quarta-feira, 3 de abril de 2019

BACABAL CULTURA.SEM - POESIA - B ACABAL SEGUNDO A POESIA


BACABAL, SEGUNDO A POESIA


 

És bela, não aos olhos do homem

Mas do poeta

Que te viu mato e areia

Enchentes, medonhas cheias

Cercada de vicinais

Império de algodoais

Usinas e arrozais

De verdes canaviais

Enormes babaçuais

De “ais” de tanto sucesso

Do mal chamado progresso

Que te fez selva de pedra

Um pouco de tudo que medra

Pelo tino da grandeza

És hoje uma fortaleza

Altiva e altaneira

Próspera e hospitaleira

Berço de ambição

Busca de solução

És do mundo a primeira

A ter duas padroeiras

Terezinha e Conceição

Que na fé da oração

Te fez tão religiosa

A árvore mais frondosa

Carregada de fiéis

Que ajoelham aos santos pés

Da santa filha da terra

Caminhada que se encerra

Ali na beira da estrada

Onde amanhece calada

E anoitece iluminada

Pela luz que nos permite

Na capela solitária

Pelos devotos de Edite

A milagreira dessa gente

Que de tanta dor não sente

Os cravos do sacrifício

Escravos do mesmo ofício

Da esperança derradeira

Que assim de tão rotineira

A vida perdeu o rumo

Passando fora do prumo

N’um vai e vem inconstante

Como a balsa que distante

Só precisa da corrente

Das águas do manso rio

Pra vencer o desafio

E chegar ao seu destino

Pela voz de um menino

Que ali entre biscates

Camelôs e engraxates

Prostitutas, sacoleiras

Vai fazendo a sua feira

Vendendo doces, besteiras

Churrasquinho no palito

Pão doce e picolé

Cocada e sacolé

Quebra-queixo e pirulito

Ganhando a vida no grito

Num tum-tum cansado e aflito

Das lanchas, dos batelões

Peões carregando a dor

Nas costas do estivador

Que canta uma moda triste

Para esquecer que existe

O peso de todo dia

Nas cargas dentro da estopa

No suor que encharca a roupa

Roupa que enche a bacia

O fardo da lavadeira

Que n’um tronco de madeira

Com um cacete na mão

Bucha, anil e sabão

Vai lavando a sujeira

Quarando sua canseira

Estendendo sobre as plantas

No sobe e desce das rampas

Por cima do mussambê

Barro, areia, massapé

Pulitrica, mortal, cangapé

O prego, o vidro no pé

A arte da meninice

Que aos beliscões de Elisa

E a palmatória de Alice

Aprendia o A,B,C

Soletrava o bê-a-bá

Salteava a tabuada

Trazia a lição decorada

Escrevia tudo, era só ditar.

Iranize fez o hino

E os livros de Brasilino

Com seus versos, poesia

Enchia de alegria

Um recital que ensina

A aprender Anrelina

A poetisa mulher

E n’um pequeno papel

Nossa Cledy Maciel

Escrevia um texto inteiro

Como um verso primeiro

Com carinho, sem igual

Refletindo uma saudade

De uma crescente cidade

Que se chama Bacabal.
 
 
Zé Lopes
 
Do livro - Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e da Infância Perdida.

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