Brasileiros precisam enfrentar centenas de
quilômetros, toda semana, para fazer hemodiálise. É um tratamento essencial
para quem tem problemas renais.
Nem clareou e seu Pedro já está de pé. Preparado
para mais um dia longo.
“A gente levanta 4 horas, toma um banho e fica
sentado aqui esperando”, disse o aposentado Pedro Rodrigues.
Repórter: Já são quantos anos que o
senhor faz isso?
Pedro: Quatro anos. Quatro anos completos já.
Logo depois das 5h, ele pega o micro-ônibus, que já
está quase lotado. São pacientes que precisam de hemodiálise, mas não têm o
tratamento na cidade. Três vezes por semana, eles fazem o trajeto de Chapadinha
até São Luís: 250 quilômetros para chegar ao hospital.
“A gente só vem porque é a saúde da gente. Mas,
muito cansado”, disse a aposentada Maria Gomes.
Depois de cinco horas de viagem, finalmente os
pacientes chegam até a clínica onde fazem hemodiálise em São Luís, já cansados
num dia que está apenas começando.
O almoço é ali mesmo, quando se tem dinheiro. “Tem
que ter o dinheiro para comprar. Se não tiver, pode fazer sem comer, mas fica
passando o baque”, afirmou Pedro.
Depois, são quatro horas nas máquinas que filtram o
sangue, fazendo a função dos rins. Procedimento agressivo que os pacientes têm
de fazer dia sim, dia não.
Repórter: O ideal era que os pacientes
tivessem um repouso depois da sessão de hemodiálise?
Alex do Vale, médico: Com certeza. Em torno de pelo menos de 12 a 18
horas. Porém, muitas das vezes o paciente não tem esse repouso adequado.
O Maranhão tem 12 centros de hemodiálise que ficam
na capital e em outras cinco cidades do interior. Os outros 211 municípios não
têm equipamentos para o tratamento.
Às 16h, os pacientes saem da sessão bastante
abatidos, e já têm que encarar mais cinco horas de viagem de volta. O cansaço
castiga.
“Vocês que vieram hoje nessa viagem já estão
cansados, imagine nós que estamos há quatro anos“, diz a lavradora Osmarina
Nunes.
Na parada para o jantar, outras histórias se
cruzam. A Maria dos Milagres tem seis anos e há três enfrenta essa luta.
“Ela acorda 4h, quando ela tá na máquina que ela
dorme. Ela sente dor de cabeça quando está na máquina. É uma guerreira”, contou
a dona de casa Dulcineide Conceição.
As 17 horas entre viagem e tratamento fazem que
algumas pessoas mal consigam se segurar quando chegam em casa. É a rotina da
aposentada Ana Alves há 17 anos. “Muito difícil mesmo. Só vai porque é preciso.
Ou vai ou se acaba logo.”
Seu Pedro também está de volta. Vai descansar por
um dia. No outro, começa tudo de novo.
Repórter: O senhor acordou às 4h da
manhã. Agora são 10 horas da noite. Como é que chega o senhor a essa hora?
Pedro: Cansado demais.
Repórter: O dia não foi fácil, né?
Pedro: Foi não. Dia de arrocho mesmo.
O governo do Maranhão anunciou que vai construir
uma unidade de hemodiálise na cidade de Chapadinha e em mais cinco municípios.
Mas o overno não informou um prazo para entregar essas unidades