Organizações de defesa dos
direitos homossexuais e órgãos públicos vão apresentar denúncia coletiva contra
declarações de candidato
Partidos,
organizações de defesa dos direitos dos homossexuais e também órgãos públicos
querem incriminar Levy Fidelix, candidato à Presidência da República pelo PRTB,
pelas declarações que fez durante o debate promovido pela TV Record, no domingo
à noite. A Ouvidoria de Direitos Humanos, ligada à Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência, vai apresentar hoje ao Ministério Público Federal
denúncia coletiva sob acusação de incitação ao ódio e discriminação por orientação
sexual e identidade de gênero.
“Tomamos
a decisão depois que 300 pessoas recorreram a nós, pedindo providências.
Organizamos um documento coletivo”, disse a coordenadora da Ouvidoria, Irina
Karla. Ela contou que o texto também será enviado à Secretaria de Justiça e
Defesa da Cidadania de São Paulo, Estado onde ocorreu o debate.
A
Comissão Especial de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
protocolou ontem na Procuradoria-Geral Eleitoral e no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) um pedido requerendo a cassação da candidatura de Fidelix. A
entidade pediu ainda direito de resposta.
O PSOL
e o PV anunciaram que também vão recorrer à Justiça, alegando que houve
incitação ao ódio. Em São Paulo, o Coletivo Feminista de Lésbicas e o Instituto
Edson Néris preparam ações na mesma direção. Outro grupo de ativistas começou a
organizar uma manifestação diante da casa do candidato, neste sábado. O
endereço está sendo divulgado pelas redes sociais.
Silêncio.
Procurado pelo Estado, o candidato do PRTB não quis se manifestar. No domingo,
na saída do debate, ao ser entrevistado por um repórter do site Terra, ele
sustentou as afirmações que havia feito. Mas não quis estender a polêmica.
Diante da insistência do repórter, disse: “Chega desse negócio que está me
enchendo o saco”.
Durante
o debate, a candidata Luciana Genro (PSOL) fez uma pergunta a Fidelix sobre
suas políticas para a defesa dos direitos da chamada comunidade LGBT, de
lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, no caso de ser eleito. Na resposta, o
candidato do PRTB associou a homossexualidade à pedofilia e a doenças mentais e
fez uma espécie de conclamação da maioria para o “enfrentamento” da minoria
sexual.
“Aparelho
excretor não reproduz”, disse Fidelix. “Como é que pode um pai de família, um
avô, ficar aqui escorado porque tem medo de perder voto? Prefiro não ter esses
votos, mas ser um pai, um avô que tem vergonha na cara, que instrua seu filho,
que instrua seu neto. Vamos acabar com essa historinha. Eu vi agora o santo
padre, o papa, expurgar - fez muito bem - do Vaticano um pedófilo.”
Mais à
frente, afirmou: “Então, gente, vamos ter coragem. Nós somos maioria, vamos
enfrentar essa minoria. Vamos enfrentá-los. Não tenha medo de dizer 'sou pai,
uma mãe, vovô', e o mais importante é que esses que têm esses problemas
realmente sejam atendidos no plano psicológico e afetivo, mas bem longe da
gente, bem longe mesmo porque aqui não dá.”
Omissão
e conivência. A resposta provocou imediata reação nas redes sociais. No debate,
nem Luciana Genro foi poupada. Afirmou-se que, em vez de dar uma resposta mais
firme ao candidato do PRTB, preferiu usar o tempo disponível para falar de seu
programa.
Ela
disse ao Estado que essa não é a questão principal. Para Luciana, o que ficou
evidente é que seu partido se destaca no debate por assumir abertamente a
defesa dos direitos dos homossexuais: “Todos os outros candidatos têm sido
omissos e coniventes com a homofobia”.
Após o
debate, Luciana e o candidato Eduardo Jorge (PV), foram os primeiros a postar
tuítes criticando Fidelix. Ontem, a Rede Sustentabilidade, liderada pela
candidata Marina Silva (PSB), condenou as declarações do candidato, afirmando
que ele se comportou de forma “homofóbica” e “segregacionista”.
A
polêmica facilitou um encontro entre militantes LGBT do PT e a presidente Dilma
Rousseff, candidata à reeleição. Os ativistas foram recebidos à noite, em Campo
Limpo, bairro da Zona Sul de São Paulo, minutos antes de um comício./ COLABOROU
DAIANE CARDOSO