domingo, 12 de outubro de 2014

FERREIRA GULLAR É ELEITO “IMORTAL” NA ABL: UM EX-COMUNISTA QUE ABRIU OS OLHOS!



Por Rodrigo Constantino

O poeta Ferreira Gullar confirmou o favoritismo e foi eleito o novo “imortal” na Academia Brasileira de Letras. Mais um maranhense na ABL. só que “um pouco” melhor em literatura e com “um pouco” mais de dignidade que o outro, o do bigode, aquele que apoia Dilma.

Acompanho sempre as colunas de domingo de Gullar na Folha, e as aprecio bastante. Tornou-se um feroz crítico do lulopetismo, assim como da esquerda que “adora” Cuba à distância. A reviravolta de Gullar foi tão corajosa e impressionante que resolvi fechar o meu livro sobre o fenômeno com seu caso, para dar um toque de esperança ao leitor. Eis, portanto, em homenagem ao poeta, o epílogo de Esquerda Caviar:

Há luz no fim do túnel

Chegamos ao fim dessa obra. Espero ter fornecido base suficiente para que o leitor consiga identificar um típico membro da esquerda caviar e compreender melhor seus reais motivadores. As ideias que essas pessoas disseminam fazem muito mal ao nosso mundo.

Mas não queria terminar o livro com um tom pessimista. No começo, reconheci que vários ícones da esquerda caviar são casos perdidos. As razões que os levaram a esse lugar hipócrita podem ser fortes demais. Só que há saída para muitos. Quando a ignorância é o principal catalisador do fenômeno, então o conhecimento pode ser a solução.

É preciso coragem para reconhecer os erros do passado, claro. E nem todos conseguem. Acredito, porém, que um caso concreto possa manter as chamas da esperança acesas. Falo do poeta Ferreira Gullar, um comunista histórico.

Não é nada trivial admitir, para si mesmo e para os outros, que defendeu por tanto tempo coisas muito erradas. Isso significa, de alguma forma, sucatear algo do próprio passado, jogar na lata de lixo algum esforço, alguns sonhos que demandaram tanta energia por tanto tempo. Respeito, portanto, a coragem de Gullar para mudar, para assumir que seu sonho era, na verdade, um pesadelo. Que seu caso sirva de exemplo a outros.

Em uma entrevista à revista Dicta&Contradicta, em 2010, ele disse:

Um professor meu de economia política marxista lá em Moscou me disse o seguinte: “Você sabe quanto tempo levou para que em Paris houvesse, todo dia, às 8 da manhã, croissant para todo mundo, leite para todo mundo, pão para todo mundo, café para todo mundo, e tudo saindo na hora? Alguns séculos”. A revolução desmonta uma coisa que os séculos criaram. Agora, o Partido resolve, e não vai ter café, não vai ter pão, leite, nada. Resultado? Trinta anos de fome na União Soviética. Você desmonta a vida! E havia outra porção de erros: afirmavam que quem faz a riqueza é o trabalhador. Mentira! O trabalhador também faz isso, mas, se não existe um Henry Ford, não existe a fábrica de automóvel e não vai ter emprego para você. Nem todo mundo pode ser Bill Gates, nem todo mundo pode inventar uma coisa.

Em um artigo na Folha chamado “Conversa fiada”, em agosto de 2012, Gullar tece loas ao capitalismo e ao empreendedorismo. Comete alguns equívocos, mantendo uma esperança ainda ingênua na capacidade do Estado como regulador muito eficiente dos excessos do mercado (ignorando os riscos enormes dos excessos do governo). Mas, em linhas gerais, trata-se de um avanço incrível. Ele escreve coisas assim:

Sabe a razão pela qual a empresa estatal dificilmente alcança alto rendimento? Porque o dono dela – que é o povo – está ausente, não manda nela, não decide nada. Claro que não pode dar certo. Já a empresa privada, não. Quem manda nela é o dono, quem decide o que deve ser feito –quais salários pagar, que preço dar pela matéria-prima, por quanto vender o que produz –, tudo é decidido pelo dono. E mais que isso: é a grana dele que está investida ali. Se a empresa der lucro, ele ganha, fica mais rico e a amplia; se der prejuízo, ele perde, pode até ir à falência (…)

Não obstante, o PT sempre foi contra a privatização de empresas estatais, “et pour cause”. Lembram-se da privatização da telefonia? Os petistas foram para a rua denunciar o crime que o governo praticava contra o patrimônio público. Naquela época, telefone era um bem tão precioso que se declarava no Imposto de Renda. Hoje, graças àquele “crime”, todo mundo tem telefone, e a preço de banana. Mas o preconceito ideológico se mantém. Os governos petistas nada fizeram para resolver os graves problemas estruturais que comprometem a competitividade do produto brasileiro e impedem o crescimento econômico, já que teriam de recorrer à privatização de rodovias e ferrovias.

Ferreira Gullar não tem poupado críticas ao PT, principalmente no que tange à corrupção. Ao contrário de vários intelectuais de esquerda, que fazem um ensurdecedor e constrangedor silêncio sobre o assunto, Gullar mantém sua imparcialidade, e julga os atos, não seus autores. Essa postura é muito cara aos liberais, defensores do império das leis, ao contrário de boa parte da esquerda caviar, que age como patota, como máfia, que tem fidelidade aos seus membros, não a valores e princípios.

Gullar não quer saber da omertà mafiosa, desse código de silêncio abjeto que tomou conta da intelligentsia nacional desde que o PT chegou ao poder e os escândalos começaram a pipocar. Em agosto de 2012, em seu artigo “Só o chefe não sabia”, publicado na Folha, escreveu, sem poupar o ex-metalúrgico e ex-presidente Lula:

É evidente que Lula não podia ignorar o mensalão porque não se tratava de uma questão secundária de seu governo. Longe disso, o mensalão foi o procedimento encontrado para, com dinheiro público, às vezes, e com o uso da máquina pública, noutras vezes, comprar o apoio de partidos e os votos de seus representantes no Congresso. Não se tratava, portanto, de uma iniciativa secundária, tomada por figuras subalternas, sem o conhecimento do chefe do governo. Nada disso. Tratava-se, pelo contrário, de um procedimento de importância decisiva para a aprovação, pelo Congresso, de medidas vitais ao funcionamento do governo. Portanto, Lula não apenas sabia do mensalão como contava com o apoio dos mensaleiros para governar.

Algumas semanas depois, recarregou as armas e atirou novamente, escrevendo na Folha, em seu artigo “Piada de salão”:

Não por acaso, Lula – que reside num apartamento duplex de cobertura e veste ternos Armani – voltou a usar o mesmo vocabulário dos velhos tempos: “A burguesia não pode voltar ao poder”. Sim, não pode, porque agora quem nos governa é a classe operária, aquela que já chegou ao paraíso. Não tenho nenhum prazer em assistir a esse espetáculo degradante, quando políticos de prestígio popular, que durante algum tempo encarnaram a defesa da democracia e da justiça social em nosso país, são condenados por graves atentados à ética e aos interesses da nação. As condenações ocorreram porque não havia como o STF furtar-se às evidências: dinheiro público foi entregue ao PT, mediante empréstimos fictícios, que tornaram possível a compra de deputados para votarem com o governo. Tudo conforme a ética petista, antiburguesa.

Por fim, a entrevista concedida às páginas amarelas da revista Veja, em setembro de 2012, que alcançou enorme repercussão. Nela, Gullar coloca o dedo na ferida dos ícones da esquerda caviar dissecados nesse livro. Seguem alguns trechos:

O socialismo fracassou. Quando o Muro de Berlim caiu, minha visão já era bastante crítica. A derrocada do socialismo não se deu ao cabo de alguma grande guerra. O fracasso do sistema foi interno. (…)

O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas. É um criador, um indivíduo que faz coisas novas. A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária. A partir dessa miopia, tudo o mais deu errado para o campo socialista. (…)

Eu, de direita? Era só o que faltava. A questão é muito clara. Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é. Pensar isso a meu respeito não é honesto. Porque o que estou dizendo é que o socialismo acabou, estabeleceu ditaduras, não criou democracia em lugar algum e matou gente em quantidade. Isso tudo é verdade. Não estou inventando. (…)

Não posso defender um regime [o cubano] sob o qual eu não gostaria de viver. Não posso admirar um país do qual eu não possa sair na hora que quiser. Não dá para defender um regime em que não se possa publicar um livro sem pedir permissão ao governo. Apesar disso, há uma porção de intelectuais brasileiros que defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver lá de jeito nenhum. É difícil para as pessoas reconhecer que estavam erradas, que passaram a vida toda pregando uma coisa que nunca deu certo.

Concordemos com o poeta. É mesmo muito difícil. Mas não é impossível, como seu próprio exemplo comprova. Há luz no fim do túnel escuro da esquerda caviar, e não necessariamente é um trem vindo em nossa direção. Com alguma honestidade intelectual e com doses razoáveis de coragem, vários que estão hoje aprisionados nessas correntes ideológicas, por covardia, por medo, por vontade de agradar os incautos, por alienação ou por pura ignorância, conseguirão obter a própria liberdade e deixar o esquerdismo para trás.

Esse mal tem remédio. E espero ter feito minha parte com esse livro, para ajudar no processo de desintoxicação. Venha você também para o lado mais saudável, mais verdadeiro, mais sincero, mais endireitado e menos sinistro. Diga adeus à esquerda caviar!

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