segunda-feira, 4 de agosto de 2025

OITO ANOS SEM LUIZ MELODIA

 


Um dos mais originais e irreverentes criadores da música brasileira, Luiz Melodia, morria no dia 4 de agosto de 2017, aos 66 anos de idade, em decorrência do agravamento de um mieloma múltiplo, um tipo raro de câncer que acomete a medula óssea.

Nascido em 1951, o garoto começou a prestar atenção ao mundo sonoro nos anos 1960. Uma bela época para ser adolescente: os grandes festivais, a Jovem Guarda, Beatles & Rolling Stones, James Brown e a soul music, Tropicália, música de protesto, tudo isso misturado à trilha sonora recorrente no morro do Estácio: o samba.

O jovem Luiz Carlos dos Santos poderia ter sido um sambista como seu pai, Oswaldo Melodia, morador do morro do São Carlos. Ou talvez um crooner de uma banda de soul-funk, com sua voz metálica e personalíssima. Mas o fogo da criação ardia no seu peito, e começou a aquecer a forja da composição. Letra e música, poesia e melodia. As primeiras canções já nasceram perfeitas, sem copiar ninguém. Diz a lenda que Wally Salomão e Torquato Neto ouviram o garoto e piraram. Indicaram para Gal Costa, que teve a perspicácia de lançar Pérola Negra no show A Todo Vapor, em 1972. A MPB nunca mais foi a mesma.

A música de Melodia era uma mistura de metais, couros, balanço, eletricidade e sentimento, mesclados de forma inédita. As letras? Ah, as letras… Como definir? Surrealista, tropicalista, concretista, muitos tentaram adjetivar. Melodia foi tudo isso, de forma transversal, e muito mais que isso. Criador de imagens fulgurantes, delineou a música urbana de um país que pretendia ser moderno, sem perder o contato com a tradição.

Pra completar, o cara era um intérprete fenomenal. Voz memorável, divisão perfeita, dicção claríssima. Quem cantou Zé Keti (Eu Sou o Samba) como ele? Quem mais interpretou Cazuza tão lindamente como em Codinome Beija-Flor? Respiração, vibratos, scats, tudo é perfeito.

Quando falamos dos compositores mais notáveis de sua geração, sempre lembramos dos tropicalistas, de Chico, Milton… Passou da hora de escalar junto com esse time brilhante Luiz Melodia. Porque poucos versos escritos na música brasileira tem a profundidade de “Mesmo se tudo juntar por aí/ em nós o só há de sempre existir”.

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