segunda-feira, 14 de junho de 2021

JOAOZINHO RIBEIRO E = A CULTURA MARANHENSE NA PANDEMIA

 

Joãozinho Ribeiro é um poeta e compositor maranhense, de São Luís, nascido no velho bairro da Coreia, na Travessa 21 de Abril, 66 anos, filho de Maria Amália e João Situba – ela operária de fábrica; ele vendedor de frutas nos mercados e feiras da cidade – que compartilha há três décadas a sua existência com a sua outra parte, Rose Teixeira, seu Amor Maior; apaixonado pelos seus irmãos Graça e Sebastião; um guerrilheiro sonhando com a Cultura da Paz e com o Reencantamento do Mundo; intransigente na defesa das liberdades democráticas e da justiça social; fechado com a ideia de que o dever de todo artista é salvar o sonho!

Jornal Pequeno – Como tem sido a sua agenda de trabalho de nestes tempos de pandemia?

Joãozinho Ribeiro – Na verdade, não tem sido bem uma agenda, mas sim um diário permanente e ambulante, onde as anotações são feitas de perdas, de possibilidades de invenções do futuro, de confrontos e conflitos de todos os gêneros no presente; de enfrentamentos múltiplos, de medos, temores e revelações fascinantes e aterrorizantes do passado… de grandes decepções e tristezas no dia a dia, e também de muitas produções criativas, leituras, reflexões e realizações.

É justamente neste plano existencial multifacetado, que consigo viver e sobreviver, escutando cores e enxergando canções! Ou, como revela um verso de uma parceria (“Risco de Samba”), feito um pouquinho antes da pandemia, com o cantor e compositor Zeca Baleiro: “É como se fosse um parto / Realizado no quarto / Da casa do coração”.

JP – Como foi a produção em 2020, ano em que a cultura passou a ser duramente afetada pelo coronavírus?

Joãozinho Ribeiro – Iniciamos 2020 com o lançamento de dois frevos nas plataformas digitais (“Chega de Sofrência” e “Frevo Desaforado”); depois, tivemos a participação na exposição “Cenas de rua e outras interações poéticas”, em parceria com o fotógrafo Marcellus Ribeiro. Em junho, o lançamento do single e do clipe “Amor Maior”, interpretado pela cantora Rita Benneditto e arranjos do maestro Zé Américo Bastos; em outubro, lançamento do single “Ser o Mano”, interpretado pelo músico George Gomes; em novembro, um show/live gravado no Teatro João do Vale, intitulado “Choros, Sambas e Canções”, integrando o projeto Pátio Aberto do Centro Cultural Vale, com a direção musical de Luiz Júnior Maranhão.

Tudo isso acompanhado de uma intensa participação em lives, entrevistas, resenhas, apresentações e comentários de livros e CDs, e de uma produção literária e musical, que resultou em mais de duas dezenas de canções, um livro inédito de poesia: “Versos de 40Tena”, e a finalização de outro – “Do ofício de viver e outros vícios”.

JP – Quais os planos do poeta, cantor e compositor para os próximos meses e para a fase pós-pandemia?

Joãozinho Ribeiro – Em princípio, continuar vivo… rsrsrs! 2021 já iniciou com a pandemia no auge, e com a suspensão do carnaval. Ainda assim, com a parceria do irmãozinho Zeca Baleiro, fizemos o frevo “Cadê meu carnaval?”, que teve mais de 50 mil acessos na internet. Em março, fizemos a produção do clipe com a música de minha autoria “Com o Afeto das Canções”, interpretada pela dupla Rita Benneditto e Zeca Baleiro, arranjos do maestro Zé Américo Bastos, e direção da cineasta maranhense Thaís Lima.

Na semana passada, postamos no youtube o choro inédito “Trevas à Vista”, gravado no estúdio Zabumba Records, com arranjos e direção musical do maestro Arlindo Pipiu, interpretado pelo cantor Marconi Rezende. Ainda neste mês de junho, pretendemos lançar nas plataformas de música mais três criaçõeslítero-musicais inéditas: “Agora, só para o ano”, “Sanfona Solidária” (em parceria com o músico Rui Mário) e “Caminho Grande” (com o cantor e compositor Josias Sobrinho).

A poetisa e cantora Elisa Lago também nos presenteou este mês com a gravação e lançamento da música “Mar, nem tanto”, outra parceria minha com Zeca Baleiro.

Este ano, completa 15 anos da publicação do meu único livro de poesias “Paisagem Feita de Tempo” (edição totalmente esgotada), e 45 da publicação do “Poema Sujo” (Ferreira Gullar). Estamos organizando um evento para outubro, juntamente com os Professores e doutores Silvana Pantoja (MA), Valmir de Souza (SP) e o poeta Hamilton Faria (PR). Também estamos envolvidos, neste mesmo mês, com a realização da I Semana Cultural Samuel Barrêto.

Em dezembro, seja presencial ou virtual, um show no Teatro Arthur Azevedo, mais precisamente no dia 10 – Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos – intitulado “Com o Afeto das Canções”, contando com as participações especiais de Rita Benneditto, Zeca Baleiro e do maestro Zé Américo Bastos. Este show tem como objetivo maior apresentar ao público toda safra de composições novas e inéditas, criadas nos últimos dois anos.

Para a fase pós-pandemia, prefiro me reservar o direito de permanecer na trincheira de salvamento dos sonhos e na luta intransigente pela construção de uma sociedade mais justa, livre, solidária, criativa, encharcada de humanidades.

JP – Qual a sua avaliação sobre a forma de enfrentamento da pandemia que vem sendo adotada por parte do prefeito Eduardo Braide e do Governador Flávio Dino?

Joãozinho Ribeiro – Entendo que os dois governantes e suas respectivas equipes têm conduzido de forma responsável e equilibrada todo esse processo político e sanitário, que inclui adoção de medidas restritivas (nem sempre populares), vacinação para toda a população, além de valorização da ciência, do SUS e dos profissionais de saúde. Sinto-me bastante honrado e representado pelos dois gestores, em momento tão dolorido e delicado para a nossa população, principalmente aquela que se encontra em situação de profunda vulnerabilidade.

JP – E o que dizer da postura do presidente Bolsonaro diante deste grave desafio no País?

Joãozinho Ribeiro – Gostaria de emitir um simples “sem comentários”, porém estaria sendo traído pelos meus próprios versos que afirmam: “A claridade castiga / A omissão e amudez”. A coletânea de vídeos com imagens e pronunciamentos do genocida inominável já dizem tudo, e em breve constarão como documentos históricos, testemunhos de uma das maiores barbáries cometidas contra o povo brasileiro.

Os versos do poeta Pablo Milanes, em tradução livre do compositor Chico Buarque, retratam e representam com maior propriedade meu sentimento no presente, e no futuro, que sempre se apresenta e, implacavelmente, chega: “A história é um carro alegre / Cheio de um povo contente / Que atropela indiferente / Todo aquele que a negue”.

Os negacionistas passarão, assim como os fascistas que não suportam a alegria, e que se vacinaram contra o encantamento da humanidade! O genocida inominável representa, no momento, a opção pela barbárie e a desconstrução de todo o processo civilizatório e das conquistas humanas, fruto da luta de várias gerações.

“O futuro um dia chega / Com atraso e apressado / De passaporte vencido / Permanente e carimbado / Querendo carona na hora / Para alcançar o passado.”

Prefiro exercer meu direito de morrer pelas coisas que acredito, e de viver querendo acreditar!

JP – Por fim, qual a sua avaliação sobre o cenário que começa a se desenhar para a sucessão do governador Flávio Dino e do presidente Bolsonaro em 2022?

Joãozinho Ribeiro – O mal plantado no presente, fatalmente vai ser colhido no futuro! Isso vale também para a política e para o momento inusitado que estamos vivenciando, em todas as dimensões da vida. Temos tragédias sendo anunciadas a cada instante. No meio ambiente, na saúde, na área cultural, no campo das desigualdades econômicas e sociais, na segurança alimentar … Por outro lado, há esperança também sendo plantada e cultivada no Planeta!

Entendo ser urgente, e pra ontem, um ajuntamento – nem falo mais em aliança – de pessoas, partidos, movimentos e instituições, que tenham como objetivo comum a luta intransigente pela democracia e pelas liberdades, sem a necessidade de apresentação de passaporte ideológico. Nesta trincheira cabem liberais, religiosos, agnósticos, até mesmo conservadores, desde que defendam com sinceridade o estado democrático de direito e a vida, acima de tudo.

Considerando os riscos e as possibilidades reais de vitória da barbárie, penso que o papel de todo democrata e progressista é lutar para a derrubada deste projeto de extrema-direita neofascista, que estende seus tentáculos por todos os campos da vida social, propagando a violência, o discurso de ódio e a morte.

Flávio Dino está ciente disso tudo, e consciente do seu papel. Tem de exercê-lo, no plano local e nacional. Colherá como resultado os frutos com a qualidade das sementes que plantará. Para o bem ou para o mal. Só espero que seja a primeira.

Fonte - Jornal Pequeno

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