É de dar
alegria o aquecido momento de publicação de livros de autores maranhenses e
sobre o Maranhão. Até mesmo surgiu e pegou uma livraria, a AMEI, que só
comercializa estes livros. Já escrevi sobre isso e sobre o serviço que vêm
prestando à produção cultural do Maranhão.
Sendo um
leitor compulsivo, tenho lido todos os livros que me chegaram às mãos, nesse
bendito boom editorial. Muito tem-me ajudado a encontrar essas publicações o
nosso Benedito Buzar, grande historiador e autor de alguns livros que hoje já
são clássicos. No conjunto de obras, uma grande quantidade de informações sobre
o Estado, em especial reflexões sobre a leitura de nossa História.
Como
exemplo, li agora um conjunto de estudos universitários sobre o Maranhão em
tempos de República: ensaios que abordam temas que vão da política até
religião. Notei certa sedução em alguns trabalhos de ser novidade e assimilar
contestações, preconceitos e pós-verdades, para usar uma palavra que está em
moda. Para exemplo, vejo a construção de teses sobre a fundação da cidade de
São Luís por franceses como sendo um movimento associado à burguesia, e o mesmo
sobre a consagração do Maranhão como Atenas brasileira, feita no século XIX,
quando no Maranhão nasceram e viveram grandes nomes da literatura brasileira,
como João Lisboa, Odorico Mendes, Gonçalves Dias, Sousândrade, Gomes de Sousa e
muitos outros.
Ora, nada
mais claro e óbvio do que a cidade ter sido fundada por franceses, embora não
seja uma cidade francesa, mas em tudo portuguesa, para orgulho de todos. Os
franceses fixaram o primeiro espaço da cidade e fizeram muito mais, o que
ultrapassa todas as outras fundações de cidade e marca o Estado do Maranhão:
deixaram dois livros fundamentais, o História da Missão dos Padres Capuchinhos
na Ilha do Maranhão, do Padre Claude d’Abeville e o Viagem ao Norte do Brasil
feita em 1613 e 1614, de outro capucho, Yves d’Évreux. Estes livros são fontes
primárias para o conhecimento dos costumes dos Tupinambás, seus ritos, suas crenças
e até de como eles viam e interpretavam o cosmo. O nome da cidade foi dado
pelos franceses, o do rei santo, em homenagem ao rei menino. E, sob o signo da
Cruz, deixaram para a eternidade, São Luís, em homenagem ao jovem rei da
França, Louis XIII, seu descendente. Era tão grande a importância que davam a
esse batismo que o Padre Abbeville diz que o rei o seria de três coroas:
França, Navarra e Maranhão. São livros que até hoje são objeto de estudos e
estão ligados às Histórias do Brasil e da América. Estas obras é que deram
renome à cidade, ao descrever toda a aventura de sua fundação, data,
cerimônias, feitos. Os franceses não deixaram a arquitetura, mas livros, e
estes são para sempre.
O povo
maranhense se orgulha da cultura maranhense. Nada mais justo do que de suas
origens. Mas a ideologia, num tempo em que já acabou no mundo, ainda é
utilizada. Era a tese do leninismo de destruir tudo, para em cima das ruínas
construir a revolução salvadora. Aqui foi o único lugar no mundo em que um
governo espalhou outdoors pelo país desmoralizando o Estado, dizendo “MARANHÃO,
ESTADO MAIS POBRE DO BRASIL”. Eu mesmo vi um em Brasília e fiquei indignado.
Além do
dano que causou e causa até hoje à imagem do Estado, é uma fake news. Atrás da
gente, há 11 Estados. Somos o 16º, à frente de Mato Grosso do Sul, localizado
no Centro-Sul.
Mas é ser
pra-frente fazer politicagem, destruir verdades e dizer que o Maranhão é o mais
pobre Estado do Brasil e que não somos a Atenas Brasileira, mas ‘apenas’. Nada
de ser fundada por franceses, mas pela oligarquia. Rendeu frutos essa mentira,
mas a consequência é que “deu no que deu”: a grande frustação que respira o
povo maranhense, enganado no conto do vigário.