"Pesquisa é pesquisa, eleição é eleição",
diriam os mais experientes políticos, acostumados com a imprevisibilidade das
urnas. Esta, que é uma das frases mais repetidas por candidatos à eleição,
parece se aplicar perfeitamente ao momento.
"A verdade é que as pesquisas de intenção de
voto acertam bem mais do que erram", diz Victor Trujillo, professor
de marketing eleitoral da ESPM. Segundo ele, embora haja uma sensação de que as
pesquisas erraram nos resultados das eleições em diversos estados, elas
precisam ser encaradas como uma sondagem do momento, e não como uma prévia do
resultado.
Para ele, parte da culpa desta expectativa gerada
pelas pesquisas de intenção de voto - e frustrada com os resultados - é da
mídia.
"Os resultados das eleições devem ensinar a
mídia que na divulgação das pesquisas é prudente dar igual importância para a
resposta estimulada e para a espontânea", afirma.
Quando as pesquisas são feitas há duas modalidades
de perguntas feitas aos entrevistados. Em uma, o eleitor deve dizer
espontaneamente em quem ele votaria se a eleição fosse realizada naquele dia.
Na outra, é apresentada ao eleitor uma lista com os candidatos que estão
concorrendo ao cargo e o eleitor deve escolher entre um deles - esta é a
chamada resposta estimulada.
Em geral, os veículos de comunicação dão destaque
para os resultados da pesquisa estimulada. "Os veículos repercutem a
resposta estimulada porque nela o índice de indecisos é menor. Isso tem maior
interesse jornalístico, porque parece retratar mais o resultado de uma
eleição", diz Trujillo.
No entanto, segundo ele, ao ignorar o número de
indecisos que aparecem em maior número nas respostas espontâneas, deixa-se de
considerar milhões de eleitores que ainda não decidiram seu voto.
Na pesquisa presidencial do Ibope da última
quinta-feira, isto é, a 3 dias das eleições, 17% dos entrevistados se disseram
indecisos na pesquisa espontânea. O número cai para 7% na resposta
estimulada.
"As pesquisas mostravam que uma parcela muito
grande dos eleitores estava ainda sem um candidato. Na pesquisa com respostas
estimulada, este eleitor acaba optando por um dos nomes, mas com pouca ou
nenhuma convicção", explica o professor que é especialista em pesquisas de
opinião.
Brancos, nulos e abstenções
Outro fator que pode ser responsável pela diferença
entre os dados das pesquisas e os das urnas é o número de votos brancos, nulos
e as abstenções. Nestas eleições presidenciais chegou quase a 10% o número
de votos brancos e nulos. As abstenções chegaram a quase 20%.
Segundo Trujillo, nas pesquisas, este eleitor fica
constrangido de dizer que não vai votar ou de que vai anular seu voto - e isto
também tira a precisão da pesquisa.
"20% deixaram para decidir na última hora, 20%
não compareceram para votar. Então, se a gente considerar que o Brasil tem 142
milhões de eleitores, que 115 milhões compareceram às urnas e que cerca de 23
milhões escolheram seus candidatos nos últimos dia, dá para entender porque as
pesquisas nunca vão acertar precisamente o resultado de uma eleição",
explica o professor.
"Para mim que trabalho com pesquisa há 23 anos
não há nenhuma supresa nisso. A pesquisa capta o momento, é uma sondagem da
opinião pública. É inaceitável que ela seja vendida como algo infalível e como
substitura da eleição", conclui.
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