segunda-feira, 13 de outubro de 2014

AFRICANOS E HAITIANOS SÃO HOSTILIZADOS NO PR APÓS SUSPEITA DE





"A gente vai a uma lanchonete, senta em uma mesa, as pessoas mudam de lugar para ficar longe. Estamos passando na rua e sempre tem alguém que diz 'vão embora daqui, parem de trazer doença para o meu País'." Diallo diz ter tido um emprego negado na sexta-feira, 10, em uma empresa frigorífica da cidade ao informar que vinha da Guiné. "A gente está na expectativa de que saia o resultado do segundo teste do Bah, para que possamos ter oportunidades aqui."

Também vindo da Guiné, o vendedor Laye Bangaly Camara, de 27 anos, diz que não esperava sofrer preconceito no Brasil. "Os brasileiros têm de saber que nós passamos por vários controles sanitários antes de sair da Guiné. Só conseguimos o visto se fizermos exames médicos. Respondemos a questionários nos aeroportos pelos quais passamos. Não é justo pensarem que todos que vêm da África trazem o Ebola."

Diallo e Camara fazem parte de um grupo de 11 imigrantes da Guiné que estão morando no Albergue André Luiz, mesmo local onde ficou hospedado Bah. Eles, assim como outras pessoas que podem ter tido contato com o paciente, estão tendo a febre monitorada diariamente.

O centro de acolhida só funciona à noite. Durante o dia, enquanto não obtêm a documentação e vaga de trabalho, os imigrantes ficam na rua. Eles têm se deslocado pouco para evitar hostilidades. "Hoje mesmo estávamos sentados na calçada na frente de um estacionamento, conversando, e nos expulsaram", conta Camara.

Até no albergue, que atende estrangeiros e brasileiros, houve conflito. "Um dos brasileiros começou a gritar com eles, dizer que eles só vinham para o Brasil para trazer doença. Tive de interceder. Esse tipo de discriminação não pode acontecer", diz a assistente social Kátia Pietsch, de 26 anos.

Discriminação

Mesmo imigrantes de outros países africanos e até do Haiti, que nunca tiveram nem sequer um caso suspeito de Ebola, estão sendo hostilizados. "Na sexta-feira, eu ia para o trabalho e começaram a nos apontar na rua dizendo: 'Olha os caras com Ebola'", diz Abdoul Bonsara, de 24 anos, que é de Burkina Faso e há sete meses mora em Cascavel e trabalha como mecânico.

Ele e três compatriotas que dividem uma casa afirmam que a discriminação atesta a falta de conhecimento. "Os brasileiros não sabem que Burkina Faso é longe dos países que têm Ebola. Acham que é tudo a mesma coisa porque somos negros", diz Sitta Compaore, de 25 anos.

A mesma opinião tem o tapeceiro Joe Revens, de 33 anos, presidente da Associação de Haitianos em Cascavel. "O Haiti nem está na África e ouço de compatriotas que as pessoas estão evitando ficar próximas deles. É comum ter um assento livre no ônibus ao lado de um haitiano."

Assim como outras cidades do Sul, Cascavel atrai imigrantes por dois motivos: o trabalho em frigoríficos e na construção civil e a rapidez na emissão de documentos. Segundo Revens, há 1.200 haitianos na cidade de 309 mil habitantes.

Moradores de Cascavel negam se tratar de discriminação, mas relatam ter receio. "Trabalho com frete e já recusei quatro mudanças para haitianos. Mesmo que não tenha Ebola no Haiti, a gente fica com medo porque eles andam todos juntos", diz o motorista João Borges, de 59 anos. Para alguns moradores, o controle na entrada de imigrantes de países com o surto da doença deveria ser rígido. "Acho que os controles são necessários para evitar uma epidemia", diz Osmar Muller, de 54.

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