domingo, 28 de julho de 2024

COM A PALAVRA - HEI DE VENCER, MESMO SENDO UM PROFESSOR –POR JUNIOR PACÍFICO DI PAULA

Por Junior Pacífico Di Paula

HEI DE VENCER, MESMO SENDO UM PROFESSOR – 1

Junior Pacifico de Paula - Engenheiro - Empresário -

Ambientalista

Esta frase acima foi cunhada décadas atrás, figurava em outdoors e adesivos

nos veículos da época para demonstrar a indignação de uma classe que protestava

contra a falta de respeito, de investimento e, principalmente, de políticas públicas que

tratassem a educação como prioritária neste país.

Ao longo destes anos, tivemos algumas conquistas. O investimento em

educação, que não chegava a 2% do PIB, hoje já representa 4%. O Brasil passou de

1 milhão de universitários em 1970 para 8 milhões em 2023. Temos mais de 500

faculdades neste país e, o mais importante, 30% de toda massa de estudantes

universitários são oriundos das classes C e D. Graças à concorrência, o custo médio

das mensalidades caiu pela metade em uma década.

Porém, temos muitas distorções, senão vejamos: a maior parte dos recursos

públicos é investida nos cursos de nível superior, ao invés do ensino fundamental,

médio e técnico. Por falta de fiscalização rigorosa, boa parte dos recursos enviados

às prefeituras desaparece no ralo da corrupção. Consideramos como alfabetizados

adultos que mal desenham o próprio nome. De norte a sul deste país, temos salas de

aula em escolas que não oferecem o mínimo de conforto e segurança a alunos e

professores. Na maioria das escolas públicas, a faixa etária dos alunos não

corresponde ao ano que deveriam cursar. Falta merenda escolar. Mais de 50% dos

professores declaram que já sofreram agressões físicas ou morais. A evasão e

repetência são enormes.

A educação no Brasil tornou-se um grande negócio, tanto que vem atraindo

cada vez mais o interesse e o investimento de grandes fundos internacionais, que já

estão presentes na maioria dos grandes grupos educacionais do Brasil.

Os três maiores grupos educacionais já possuem individualmente mais de

500.000 estudantes e faturam cada um mais de 1 bilhão de reais por ano. Cumpre

destacar que o maior deles, o grupo KROTON, que com a compra da ANHANGUERA,

passou a ter mais de 1 milhão de alunos e tornou-se o maior grupo de ensino superior

do mundo, com faturamento de um bilhão de dólares por ano.

Assim sendo, nossos dirigentes precisam ouvir a sociedade, principalmente os

professores e os alunos. É crucial traçar e definir prioridades e planos de ação para

investir melhor no único setor que liberta o cidadão, que é a educação.

Para que investir tanto em universidades públicas, se a grande maioria dos

alunos vem das classes A e B e estudaram em excelentes escolas privadas?

Programas como o FIES, PROUNI e o crédito educativo inseriram nas escolas de

ensino superior privado apenas 10% das vagas.

Nesse sentido, é difícil entender como um preso no sistema carcerário pode

custar aos cofres públicos R$ 2.400,00 e um aluno da rede pública apenas R$ 700,00

por mês.

Dessa forma, precisamos nos espelhar na Coreia do Sul, onde a educação é

algo extremamente relevante e custa 8% do PIB anual. Lá, o profissional mais

admirado pela população é o professor. Vejamos alguns exemplos comparativos:

Nos anos 70, o Brasil e a Coreia do Sul tinham o mesmo número de analfabetos

adultos, cerca de 40% da população. É notável que o Brasil melhorou bastante; hoje

temos 7% de analfabetos adultos. No entanto, a Coreia do Sul tem 98% dos jovens

de 17 a 20 anos nas universidades, um índice sem paralelos no mundo.

Há duas décadas, o Brasil e a Coreia do Sul patenteavam nos Estados Unidos

cerca de vinte a trinta patentes industriais ao ano. Hoje, o Brasil patenteia algo em

torno de oitenta patentes por ano, enquanto a Coreia do Sul patenteia mais de 3.000.

A Coreia do Sul gasta por aluno matriculado em escolas públicas oito vezes

mais que o Brasil e tem hoje o melhor ensino do planeta.

Portanto, como conceber que um país que se diz a nona potência econômica

do mundo tenha um dos piores índices educacionais da América Latina?

É difícil para um país que elege para o Congresso Nacional diversos

parlamentares analfabetos, um país em que a sociedade não lê, em que as empresas

não investem em pesquisas, onde nos encontros das classes trabalhadoras se

discutem questões como o capitalismo selvagem e os ideais de Marx e Lenin, ao invés

de se falar em eficiência, produtividade, relações de trabalho e em educação. Não nos

sobra tempo para falarmos em educação; não sejamos hipócritas. É muito fácil nos

colocarmos como vítimas e tentarmos cobrir o sol com uma peneira, porém vejamos

o que todos nós estamos fazendo pela educação neste país.

O Brasil precisa de uma revolução, uma revolução das letras, do estudo, da

educação. Só assim seremos uma nação mais justa, digna e independente.

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