EX-GERENTE DIZ TER FEITO ALERTA SOBRE PREJUÍZO EM REFINARIA
A
diretoria da Petrobrás foi avisada pela funcionária Venina Velosa da Fonseca de
que a construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, era
economicamente inviável. A afirmação foi feita por Venina em entrevista ao Broadcast, serviço de
tempo real da Agência Estado. O projeto de Abreu e Lima começou orçado em US$
2,5 bilhões e chegou a US$ 18,5 bilhões.
“Com o andamento do
projeto, ele se mostrou inviável. Isso foi tempestivamente informado para o
diretor (de Abastecimento, Paulo Roberto Costa,) e (constou) nos documentos de
aprovação (do projeto) para a diretoria”, disse Venina. Segundo ela, isso,
ocorreu em 2009.
Na época, a hoje
presidente da Petrobrás Graça Foster era diretora de Energia e Gás. Venina era
subordinada a Costa. Naquele ano, conforme reportagem do jornal Valor Econômico publicada
na semana retrasada, a ex-gerente enviou e-mails a Graça sobre problemas que
havia detectado na estatal. Nesta segunda, disse que fez “um resumo do problema
como um todo” ao tratar pessoalmente das irregularidades com Graça, informação
dada em entrevista exibida no
domingo pelo Fantástico, da TV Globo.
Em novembro de 2014,
Venina foi afastada do cargo de chefia de um escritório da Petrobrás em
Cingapura, sob a alegação de que burlou manuais de contratações e, com isso,
contribuiu para gerar prejuízos à empresa. O caso está sendo avaliado por uma
comissão interna, que ainda definirá se houve má-fé. Se esse for o veredito,
ela poderá ser exonerada.
A ex-gerente nega as
acusações. Além de argumentar que avisou à diretoria sobre os prejuízos que as
contratações previstas pelo então diretor de Serviços, Renato Duque, causaria à
petroleira, ela diz que compras não eram atribuição de sua gerência. Duque é
investigado na Operação Lava Jato.
“Eu não aprovo
contratação, eu não assino contrato, eu não negocio contrato, não indico quem
entra na licitação. Isso tudo é responsabilidade da área de Serviços”, afirmou.
Conselho. A defesa da ex-gerente, feita pelo advogado
Ubiratan Mattos, foi mais enfática em relação aos alertas feitos por Venina
sobre Abreu e Lima. Em e-mail enviado à reportagem após a entrevista por
telefone, ele ressalta que o projeto da refinaria e a informação de que era
prejudicial à petroleira foi apresentada também ao Conselho de Administração da
companhia, liderado na época pela então ministra Dilma Rousseff.
“Venina encaminhou a
proposição de aquisição (de equipamentos para a refinaria) por ordem do diretor
Paulo Roberto, baseada em uma estratégia elaborada pela área de materiais e
apresentada previamente à diretoria executiva e ao Conselho de Administração,
em reunião da qual Dilma participou”, disse Mattos.
O advogado de Venina
afirmou que poderá ir à Justiça para rebater acusações da Petrobrás contra a
funcionária afastada, como a de que ela era próxima de Costa. “Isso é de uma
baixeza sem tamanho.”
Venina negou qualquer
proximidade pessoal com Costa e que passou a apontar problemas ao ver o código
de ética da empresa ser burlado. “Enquanto o Paulo Roberto não demonstrou que
estava ferindo esse código de ética, havia uma convergência nos processos. A
partir do momento em que realmente tive evidência de que isso estava
acontecendo, eu agi, eu reportei, fiz tudo o que poderia ter feito”, disse.
A
presidente da Petrobrás, Graça Foster, afirmou que a ex-gerente da diretoria de
abastecimento da estatal, Venina Velosa da Fonseca, não fez denúncias de
irregularidades a ela nem por e-mail nem pessoalmente. A informação contradiz o que afirmou Venina neste
domingo ao programa Fantástico, da Rede Globo.
"Ela (Venina) nunca citou palavras simples como corrupção e conluio",
afirmou.
Graça respondeu às
acusações da funcionária em entrevista ao Jornal Nacional, também da Rede
Globo. Da mesma forma, a presidente da Petrobrás disse que, em nenhum momento,
denúncias de corrupção foram feitas à diretoria da empresa. "Ela (Venina)
não fez uma denúncia; poderia ter feito, mas não fez. Ela dizia tarde demais para
entrar em detalhes", disse Graça.
A presidente contou
ainda que, ao assumir o cargo, conversou pessoalmente com Venina, mas não sobre
denúncias. A conversa, segundo Graça, foi sobre a agenda do dia-a-dia da
empresa, sobre prazos e preços dos projetos. "Conversamos sobre custos de
projetos mais altos do que o previsto, prazos e atitudes que eu precisava tomar
para ir para outro caminho", afirmou a presidente da Petrobras.
Graça disse esperar
que Venina tenha os documentos que comprovem suas denúncias de existência de um
esquema de corrupção na petroleira. "Espero muito que ela tenha todos os
documentos. Vai ajudar muito a Petrobras e o Ministério Público Federal",
afirmou.
A presidente da
Petrobras elogiou Venina e o seu trabalho em Cingapura, onde esteve por dois
momentos. No primeiro momento, quando foi cursar uma pós-graduação, ainda era
aliada do ex-diretor Paulo Roberto Costa, delator da Operação Lava Jato da
Polícia Federal. No segundo, após um desentendimento com Costa, Venina teria
assumido a área de comercialização do escritório no país asiático.
Apesar do elogio
sobre a qualidade do trabalho de Venina na empresa, Graça disse que ela foi
afastada do cargo de chefia por ter cometido "não conformidades" de
procedimentos. Segundo a presidente da Petrobras, a funcionária está sendo
investigada pela auditoria interna por não ter seguido à risca os procedimentos
internos para inibir desvios de recursos na contratação de equipamentos e
serviços. De acordo com Graça, as investigações da auditoria demonstraram que
Venina não cumpriu regulamentos internos.
Ao fim da entrevista,
Graça fez ainda um apelo para que os funcionários da companhia que tiverem
informações de irregularidades em contratações recorram à ouvidoria da empresa.
Ela também pediu aos funcionários que "enfrentem a situação com
determinação".
A
presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira que não há motivos para
demitir a presidente da Petrobras, Graça Foster. Ela voltou a fazer uma defesa
contundente da funcionária, dizendo que há apenas denúncias sem provas e
confirmou que a presidente da Petrobras disse que se a exposição por que passa
devido às denúncias de corrupção na estatal causarem prejuízo ao governo e à
Petrobras, ela coloca o cargo à disposição.
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— Eu conheço a Graça,
sei da seriedade da Graça, da lisura da Graça. A Graça assumiu a direção da
Petrobras e mudou toda a diretoria. Abriu todas as investigações que estão em
curso. Não tenho nenhuma indicação de que falta credibilidade para a Graca
Foster — afirmou Dilma, em café da manhã com jornalistas no Palácio do
Planalto, reconhecendo que Graça Foster está sofrendo pressão:
— É uma situação
difícil para ela. Ela segura a pressão por conta dos compromissos com a
Petrobras. Cria-se um clima muito difícil para ela. Agora, por isso eu vou
tirá-la? Penalizar ela por algo que não é responsabilidade dela? —indagou.
A presidente disse
que não vai trocar a atual diretoria por não ver "nenhum indício de
irregularidade" no colegiado. Mas indicou que trocará o conselho de
administração.
— Eu não vejo nenhum
indício de irregularidade na atual diretoria da Petrobras. Quando não vejo
irregularidade eu não posso querer punir — informou.
Ela não precisou
quando fará essas mudanças, mas ressaltou que é preciso antes indicar o novo
ministro de Minas e Energia.
DILMA CONSULTARÁ MP
ANTES DE NOMEAR MINISTROS
Dilma disse ainda que
consultará o Ministério Público antes de nomear seu Ministério. Segundo a
presidente, ela quer saber antes se o candidato a ministro tem algo que pese
contra ele. O temor é sobre a próxima fase da operação Lava-Jato, que indicará
os políticos que tiveram envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
— Qualquer pessoa que
for indicar, vou consultar (o Ministério Público). Eu vou perguntar o seguinte:
Há alguma coisa contra fulano que me impeça de nomeá-lo? Só isso que eu vou
perguntar. Não quero saber o resto. Eu só quero saber isso.
A presidente informou
que pretende nomear quase todos os integrantes de sua nova equipe até o dia 29.
E que a forma pode ser em duas etapas ou em uma só. O segundo escalão do
governo só será formado, depois que todos os ministros estiverem escolhidos.
A
oposição aumentou nesta segunda-feira a cobrança para que a presidente Dilma
Rousseff afaste a presidente da Petrobras, Graça Foster, depois que, em
entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, Venina Velosa da Fonseca, ex-gerente
da empresa, afirmou que avisou Graça pessoalmente, e não só por e-mail, sobre
irregularidades em contratos. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves
(PSDB-MG), cobrou a substituição não só de Graça, mas de toda a diretoria da
Petrobras, para resgatar a credibilidade da empresa:
— Acho que a
presidente da Petrobras perdeu todas as condições de ficar a frente da empresa.
Cabe à presidente substituí-la e vai fazer isso no tempo. Talvez o estilo da
presidente seja esse de tentar até o último minuto manter aquilo que a meu ver
é impossível de ser mantido. Hoje não há capacidade da atual direção da
empresa, eu me refiro a toda ela, de garantir o resgate da credibilidade para
que a Petrobras estabeleça um novo portfólio de investimentos.
Outros integrantes do
PSDB e do DEM também reagiram duramente às declarações da presidente em
entrevista a setoristas do Planalto e classificaram como “inusitada” e
“bipolar” a sua decisão de consultar o Ministério Público antes de anunciar seu
novo Ministério.