NOVEMBRO AZUL: a cor do silêncio
Foi declarado pela Organização Mundial da Saúde: NOVEMBRO é o mês da atenção global à saúde masculina. Bonito isso. Soa importante. Dá até aquele ar de que o mundo se importa.
Mas aí a gente olha os números e o encanto evapora: 95% das mortes no trabalho são de homens. 84% dos moradores de rua são homens. Quase 70% dos alcoólatras e suicidas são homens.
E o que o mundo faz diante disso? Pinta o mês de azul, grava uns vídeos simpáticos, e lembra o homem de “enfiar o dedo uma vez por ano”. Como se toda a saúde masculina coubesse num toque retal e num sorriso constrangido no consultório.
Ninguém fala da solidão. Ninguém fala do peso de não poder fraquejar, do silêncio engolido a seco, da dor escondida atrás de piadas. Homem que chora ainda é motivo de piada — e homem que morre, estatística.
NOVEMBRO AZUL podia ser o mês de olhar para dentro, de conversar sobre saúde emocional, de ensinar que pedir ajuda não é fraqueza. Mas não. O máximo que fazem é repetir o mesmo bordão de sempre: “previna-se, faça o exame”. Como se o problema fosse só um dedo.
No fim, o que falta ao NOVEMBRO AZUL é justamente o que mais falta aos homens: escuta, empatia e espaço pra existir sem precisar parecer invencível.
Paul Getty S Nascimento
poeta, compositor, cronista e membro da APL - Academia Pedreirense de Letras


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