JOÃO ABREU - TRÊS HOMICÍDIOS E UMA FUGA ESPETACULAR
Bacabal é um município brasileiro do interior do estado do Maranhão, Região Nordeste do país. Localizado a cerca de 240 km de distância da capital do Estado, São Luís. É o município-sede da Região de Planejamento do Mearim. Sua população é de cerca de 105 mil habitantes. Onde está localizada a Praça Nossa Senhora da Conceição, o coronel Lourenço da Silva estabeleceu, em 1876, uma fazenda para cultivo do arroz, algodão e mandioca, aproveitando o trabalho escravo. Sobrevindo a abolição da escravidão, a fazenda foi vendida para o Coronel Raimundo Alves de Abreu. A propriedade passou a ser conhecida como Sítio dos Abreu, que passou a comercializar com libertos e índios, cujas malocas se erguiam na atual localização do bairro Juçaral. Elevada à categoria de município em 17 de abril de 1920, desmembrada de São Luís Gonzaga, o nome da cidade teve origem devido à grande quantidade de palmeiras de bacaba ali existentes nos primórdios de sua colonização. João Abreu e Anita Lago casaram-se no dia 10 janeiro de 1925. Ela uma moça muito bonita de 19 anos de idade, mulata, sabia ler e escrever muito bem. João Abreu tinha 27 anos de idade e havia aprendido a ler e escrever com o seu pai, filho de escravos, Aduke Clementino Gomes. Antes de morrer ele doou para João Abreu 100 hectares de terra nos arredores do Sítio dos Abreu, onde ele passou a cultivar arroz, mandioca e a criar cabras, vacas e galinhas. Muito trabalhador, o jovem era visto como homem de respeito e bem-sucedido na região. No dia 1º de março de desse ano o casal, montado numa égua branca marchadeira, arreada com um cochonilho de lã vermelha, foram para uma festa de carnaval na cidade de São Luís Gonzaga. Era uma festa à fantasia. O baile era animado pela banda Os Batutas, uma versão do grupo de Pixinguinha que utilizava os instrumentos clarinete, saxofone, trombone e tambores. No auge da festa, por volta das 23 horas, Carlos Kalixto, filho de Júlio Kalixto Mascarenhas, um rico fazendeiro da região, teve a ideia de puxar a esposa de João Abreu para uma dança. Preocupada com a atitude de Kalixto, ela disse ao moço: não posso dançar com o senhor, sou casada e o meu marido está ali conversando com amigos, mas logo estará de volta. Respondeu Kalixto: eu não sou ciumento. Ela respondeu: não estou preocupada com o seu ciúme, minha preocupação é com a sua vida. O meu marido está armado de revólver. Por favor, procure uma moça solteira para você dançar. Kalixto não entendeu o recado da jovem mulher e insistiu: vamos, é apenas uma dança, deixe que eu resolvo com o seu marido. Aqui todos me respeitam porque eu sou um homem respeitador. Finalizou Anita: meu senhor, não insista, meu marido vem vindo aí! Nesse momento, João se aproximou e questionou: o que está acontecendo? A esposa, imediatamente, respondeu: não é nada, esse senhor apenas me perguntou de onde eu sou. Esse álibi foi o primeiro que veio à sua mente para evitar uma tragédia. Porém, ao finalizar a desculpa, Kalixto retrucou: fale a verdade, eu estava apenas convidando você para uma dança. Então, respondeu João Abreu: essa moça está acompanhada, ela é a minha mulher! Kalixto respondeu, debochadamente: ela é sua mulher? pois vejo que ela não tem bom gosto! - Prevendo o pior, Anita puxou João pelo braço e disse: vamos embora! Mas o marido disse: não vamos embora, vamos ficar, ele não é dono da festa. Essas palavras serviram de ofensa para Kalixto que, em ato contínuo, sacou de um revólver e desferiu um tiro no peito de João que caiu ao solo agonizando. No mesmo instante,
Anita tentou socorrer o marido, mas foi impedida por Peixoto e Vasconcelos, dois vaqueiros da fazenda do pai de kalixto que ali assistiam a tudo. Insatisfeito com o que fez, Kalixto puxou pelos braços de Anita e saiu arrastando-a sob o olhar atônito dos presentes, que queriam distância de Kalixto, por ser filho de Mascarenhas e ter fama de valente. Já do lado de fora da festa, ele rasgou a fantasia da moça e deu vários tapas no seu rosto, deixando-a caída no chão. Os dois vaqueiros ainda deram alguns chutes na jovem mulher. Kalixto e seus capangas pegaram seus cavalos e saíram do local para se refugiarem na fazenda da família. Dez dias depois do fato, Kalixto foi levado pelo pai fazendeiro à presença do delegado Antenor Valadão, onde foi ouvido e liberado. A lesão no peito de João Abreu atingiu o seu pulmão de raspão, mas nada que pudesse causar-lhe a morte. Anita fez o seu tratamento em casa. Três meses depois ambos estavam recuperados. No dia 21 de junho do mesmo ano, João Abreu seguiu montado a cavalo para São Luís Gonzaga, onde foi negociar a compra de um touro reprodutor com Melquiades. Era feriado municipal. Sabe-se que a cidade leva o nome de São Luís Gonzaga, em homenagem a um santo jesuíta do século XVI, ele é o padroeiro do município. Pois bem, João Abreu resolveu encostar na praça para tomar uma pinga e seguir viagem. Porém, estavam no bar Carlos Kalixto e seus companheiros inseparáveis, os vaqueiros Peixoto e Vasconcelos. Cadê tua mulher? Perguntou Kalixto para João Abreu. Ainda montado no cavalo, João reconheceu o seu agressor. Imediatamente ele puxou seu revólver, apontou para Kalixto e, vagarosamente, desceu do animal. Perguntou João Abreu: você é o Kalixto? Você é o homem que me baleou e agrediu a minha mulher alguns meses atrás? Kalixto pôs as mãos para o alto e disse: tu sabes com quem estás falando? Tu sabes o que vai acontecer contigo se usares essa arma contra mim? Com os olhos firmes em Kalixto, João falou aos gritos: te cala. O vaqueiro Valdemar, tentando apaziguar as coisas, falou: home, baixa essa arma, vamos conversar. Calado, seu covarde, falou João, já sei, tu deves ser o cara que ajudou esse vagabundo naquela noite! Vocês estão armados, estou vendo. Joguem as armas no chão. As pessoas que ali estavam, correram para dentro da igreja e para suas casas, a praça ficou vazia sob olhares distantes e curiosos. O padre ainda chegou a pedir: parem, filhos, respeitem a santa igreja. Afaste-se, padre, vá orar por nós, disse João Abreu em voz alta. As armas foram jogadas no chão. Deitem-se, falou João. Porém, Kalixto, ao invés de atender ao comando de João, pegou uma pistola que estava do lado esquerdo da cintura e tentou disparar contra ele. Porém, não conseguiu disparar, foi atingido na cabeça por um certeiro tiro do revólver de João. Os outros dois homens partiram para cima dele, mas foram baleados. Já sem munição, pois fizera seis disparos, ele montou no cavalo e saiu da cidade em disparada. Os três homens morreram ali mesmo. O delegado Valadão foi acionado e seguiu com quatro soldados para Bacabal à procura de João. O cerco foi feito e ele foi preso no dia 24 de março dentro de um lago no fundo da sua propriedade. Quinze vaqueiros da região, contratados por Mascarenhas, ajudaram na caçada. João foi posto no xadrez da delegacia de São Luis Gonzaga por volta das 17 horas, mas por volta das 3 horas da manhã do dia 25, vários homens fortemente armados invadiram a cadeia e fuzilaram vários presos. A cidade amanheceu em polvorosa. Quatro presos estavam gravemente feridos e um estava morto, mas João Abreu havia fugido da cela. Dizem que ele, naquela ocasião, conseguiu pegar Anita em Bacabal e fugir para o Ceará onde viveu o resto de seus dias sem ser preso e julgado pelo triplo homicídio. Há relatos de que São Luis Gonzaga o resgatou da cadeia. João Abreu prometeu ao santo levar o resto da vida protegendo e ajudando jovens estudantes cristãos.