quarta-feira, 5 de junho de 2013

Júnior Bolinha nega participação na morte de Décio

O empresário José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, acusado de ser a pessoa que contratou o pistoleiro paraense Jhonatan de Sousa Silva para assassinar o jornalista Décio Sá, negou participação no crime em seu depoimento à Justiça, ontem, no Salão do Júri do Fórum Desembargador Sarney Costa, no bairro Calhau. Em sua oitiva, o réu também afirmou nunca ter enviado mensagens de celular a Gláucio Alencar Pontes Carvalho, propondo-lhe o assassinato do empresário Fábio Brasil, na cidade de Teresina, como denunciou o agiota [Gláucio], apontado como mandante da execução de Décio Sá.

Ao falar sobre os fatos apresentados no processo, Júnior Bolinha alegou inocência e disse que não seria ingênuo nem louco a ponto de cometer o crime que teve como vítima Fábio Brasil. Ao ser questionado sobre sua relação com o jornalista assassinado [ Décio Sá], afirmou nunca tê-lo conhecido antes e se mostrou indiferente à existência da vítima. “Décio Sá, para mim, não cheirava nem fedia. Ele postou uma coisa contra mim e atribuíram a essa publicação a minha perda da bandeira da Coca-Cola. Na verdade, perdi a concessão porque a Renosa cortou os contratos com os distribuidores”, afirmou o acusado.

De acordo com o réu, a questão de suposta “inimizade” com o jornalista, citada no inquérito policial como motivação para que o acusado tivesse interesse na morte de Décio Sá, teria relação com uma postagem sobre a compra de uma máquina (trator) roubada. Denunciado pelo jornalista de envolvimento com negociações de veículos ilegais, segundo as investigações, Júnior Bolinha teria perdido a concessão de distribuir bebidas na região de Santa Inês. “Só soube dessa postagem muito tempo depois, e assim que soube da situação da máquina tratei de desfazer o negócio, inclusive na Justiça”, garantiu.

Sobre a pessoa de Jhonatan Silva, Júnior Bolinha, disse que jamais o viu antes e usou a própria conduta que teve, após o crime, para alegar inocência. “Eu nunca conheci o Jhonatan. Dizer que eu fiz isso não tem lógica alguma, até porque ele foi preso 15 dias antes de mim. Então, se eu realmente tivesse alguma coisa com isso, o mais provável era que eu fugisse da cidade, do estado, e isso foi justamente o que eu nunca fiz. Acredito que ele tenha citado o meu nome por causa da minha amizade com o deputado estadual Raimundo Cutrim [PSD]”, cogitou o réu.

Questionado pelo juiz o porquê de o assassino ter envolvido o seu nome apenas pelo fato de ser amigo do parlamentar, uma vez que existem outras pessoas mais próximas ao deputado, o Júnior Bolinha réu disse não sabia explicar. “Contratar um pistoleiro para matar alguém e ficar devendo ao matador, e ao mesmo tempo ainda ficar na cidade onde eu nasci e me criei, onde tenho empresa, escritório e família, seria assinar meu próprio atestado de óbito”, afirmou , ao se defender das acusações de Gláucio Carvalho, que depôs um dia antes.

Proposta - Ainda sobre o parlamentar, que chegou a ser citado pelo assassino como “principal mandante do crime”, cuja liberação da investigação ainda é analisada pelo Poder Judiciário, Júnior Bolinha disse que recebeu proposta da comissão investigadora para envolver o nome do deputado no crime. “Eu disse que não podia fazer isso e eles me ameaçaram de me mandar para um presídio federal, com a desculpa de me acusar de envolvimento com uma organização criminosa na Bolívia. Não sei o porquê de tudo isso, mas como aprendi nesse tempo que fiquei preso, fui vítima de uma ‘laranjada’, isso sim”, disse.

“Eu nunca tratei das mortes de Décio Sá e de Fábio Brasil com ninguém. Eu soube que Fábio e Gláucio estavam em desentendimento, querendo se matar. Eu havia vendido um carro para Gláucio, antes das prisões, e fui cobrar ele a quantia de R$ 7 mil que ele ficou me devendo, e dei uma ‘pressãozinha’ nele, no escritório de Ronaldo Ribeiro [advogado réu]. Foi só isso. O que ele [ Gláucio] diz é um absurdo: que eu fui extorqui-lo pela morte de Fábio Brasil. Ele também diz que eu mandei mensagens de texto propondo isso a ele. Eu tenho o mesmo número de celular há mais de 20 anos e garanto que isso nunca existiu”, disse o réu.

Capitão – O segundo a depor foi o ex-subcomandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Maranhão, Fábio Aurélio Saraiva Silva, o Fábio Capita. Apontado como a pessoa que teria, supostamente, fornecido a arma utilizada na morte de Décio Sá, o oficial da PMMA falou sobre sua conduta dentro da corporação; sobre como funciona a cautela de armas no Comando Geral da PM, e disse não entender como seu nome pode ser citado pelo executor do crime, sem que este ao menos o tivesse conhecido antes dos fatos. “Acredito que meu nome tenha sido envolvido nesse crime, apenas porque ele citou o nome da pessoa de ‘capitão’ no depoimento dele”, disse o militar.

O PM, que já responde ao processo em liberdade, por determinação da própria Justiça, também trouxe à tona um fato que, segundo ele e seus advogados, já seria o bastante para que a manutenção de sua prisão ao longo de quase um ano não fosse necessária. “No dia 24 de abril de 2012, manhã seguinte ao crime, consta no relatório da Polícia Civil que Júnior Bolinha ligou para o meu celular, por volta das 6h. O curioso é que esta chamada não foi completada, mas, mesmo assim, na denúncia do MP consta que tivemos uma conversa”, lembrou o capitão da PM, que também já havia sido beneficiado pela Justiça do Piauí no processo que apura a morte do empresário Fábio Brasil.

Bolinha teve encontro com Teles

Antes de encerrar seu depoimento, Júnior Bolinha falou sobre um encontro que teria tido com o empresário Pedro Teles – bastante citado por Gláucio Carvalho como uma das pessoas “atacadas” por Décio Sá em suas publicações e que a Polícia Civil teria desprezado nas investigações. Perguntado se o réu manteve contato com o empresário antes da morte do jornalista, o acusado revelou que teria sido convidado pelo mesmo para um encontro, em um restaurante no bairro Renascença, e que na oportunidade Teles teria lhe pedido que falasse com uma das testemunhas de um júri de Barra do Corda, no qual o mesmo mais tarde viria a ser condenado a 21 anos de prisão, com direito de recorrer da sentença em liberdade

Décio Sá denunciou o júri como um “jogo de cartas marcadas”, em suas últimas postagens em seu blog (blogdodecio.com.br), uma vez que a maioria das testemunhas era próxima à família do empresário. “Nesse encontro, ele queria que eu conversasse com essa pessoa para ‘amenizar o lado dele’, e também pagar as despesas da viagem dessa pessoa até Barra do Corda”, revelou Júnior Bolinha. Por conta dessa informação trazida ao processo, o advogado Adriano Cunha, que faz a defesa de Gláucio Alencar e de seu pai, pediu que a Polícia Civil abra investigação sobre Pedro Teles, alegando ainda que o mesmo aparece em uma das escutas telefônicas em situação que necessita de uma averiguação mais específica. O juiz deferiu ao requerimento, mas lembrou que isso pode acontecer na 3ª fase do processo, sem que haja prejuízo à instrução.

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