domingo, 3 de novembro de 2024

DIAGNOSE- COLUNA DO DR. OTÁVIO PINHO FILHO- NOVEMBRO AZUL

O que é o Novembro Azul? 

Tudo começou em Melbourne, na Austrália. O ano era 2003. Dois amigos, Travis Garone e Luke Slattery, tomavam uma cerveja e discutiam assuntos alcoólicos, quando começaram a debater sobre bigodes e como eram um elemento interessante da moda, que estava em desuso e brincaram sobre como seria legal trazer a moda de volta.

Baseado na campanha de arrecadação de fundos para combate ao câncer de mama realizada pela mãe de um amigo em comum dos jovens amigos, eles decidiram criar sua própria campanha para promover a saúde masculina e combater o câncer de próstata. As regras eram simples: contribuir com dez dólares e deixar crescer o bigode durante o mês de novembro. Assim nasceu o Movember (união das palavras em inglês mustache, bigode, e november, novembro em inglês).

A ideia deu tão certo que de algumas poucas dezenas de dólares o Movember se tornou um movimento que já arrecadou mais de 900 milhões de dólares e se disseminou por inúmeros países. Em vários países, o Movember é mais do que uma simples campanha de conscientização. Há reuniões entre os homens com o cultivo de bigodes cheios, símbolo da campanha, onde são debatidos, além do câncer de próstata, outras doenças como o câncer de testículo, depressão masculina, saúde do homem e outras doenças.

No Brasil, o movimento Novembro Azul surgiu em 2014, criado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, com o objetivo de quebrar o preconceito masculino de ir ao médico e, quando necessário, fazer o exame de toque. O movimento obteve ampla divulgação. Vários pontos turísticos e edifícios são iluminados com cor azul e diversas ações são promovidas todos os anos para prevenir e diagnosticar precocemente o câncer de próstata.

O câncer de próstata  

O câncer de próstata é a neoplasia maligna mais comum em homens (excetuando os cânceres de pele). A estimativa para 2020 é que quase 70.000 homens serão diagnosticados com a doença e mais de 15.000 homens irão falecer por conta da doença no Brasil.

Os principais fatores de risco são história familiar e etnia. Ter um familiar de primeiro grau com câncer de próstata aumenta em duas vezes a chance de ter a doença, 2 familiares aumentam a chance de ter a doença em cinco vezes e 3 familiares com câncer de próstata aumentam em mais de onze vezes a chance de ter a doença. A etnia negra também está mais sujeita a doença e pacientes obesos também.

Diagnóstico do câncer de próstata 

O câncer de próstata é uma doença absolutamente assintomática em sua fase inicial. Apenas casos de doença avançada terão manifestação clínica, que podem se confundir com sintomas de hiperplasia prostática benigna (dificuldade para urinar, jato fraco e vontade frequente de urinar), dor óssea e fraturas patológicas.

A grande maioria dos casos de câncer de próstata é diagnosticada através de exames de rastreamento: dosagem do PSA (antígeno prostático específico) e toque retal. O PSA é uma proteína produzida pela próstata que fica com concentrações aumentadas em algumas condições, entre elas o câncer de próstata. O valor normal de referência do PSA varia de acordo com a idade. Quanto maior a idade, maior o intervalo aceito como normal. Valores alterados no PSA ou sinais de tumor maligno no toque retal levantam a suspeita para câncer de próstata.

A indicação da Sociedade Brasileira de Urologia é a realização anual do exame de dosagem do PSA e do exame de toque retal a partir dos 50 anos para a população em geral. Homens negros ou com história familiar deve iniciar o rastreamento a partir dos 45 anos.

É importante realizar a dosagem do PSA e o toque retal, pois se apenas colhemos o PSA, 20% dos tumores malignos não são detectados. Quando realizamos a dosagem do PSA associada ao toque retal, apenas 8% dos tumores não são identificados. Com o rastreamento, estima-se que a mortalidade específica por câncer de próstata tenha diminuído em torno de 30%, ainda que o assunto ainda tenha muita discussão se há ou não benefício no rastreamento do câncer de próstata.

Para confirmar o diagnóstico deve-se fazer a biópsia. Esta geralmente é realizada por via transretal, guiada por ultrassonografia em que são retirados múltiplos fragmentos microscópicos da glândula e submetidos à análise. Atualmente, também existe a possibilidade de realizar a biópsia por via transperineal, mas esta técnica ainda está se disseminando no país.

Outra ferramenta valiosa para avaliar o câncer de próstata é a ressonância nuclear magnética multiparamétrica. É um exame que está cada vez mais difundido no país. Com esta ferramenta é possível avaliar a próstata e áreas suspeitas para neoplasia maligna com maior precisão. Este exame não indica biópsia prostática e não deve ser solicitado rotineiramente para rastreamento, mas pacientes com indicação de biópsia se beneficiam em realizar este exame, pois aumentam as chances de encontrar tumores clinicamente significantes que irão ajudar no planejamento do tratamento.

Tratamento 

O tratamento do câncer de próstata depende do quão agressivo e quão disseminado é o tumor. Tumores muito iniciais e pouco agressivos podem apenas ser acompanhados e dificilmente o paciente terá algum problema por causa desse câncer. Esta modalidade de tratamento é chamada de vigilância ativa.

Pacientes com tumores muito avançados ou disseminados são submetidos a tratamentos sistêmicos, basicamente hormonioterapia e quimioterapia. A grande maioria dos tumores malignos de próstata dependem de testosterona para se desenvolver, ainda que a testosterona não seja a causa do câncer de próstata, sua presença promove o crescimento da doença. Logo, a hormonioterapia consiste em usar medicações ou realizar procedimentos cirúrgicos para suprimir a testosterona do organismo e, dessa forma, combater o câncer.

Tumores localizados, mas que são desenvolvidos a ponto de não ser possível a vigilância ativa, devem ser tratados através de radioterapia ou cirurgia. A ideia da radioterapia é destruir o tecido tumoral através de radiação, enquanto a cirurgia, chamada de prostatectomia radical, consiste na retirada completa da próstata, das vesículas seminais e reconstrução do trato urinário, restituindo a integridade do trato urinário.

O principal fator para se ter um bom resultado no tratamento é o diagnóstico precoce. As chances de cura em tumores iniciais são de mais de 90%. Sendo assim, em questão de saúde pública, não deve-se esperar um debate se o rastreamento é bom ou não, a melhor conduta é tratar o paciente no início da doença, antes que a cura se torne impossível.



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