Fábio Brasil foi assassinato em Teresina: sua mulher escapou
A gravação de uma conversa entre Júnior Bolinha e Gláucio Alencar – feita pelo próprio Gláucio, no escritório do advogado Ronaldo Ribeiro - sugere que a mulher de Fábio Brasil, Patrícia Gracielle, também deveria ter sido morta, assim como o marido, assassinado em março de 2012.
A gravação foi feita dias depois da morte de Brasil. Gláucio usou seu Iphone para gravar a conversa com Bolinha – provavelmente na tentativa de se eximir de participação no caso. A polícia tomou conhecimento da gravação quando apreendeu o aparelho, durante a prisão dos envolvidos na morte do jornalista Décio Sá, em junho do ano passado.
As transcrições do áudio da conversa a que este blog teve acesso com exclusividade – feita pelos peritos criminais Araney Rabelo da Costa e Lúcio Flávio Cavalcante – sugere que, na ocasião da morte de Fábio Brasil, sua mulher, Patrícia Gracieli, também deveria ter sido morta – e só não foi por que não estava com o marido em Teresina (PI).
Os áudios indicam também que Gláucio Alencar, no mínimo, sabia que Fábio Brasil seria assassinato. E nada fez para deter Júnior Bolinha.
Bolinha mostrou conhecimento com “os meninos…”
A transcrição dos áudios
Na verdade, há duas transcrições dos áudios da gravação de Gláucio.
A primeira consta do laudo pericial nº 148/2012, feito pelo Instituto de Criminalística do Maranhão (Icrim). Com a transcrição deste áudio, a polícia chegou à conclusão de que Gláucio tinha participação na morte do empresário, como cúmplice de Bolinha.
Para identificar Gláucio e Bolinha, a polícia usa os códigos H1 (Gláucio) e H2 (Bolinha). Um dos trechos traz o seguinte diálogo:
H2 – (ininteligível) os meninos mataram ela debaixo de…
H1 – Eu disse pra tu não fazer porra, tu é doido, oh o comentário aqui só pra tu ver.
H2 – o menino na… (ininteligível)
H1 – Rapaz tu é louco (ininteligível) eu te disse, cara (ininteligível) não disse, Júnior, se eu fizer esse negócio tem que fazer outro, mas eu não (ininteligível) te falei, tu é teimoso, deixa eu te falar.
Inconformado com a transcrição da polícia, que, segundo ele, havia sido montada para incriminá-lo, Gláucio Alencar contratou o “Laboratório de Perícias Prof. Dr Ricardo Molina de Figueiredo”.
Mas a transcrição de Molina, com aparelhos mais avançados, pouca coisa se diferenciou da versão da polícia. Ao contrário, trouxe à tona dados novos, não constantes da versão da transcrição da polícia.
Molina foi contratado por Gláucio
Mulher de Fábio escapa
Um destes trechos clareados pela perícia de Molina é exatamente a parte em que os dois (H1 e H2) conversam sobre a morte da mulher (que seria Patrícia Gracielle) e do marido dela, Fábio Brasil, ao que tudo indica.
Na transcrição de Ricardo Molina (repita-se, em aparelhos mais sofisticados que os do Icrim), o diálogo ficou assim:
2 – os meninos não mataram… os meninos não mataram ela [2/3]…
1 – Eu disse pra tu não fazer, porra… tu é doido!… aqui, o comentário que tem aqui, só pra tu ver…
2 – os meninos não mataram ela porque ela não estava (doida) (…) (sic)
1 – ah, mas tu é louco, de onde você tirou isso?… porra, eu te disse…
2 – quando tem que fazer (uma coisa)…(sic)
1 – não disse, não disse… se… se… se eu fizesse esse negócio, por que fazer ou não…mas não quero fazer, eu te falei… porra, tu é teimoso!…
Em outras partes da conversa no escritório de Ronaldo Ribeiro, Gláucio fala várias outras vezes que a“mulher tá falando o meu nome“, e diz que “tá, ela falou pra Telmo…”, o que reforça a idéia de tratar-se de Patrícia Gracielli, única que já vinha apontando Alencar como responsável pela morte de Fábio Brasil.
Gláucio contesta laudo do Icrim
Conflito entre laudos
Há um conflito entre os laudos do Icrim e de Ricardo Molina que Gláucio Alencar usa como base de sua tese de não participação na morte de Fábio Brasil.
Trata-se do trecho que demonstra a preocupação do agiota com o que a tal mulher pode falar à polícia.
Na versão da polícia maranhense, este trecho foi transcrito assim:
H1 – “isso aqui, só que vai ter que acontecer, eu já tô me movimentando com o advogado (ininteligível) na delegacia que fui eu que fiz isso aqui, porra”
Na transcrição de Ricardo Molina (que usa 1 no lugar de H1), o mesmo trecho ficou assim:
1 – isso aqui, sabe o que vai ter que acontecer?… já tou me movimentando com o advogado, por que essa mulher, com certeza, vai falar na delegacia que fui eu que fiz isso aqui, porra…
As divergências entre as duas perícias tem sido usada pela defesa de Gláucio Alencar. Mas os dados, independente de quem os transcreveu, deixam claro duas coisas:
a- Júnior Bolinha fala claramente de um assassinato que ele tinha total conhecimento e revela a Gláucio que outra vítima escapou por não estar no local.
b – Gláucio Alencar sabia que este alguém – que a polícia indica como sendo Fábio Brasil – seria executado, mas nada fez para impedir o crime.
É o que consta dos documentos…