo Torneiro, Zé Maria, Jefferson Santos, Osmar Noleto e todos que fizeram de Bacabal, um celeiro de bambas em muitos carnavais em tempos passados.
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- É verdade que os diretóres dos clubes da elite saiam o ano todo com algumas meninas e no carnaval mandavam cartas proibindo elas de frequentarem os referidos clubes?
- É verdade, mas isso é assunto pra outro artigo.