O pistoleiro paraense Jhonatan de Sousa Silva, de 25 anos, afirmou, ontem, em seu depoimento à Justiça, que matou o empresário Fábio Brasil e o jornalista Décio Sá a mando de José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, réu apontado como principal intermediador nos dois crimes de homicídio. Na oitiva, prestada na data em que o matador completou um ano preso, o assassino confesso mudou boa parte de sua versão dada à Polícia Civil, sem ter certeza da participação de alguns acusados no caso, entre eles aqueles apontados como mandantes das mortes.
“É verdade que eu matei Décio Sá. Matei por dinheiro, pois estava precisando muito e não estava trabalhando. Quem me ofereceu o ‘serviço’ foi Júnior Bolinha. Ele me garantiu pagar R$ 100 mil, mas só me deu R$ 15 mil. Essa quantia eu recebi de Neguinho, que trabalhava no sítio dele e também recebeu R$ 5 mil. Na delegacia, cheguei a citar os nomes de algumas pessoas, mas fiz o ‘serviço’ para Júnior Bolinha e não sei se outra pessoa estava por trás dele nisso. Tudo foi acertado em algumas reuniões no sítio de Júnior Bolinha”, disse o matador.
Identidade - Neguinho foi a única das 13 pessoas indiciadas pela polícia judiciária do Maranhão que não pode ser denunciada pelo Ministério Público Estadual (MP), justamente por não ter sido descoberto, no inquérito, o nome verdadeiro do indiciado. Em depoimento, Jhonatan revelou a identidade do homem que lhe deu fuga, na noite em que matou Décio Sá. “Ele também é conhecido como Neguinho Barrão, mas o nome dele é Marcos Antonio de Sousa Santos”, disse o réu confesso.
“Foi ele [Neguinho] quem pilotou a moto para mim. Não quis revelar o nome dele nas investigações. Eu conheci ele em um bar, em Santa Inês, jogando sinuca [data em que matou duas pessoas e chegou a ser preso em flagrante, utilizando nome falso]. Lá, ele me revelou que vivia de pistolagem, na cidade de Marabá-PA, matando a mando da polícia de lá, mas veio fugido pro Maranhão porque matou uma pessoa ligada à polícia de lá. Aí as pessoas que estavam do lado dele [Neguinho] passaram a persegui-lo”, afirmou o assassino, inocentando desta acusação o réu Marcos Bruno Silva de Oliveira.
Nascido em 15 de fevereiro de 1988, na cidade de Xinguara, no estado do Pará, o jovem pistoleiro revelou ter chegado a São Luís quatro meses antes do crime, período em que ficou morando em uma casa no bairro Parque dos Nobres, identificada pela polícia como de propriedade da família de outro réu no processo, Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Bochecha. O imóvel, segundo Jhonatan Silva, foi alugado por Júnior Bolinha. “Foi Júnior Bolinha quem me deu as chaves da casa e era ele quem pagava o aluguel”, disse o assassino, que negou ter conhecido Bochecha.
Mandante - Perguntado se Júnior Bolinha teria lhe revelado seu interesse em matar o jornalista, o pistoleiro foi breve, mas tocou no ponto que envolve os réus apontados como mandantes do crime. “Júnior Bolinha só disse que Décio Sá falava demais e precisava ser ‘calado’. Quando matei Fábio Brasil, também foi por mando de Júnior Bolinha e, naquele tempo, ele me disse que o ‘serviço’ era para o Gláucio e o pai dele. Eu, sem conhecer eles, acreditei, e quando falei isso nas investigações sobre a morte de Décio, disse que eles eram os mandantes”, disse o homicida.
Ao longo das quase 3 horas em que prestou depoimento, Jhonatan Silva revelou ainda que citou a pessoa de “Capitão”, referindo-se ao ex-subcomandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Maranhão, capitão Fábio Aurélio Saraiva Silva, o Fábio Capita, como suposto fornecedor da arma do crime, porque estava com raiva de Júnior Bolinha. “Uma vez, Júnior Bolinha, bêbado, disse que era amigo desse tal de ‘Capitão’, e por isso citei ele no crime. Mas quem, na verdade, me forneceu a arma foi Neguinho, que trouxe a pistola do Pará e me vendeu por R$ 2.500,00”, contou.
Cutrim isento - Outra pessoa que também foi isenta pelo matador do seu depoimento à Polícia Civil foi o deputado estadual Raimundo Cutrim (PSD), citado como “principal mandante do crime”. “Uma vez, vi Júnior Bolinha falando ao celular com o Cutrim, mas o assunto era um serviço de uma areia. Vi que os dois eram muito próximos, e como a polícia já falava muito no nome do deputado, também fiz da mesma forma que fiz com o ‘Capitão’. Mas nunca vi nenhum deles e em nenhum momento Júnior Bolinha disse que a morte de Décio era para algum deles”, frisou Jhonatan Silva.
Antes de encerrar seu depoimento, o pistoleiro Jhonatan Silva confessou que pretendia matar Júnior Bolinha por ele não ter honrado com o compromisso de pagar o que lhe foi oferecido pelas mortes de Fábio Brasil e Décio Sá. Pai de três filhos pequenos, de mães diferentes, sendo o mais novo uma menina de apenas 7 meses, que só a conheceu ontem após as audiências, o matador disse que está disposto a mudar de vida. “Esse tempo todo que fiquei preso, me fez entender que essa vida [de pistoleiro] não compensa. Vi que quem sofre muito com isso são minha mãe, meus filhos, e toda a minha família. Acredito que todo mundo tem direito a uma segunda chance”, concluiu.
Em determinado momento da audiência com o matador Jhonatan Silva; o juiz Márcio Castro Brandão, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, e o promotor Luis Carlos Correa Duarte, da 1ª Promotoria do Tribunal do Júri, pediram ao réu que recordasse a dinâmica do crime cometido na noite do dia 23 de abril de 2012, no bar e restaurante Estrela do Mar, na Avenida Litorânea. Em resumo, Jhonatan Silva disse:
“Fui à Mirante, encontrei um flanelinha e perguntei a ele sobre a pessoa de Décio Sá. Ele disse que o conhecia, mas que ele ainda não havia chegado. Ele me disse que Décio saía por volta das 10h ou 10h30. Saí dali, dei uma volta por perto da Mirante, e depois retornei nesse horário. Esperei ele sair, segui até ele parar em um sinal, na Ponta d’Areia, mas não o matei ali porque havia uma viatura [da polícia] perto, parada. Ele seguiu em frente e eu perdi ele de vista, mas como já tinha fixado as características do carro dele, achei ele em seguida, ao avistar o veículo parado em frente ao bar. Isso depois de ter feito o retorno em frente ao Shopping do Automóvel e voltado pela praia. Foi assim que achei ele. Ninguém me avisou onde ele estava, nem nada. Entrei no bar, o reconheci, depois de andar na frente dele atirei seis vezes nele. Ele chegou a me ver, se assustou ao ver a arma e falou alguma coisa que eu não lembro. Depois, atravessei a avenida, subi na garupa da moto e, mais adiante, meu parceiro sugeriu que eu descesse pois uma viatura da Polícia Militar estava no encalço. Fugi pelas dunas e lá enterrei a pistola na areia. Dei a informação de que tinha jogado ela [a arma] do ferry-boat porque tinha a esperança de um dia voltar à duna e recuperar ela [a arma]. Desci pelo Clube do Jeep, passei pelo retorno do Quartel da PM, e fui a pé até a Curva do Noventa. Demorei uns 40 minutos, eu acho, para chegar lá. Peguei um táxi e fui para o sítio no Miritíua, em São José de Ribamar, onde fiquei escondido até o dia 5 de junho, quando fui preso”.