CIDADE
SITIADA
Carrego entre os
dentes
A
faca cega e enferrujada da história
Que
me contaram sobre as histórias
De
uma cidade
Que
nasceu em pencas como a banana,
Madurou
em cachos como o arroz
E
viajou em fardos como o algodão.
Cidade
que se prostituiu nas noites,
Nos
cabarés e prostíbulos
Da
Rua 28 de Julho,
No
Mufumbo, na Rua dos Prazeres,
No
Buraco do Tatu, na Rua Rui Barbosa,
Nas
Três Marias, na Rua Djalma Dutra,
No
Preto Oito, na Rua Luis Domingues.
Cidade
que acordava
Com
o barulho das usinas
E
com o cheiro de cuim e xerém.
Cidade
que se acalentava
Ao
som das sirenes das fábricas,
Ao
som do apito da Polar
E
de outras lanchas e batelões.
Trago
em minha cabeça
A
rodilha dos anos,
Um
velho chapéu de palha,
Amassado
e carcomido
Pelo
peso das lembranças
Dos
tabuleiros de quebra-queixo,
Das
tábuas de pirulito,
Das
bandejas de pão doce,
Das
bacias de cocada,
Dos
sacos de algodão doce,
Das
caixas de picolé,
Dos
carrinhos de sorvete,
Do
tambor de chegadinho cavaco chinês,
Da
maleta de Cuscuz Ideal.
Ainda
alimenta as lombrigas dos meus primeiros anos
A
doce lembrança do sabor
Do
Picolé Jeneve, do Refresco Topogigio
Do
refrigerante Grapette, Citrosuco
Do
Bombom São João, Pipper, Estramitte,
O
sabor caseiro do alfinim, do puxa-puxa,
Da
chupeta, da raspadinha, do suspiro,
Do
mingau de milho, da canjica,
Da
pamonha, do mungunzá.
Trago
em meu corpo
As
cicatrizes deixadas pelos cacos de vidro,
Pregos
enferrujados, pedras de baladeira,
Quedas
de árvores, topadas, esbarrões,
Arranhões
deixados pelo asfalto,
Pelo
cimento das calçadas,
Matos
espinhentos e arames farpados.
Ainda
está lá na beira do Rio Mearim
A
marca dos meus pés
Moldada
no barro da inocência.
Ouço
no fundo perdido da minha criancice
O
barulho das águas quando pulava de ponta,
Quando
jogava cangapé, virava pulitrica,
Tocava
borá, batia canapum ,
Passava
rasteira e dava cambita.
Tudo
está vivo, escondido n’algum lugar!!!
Na
velha casa onde eu nasci
E
que ainda se mantém de pé,
No
quintal carente de infância,
Debaixo
da ponte, nas praças,
Nos
bueiros e nas galerias.
No
Bêco da Bosta, nas ruas do Fio,
Do
Axixá, do Maxixe, da Ponta Fina,
Do
Tecelão, da Mangueira, da Bacabeira,
Do
Quebra Coco e da Salvação.
Procuro
sob a palha do arroz,
Sob
a borra de coco babaçu,
Sob
o rejeito do algodão,
Sob
o bagaço da cana
Das
inúmeras usinas.
Procuro
no escuro dos cinemas,
No
pátio dos colégios
Nos
jardins das praças,
Nos
barracões das escolas de samba.
Está
vivo
Procuro
e não acho esse passado bonito
Que
a vida fez questão de esconder
Mas
que ninguém foi capaz de procurar.
Bacabal Alves de Abreu Sousa Silva de
Mendonça e da Infância Perdida