Certa vez, quando ainda fazíamos
cultura em Bacabal, acho que era na administração Raimunda Loiola, montamos um grupo
independente, fundamos a Casa da Cultura e movimentamos a cidade. Foi como as estórias
que nossos velhos nos contavam. Começavam com “Era uma vez” e terminava com “...e
foram felizes para sempre”
Desculpe se faltar alguém,
mas eu, Paulo Campos, Abel Carvalho, Louremar Fernandes, Iremar da Silva Tomaz,
Jânio Chaves, Antônio Ailton, Zé Carlos (Irmão Carmelo), R. Cavalcante, Viana, Leila, Lourival da Cunha Souza, Carlos Balaio,
Kicil, Raimundinho, E João, Massoé..., resolvemos arregaçar as mangas e fazer a
primeira Feira Cultural Independente de Bacabal.
Com o pires na mão – como sempre
– nós artistas saímos mendigando ajuda e de grão em grão fomos enchendo o nosso
sonho de esperança, enchendo o nosso ego de alegria, levantando a nossa
auto-estima e fizemos acontecer a maior feira cultural já vista em Bacabal.
Convocamos todos os setores
culturais, poetas, cantores, repentistas, atores, artesãos, músicos, artistas plásticos,
talhadores, culinários e afins e combinamos o plano de ação. Foi um fim de semana e até a
luz da praça mandaram cortar. Vendo o quando sairia perdendo, quem mandou
cortar, mandou religar.
Ná época, a praça era
cercada por uma tela e nela expomos nossas poesias, eram muitas, muitos poetas anônimos
entraram no clima e foram três dias de muita cultura, cultura mesmo, todo mundo
vendeu o seu trabalho.
De tão grande que era a
feira, atraiu os políticos que se negaram a nos ajudar e quando menos se
esperava, chegou de São Luis, o hoje senador João Alberto Souza, que me chamou em particular e
me pediu um poema que escrevi intitulado de “Bacacaos”, que no seu fechamento
dizia: “..,.Bacabal, meu medo é que no futuro, nós tenhamos vergonha de ter-te como mãe”
O jornalista, blogueiro, assessor
de imprensa e poeta Abel Carvalho,
sempre nos disse: - “A poesia não é para
quem faz, é para quem lê”, e para minha tristeza e espanto, eu a fiz e
lendo agora, vejo que o futuro chegou, mas acho que não tenho mais medo, e em
verdade vos digo, estava escrito. E por mim.
No tempo da cultura, já com
a chegada da Rádio Mirante FM, na pessoa do seu diretor, Hidalgo Neto, foi
realizado um concurso de poesias, surgiu o Grupo Regional Os Lamas, nasceu o
Boi Bacaba, foi realizado o projeto Nossa Voz, fizemos homéricos carnavais, festivais de música, eram tantas e belas vozes que as
administrações ao longo de suas gestões, fizeram questão de calar, e, essas
mesmas vozes, já sem forças, roucas, embargadas, sussurram um último pedido de
socorro. Quem irá ouvi-las?
Bacabal vive, uma cultura de
cartas marcadas, para alguns que em busca de aventura, acharam fartura e
fizeram fortuna, uns se foram rindo da nossa cara, outros continuam fazendo
fortuna, ostentando e rindo de nós, e isso se estende para a política e para
outros setores. Muitos filhos da terra que poderiam contribuir substancialmente
na medicina, na engenharia, na arquitetura, no esporte, na economia, na educação, no
comércio, na politica e até mesmo na cultura, razão do nosso texto, foram
expulsos do seu próprio torrão, outros continuam sem vez e viraram esmoléis a correr o chapeu para receber as moedas da míseria e a pena dos que se dizem "culturais".
Uma frase minha, mas que é
incansavelmente repetida pelo advogado Dr. Bento Vieira, “...o espetáculo é pra
quem sente”, cabe agora a nossa falida cultura. Temos o espetáculo. Mas quem
sente? Bacabal deixa morrer seus filhos sem história e esse é o capítulo mais triste de toda essa história.
Ao próximo gestor municipal,
que olhe a nossa cultura com carinho, nossos velhos, que podem contar nossa
história, estão morrendo e levando todo esse legado para debaixo da terra.
Precisamos de uma cultura forte, de resgate, precisamos urgente de um arquivo de
memória, precisamos resgatar as nossas poesias, as nossas músicas, o nosso
folclore. Precisamos mostrar para os novos, a grande contribuição que os velhos
deram para fazer dessa cidade, uma das maiores do estado. Precisamos
diferenciar cultura de eventos.
A cultura de Bacabal tem
jeito, basta que a administração pública direcione um orçamento, ainda que seja
pequeno, mas pontual, dá pra dar uma alavancada. Se o próximo gestor não pensar
em Bacabal como uma cidade que no seu governo vai completar 100 anos,
continuaremos fazendo eventos e não cultura, e as fofas, os safadões, as
farras, os sacodes e tantos outros levarão
todo o nosso dinheiro, deixando os nossos artistas e a nossa cultura sentados debaixo
da ponte e contando as velhas estórias da dona Carochinha, aquelas que começam
com – Era uma vez... mas que terminam no cúmulo do antagonismo. – "...e viveram
infelizes para sempre".
“Porque
gado a gente marca
Fere,
tange, engorda e mata
Mas
com gente é diferente“
Geraldo Vandré