Por José
Sarney
As minas
de ferro de Carajás determinaram uma guerra entre o Pará e Maranhão.
É que essas minas, das maiores do mundo, pela sua localização no interior do Pará,
não tinham como escoar sua enorme riqueza. Desencadeou-se uma guerra para
saber como viabilizar seu aproveitamento. O escoamento seria por via fluvial ou
terrestre — ferroviária?
O Pará
reivindicava a via fluvial, pois assim todas as receitas de sua exploração
seriam naquele estado. Acontece que ele, dos mais ricos do Brasil, não dispunha
de porto com o calado necessário para escoar tanto minério de ferro, além do
Rio Tocantins necessitar de uma barragem dotada de comportas, a serem
construídas em Tucuruí, sem o que o Rio não seria navegável.
Foi aí
que o Maranhão entrou na história oferecendo a solução ferroviária da
construção da Estrada de Ferro de Carajás até o Itaqui, porto que, tendo uma
das melhores localizações do mundo, poderia capacidade de receber graneleiros
de até 400.000 toneladas, o que acontece hoje.
Mas o
Pará não se conformava com essa solução. Numa dessas reuniões de bancadas com o
Presidente Médici, o Deputado Epílogo de Campos, paraense de grande
talento, disse ao Presidente:
— O
Pará tem direito, Presidente.
O
Presidente Médici respondeu:
— Direito
tem, o que não tem é Porto.
É que eu
já construirá o Porto do Itaqui com esse objetivo, sabendo que se tivéssemos o
porto em condições o viabilizaríamos, pois Carajás seria a grande fonte de
carga que sustentaria o Itaqui. Para isso lutei com todas as forças, tendo
o apoio decisivo do Ministro Andreazza, do Presidente da Vale, Eliezer Batista
e de Vicente Fialho, que o Ministro Cesar Cals, que tinha sido Presidente da
Cemar, nomeara presidente da Amazônia Mineração, companhia criada para
estruturar a presença da Vale nesta região.
Foi uma
guerra. Lutei e finalmente vencemos. O Maranhão conquistou Carajás. Fui ao
Pará, falei na Associação Comercial tentando fazer as pazes entre os dois estados.
Depois da minha conferência, em que eu dizia que o Maranhão salvara Carajás com
o Porto do Itaqui, o Fialho que fora ao banheiro, ouvira a conversa de dois
empresários paraenses:
— O
Sarney, com essa conversa, se não abrirmos os olhos, termina levando o Círio de
Belém para São Luís.
Injustiça,
ninguém mais admirador, amigo e desejoso do desenvolvimento do Pará do que eu.
Os tempos passaram. Hoje vê-se que o Pará muito lucrou juntando-se ao Maranhão,
promovendo um dos maiores polos de riqueza do Brasil.
Fico
feliz de ter contribuído para essa grande obra. Ajudei Carajás, o Maranhão, o
Pará e o Brasil. O Maranhão sem o Itaqui, que eu construí, e sem Carajás,
que viabilizei, não teria as perspectivas que hoje tem — terceiro porto do
Brasil.
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