O
Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do País, teve em
2014 o maior impacto eleitoral desde sua criação, segundo estudo do cientista
político Cesar Zucco, da Fundação Getúlio Vargas, feito em parceria com o
Estadão Dados. A análise indica que cada ponto porcentual de cobertura do Bolsa
Família em um município rendeu, em média, 0,32 ponto porcentual na votação de
Dilma naquela cidade - o dobro do que foi verificado em 2010.
O estudo compara o
desempenho da presidente em municípios de perfis socioeconômicos semelhantes,
mas com diferenças nos porcentuais de atendimento do Bolsa Família.
Embora não permitam
dizer exatamente como beneficiários e não beneficiários do programa se
comportam na hora de votar, os resultados indicam que, quanto maior a parcela
de famílias beneficiadas, maior a probabilidade de a presidente ganhar na
cidade analisada.
Segundo
o estudo, um em cada cinco votos em Dilma está relacionado ao mais famoso
programa de transferência de renda dos governos petistas. A extrapolação dos
resultados, porém, sugere que a presidente teria recebido votações expressivas
nos locais mais pobres, mesmo sem o programa.
A análise de Zucco
leva em conta variáveis socioeconômicas - como a pujança da economia do
município, medida pelo Produto Interno Bruto, e o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) -, para especificar municípios semelhantes a serem comparados
entre si.
São
levados em conta ainda fatores políticos, como o partido a que pertencem o
prefeito e o governador do Estado em que está localizada a cidade. É por isso
que é possível isolar o efeito eleitoral do Bolsa Família quando comparado ao
impacto das outras variáveis.
Vizinhos
O
cientista político ressalta, no entanto, que não se pode afirmar que os votos
extras de Dilma nas cidades com maior cobertura do programa venham
necessariamente dos beneficiários. "Pode ser que mesmo o eleitor que não
receba o Bolsa Família veja o efeito do benefício em um vizinho e decida,
assim, votar no candidato do governo".
Os
resultados são, portanto, preliminares. De acordo com Zucco, serão necessárias
novas análises estatísticas com dados em nível individual, como pesquisas de
intenção de voto, para que enfim se esclareça de que forma se comportam
beneficiários e não beneficiários em cada cidade.
A
metodologia para medir a influência do Bolsa Família nas eleições vem sendo
refinada pelo cientista político desde 2009. Em 2013, Zucco publicou um artigo
sobre o tema no American Journal of Political Science, um dos maiores
periódicos de ciência política do mundo. A pedido do Estadão Dados, Zucco
replicou a mesma análise estatística dos anos anteriores para os dados
eleitorais de 2014.
Bolsa Escola
Em
2002, ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando o
programa de transferência de renda do governo era o Bolsa Escola, o então
candidato da situação, José Serra, recebeu, em média, 0,17 ponto porcentual a
mais em sua votação para cada ponto porcentual adicional de cobertura daquele
programa.
Quatro
anos depois, em 2006, o Bolsa Família deu a Lula cerca de 0,15 ponto porcentual
de votos válidos para cada ponto porcentual na cobertura do programa - índice
que se manteve praticamente estável na eleição seguinte, de 2010, em benefício
da candidata petista Dilma Rousseff: 0,18. Só agora, em 2014, esse índice
passou dos 0,3 ponto porcentual.
Estudo
anterior, feito com outra metodologia, havia apontado redução da influência do
Bolsa Família de 2006 para 2010. Isso só se observa, porém, em análises com
dados individuais, de pesquisas eleitorais.
Elas
indicam que os beneficiários do Bolsa Família votaram em candidatos do governo
com probabilidade maior do que não beneficiários com características
semelhantes, mas que este efeito havia caído entre a última eleição disputada
por Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira em que Dilma foi a candidata do PT.
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