domingo, 27 de outubro de 2013

SER BRANQUELO AGORA É COISA DÉMODÉ O NEGÓCIO É SER AFRO-DESCENDENTE















SER BRANQUELO AGORA É COISA DÉMODÉ
O NEGÓCIO É SER AFRO-DESCENDENTE

Enquanto o Brasil se organizava
Na intenção de se tornar grande nação
A mão de obra escrava em ascensão
Aos poucos seu espaço conquistava
A Princesa Isabel se apaixonava
Pelo negro José do Patrocínio
Expondo seu amor e seu fascínio
Causando inquietude em sua gente
Ser branquelo agora é coisa démodé
O negócio é ser afro-descendente.  

Tão gostoso como o matinal café
É o açúcar quando vira puxa-puxa
Brincadeiras infantis da linda Xuxa
Aos gols marcados pelo Rei Pelé
Os espirros provocados por rapé
A pureza transparente do azeite
A fervura que amarela o branco leite
Chocolate doce, amargo, frio ou quente
Ser branquelo agora é coisa démodé
O negócio é ser afro-descendente.

Bafafá, bate-boca, grande intriga
Esta frase já estereotipada
Que o negro quando não faz na entrada
Com certeza deixa tudo na saída
Uma loira quando passa exibida
Deixa o loiro fazendo escarcéu
Mas o negão que é de tirar o chapéu
É mais forte, é mais bonito e atraente
Ser branquelo agora é coisa démodé
O negócio é ser afro-descendente

Quando no céu o negro São Benedito
Revelou seus milagres a Santa Clara
São João tentou sorrir, ficou de cara
E deixou a causa pra Santo Expedito
São Jorge diante do Grande Conflito
Ordenou que o Bom Moisés abrisse o mar
Pra Jesus na fria areia se deitar
E ao sol bronzear-se calmamente
Ser branquelo agora é coisa démodé
O negócio é ser afro-descendente.

Para uns, isso foi grande derrota
Para outros, foi conquista e sucesso
Uma lei que aprovada no Congresso
Instituiu o sistema vil, de cota
Só que como uma balela, uma lorota
Tem clarinho que vive a se queimar
Pra na hora de fazer vestibular
Bem dizer que ser da raça é diferente
Ser branquelo agora é coisa démodé

O negócio é ser afro-descendente.

Do livro "Repente Urbano" de Zé Lopes

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