Os
três principais candidatos à Presidência deixaram a cautela de lado e partiram
para o ataque entre si no debate realizado ontem a noite pela TV Globo, o último antes do
primeiro turno da eleição no domingo e o mais acalorado da campanha, que teve a
presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) como principal alvo.
O tema da corrupção
voltou a ser munição para os adversários mirarem em Dilma. A candidata do PSB,
Marina Silva, chegou a discutir com a presidente após o tempo destinado às duas
acabar justamente numa pergunta sobre as denúncias de corrupção na Petrobras.
Aécio Neves (PSDB)
aproveitou um confronto direto com a petista para afirmar que, segundo a
Polícia Federal, o governo Dilma "entregou" a Petrobras "a uma
quadrilha".
Marina também usou o
tema corrupção para rebater a estratégia que Aécio tem adotado durante a
eleição de lembrar os 24 anos que a candidata do PSB foi integrante do PT,
ministra do Meio Ambiente do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e, como o tucano gosta de lembrar, se manteve no governo durante o escândalo do
mensalão.
"Vossa
excelência também esteve em um partido que praticou o mensalão, quando foi na
votação da releição. Foi ali que começou o mensalão", disparou Marina ao
lembrar as denúncias de compra de voto no Congresso quando da aprovação da
emenda da reeleição, no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso.
"Eu saí do PT
exatamente para manter as minhas convicções", completou a candidata do
PSB.
Aécio, por sua vez,
respondeu afirmando que as denúncias de compra de votos para a aprovação da
emenda da reeleição, que permitiu que Fernando Henrique conquistasse um novo
mandato em 1998, não foram comprovadas.
"Me surpreende
que a senhora faz uma defesa do mensalão do PT ao compará-lo a denúncias que
jamais foram comprovadas."
Ainda sobre as
denúncias de irregularidades na Petrobras, Dilma voltou a afirmar que demitiu o
ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e foi contestada
tanto por Aécio quanto por Marina, que lembraram uma ata de uma reunião do
Conselho de Administração da empresa que afirma que Costa renunciou ao cargo e
foi elogiado pelos serviços prestados.
"A presidente
acaba de repetir aqui alguns segundos atrás que demitiu o senhor Paulo Roberto
Costa da Petrobras. Não é o que diz a ata do Conselho, está aqui nas minhas
mãos", disse Aécio. "A ata do Conselho da Petrobras diz que o diretor
renunciou ao cargo e, pasmem, recebe elogios pelos relevantes serviços
prestados à companhia."
Dilma recorreu ao
depoimento dado por Costa a uma CPI no Congresso em que afirma que lhe foi
pedido que escrevesse uma carta de demissão e acusou os adversários de "má
fé".
"Se dá sempre no
serviço público o direito da pessoa pedir demissão ao se afastar do
cargo", disse Dilma, ao que o tucano retrucou, posteriormente, pedindo que
a petista explicasse quais foram os "relevantes serviços prestados à
companhia".
Também foi justamente
num embate sobre corrupção que o clima esquentou entre Dilma e Marina. A
candidata do PSB lembrou que Costa está em um processo de delação premiada para
reduzir sua pena e questionou a presidente se houve uma "demissão
premiada" no caso do ex-diretor.
"Marina, vamos
colocar os pingos nos is. O seu diretor, nomeado por você diretor de
fiscalização do Ibama (quando Marina era ministra do Meio Ambiente) foi
afastado no meu governo por crime de desvio de recursos", afirmou Dilma.
"Eu não saí por
aí, Marina, dizendo que você conhecia corrupção e acobertava corrupção."
Após o duelo, as duas
continuaram discutindo com os microfones desligados e sob os pedidos do
mediador para que retornassem aos seus lugares.
ECONOMIA E
BOLSA-FAMÍLIA
A economia também foi
tema de embate entre os três principais candidatos ao Planalto. Em mais um
confronto direto com Dilma, Aécio questionou à presidente se ela havia
"fracassado" na gestão econômica.
"A senhora
acabou de nos brindar com uma pérola, de que 'a inflação está sob controle';
provavelmente a senhora considera também adequado o crescimento do
Brasil", ironizou o tucano, antes de emendar a pergunta sobre o fracasso
econômico.
"Fui bem sucedida quando se
compara com o que aconteceu no governo do qual o senhor era líder, que quebrou
o país três vezes", respondeu Dilma, numa referência aos momentos que o
governo Fernando Henrique Cardoso teve de recorrer ao Fundo Monetário
Internacional (FMI).
A proposta de Marina
sobre a independência do Banco Central, que a campanha de Dilma tem usado como
munição contra a rival, tornou-se tema de confronto direto entre ambas, quando
a candidata do PSB lembrou que a presidente defendeu a autonomia do BC na campanha
de 2010.
"Eu sugiro que a
senhora leia o que escreveram no seu programa, porque a senhora está
deliberadamente confundindo autonomia com independência", disse Dilma, ao
que Marina respondeu afirmando que a presidente adotava um discurso "das
eleições, não das convicções".
Outro tema de embate
entre os três principais rivais foram os programas sociais do governo federal.
Aécio e Marina voltaram a criticar os boatos de que, se vencerem, acabarão com
o Bolsa Família e prometeram manter o programa.
Dilma, por sua vez,
disse ser a melhor candidata para manter esses programas.
"Vocês falam que
vão continuar os programas sociais do governo. Quem é que pode achar que quem
nunca fez os programas vai fazer melhor do que quem os construiu?",
indagou.
Durante o debate,
Aécio e Marina prometeram "aprimorar" o Bolsa Família e a candidata
do PSB prometeu que, se eleita, os beneficiários do programa terão um décimo
terceiro salário. [nL2N0RY068]
Se Dilma foi alvo dos
rivais no tema da corrupção, Marina foi criticada por Dilma pelo seu discurso
de "nova política". A candidata do PSB atacou a petista pelo fato de
ela "nunca ter sido vereadora" e ter se tornado presidente. A
presidente contra-atacou ironizando o discurso que tornou-se mantra da
adversária.
"Quer dizer,
candidata, que uma pessoa que não fez a carreira vereadora, deputada, senadora,
ela não pode ser presidenta? Onde isso está escrito? Não na nossa
Constituição", disse.
HOMOFOBIA
Entre os candidatos
dos partidos chamados nanicos, o ponto alto foram os embates entre Levy Fidelix
(PRTB) e Eduardo Jorge (PV) e entre Luciana Genro (PSOL) e Fidelix, por conta
de declarações consideradas homofóbicas e de incitação à violência contra
homossexuais dadas pelo candidato do PRTB em debate realizado no último domingo.
Jorge disse que daria
a chance de Fidelix pedir desculpas pelos comentários, ao que o candidato do
PRTB rebateu afirmando que o rival não tinha "moral" e que fazia
"apologia ao crime" por defender a descriminalização da maconha e do
aborto.
Já a candidata do
PSOL afirmou que Fidelix deveria ter sido preso e algemado pelos comentários,
aos quais ela comparou com o dos nazistas contra os judeus.
O candidato do PRTB,
por sua vez, negou que tenha incitado a violência e disse que a Constituição
lhe garante o direito de livre expressão.
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