terça-feira, 23 de dezembro de 2025

POESIA - ESTRANHO - POR ABEL CARVALHO

ESTRANHO


Talvez seja estranho abrir mão de uma boa herança

Dizer não a um grande amor

Beber rotineiramente as segundas

Amar os filhos, mas não criá-los

Sonhar sem mesmo conseguir dormir

Apagar em um só pensamento

Viver por um único objetivo

Sair por sair desconhecendo limites

Fazer poemas que falam a verdade

Grunhir em noite de lua cheia

Morrer com a lua nova

Cantar e declamar poemas

Querer fazer amor dez da manhã

Não pisar na areia

Detestar o sol

Achar que o mar azul não é belo

Muito menos o verde ou o cinza

Fugir de ti

De mim

E da vida

Conseguir fazer tudo isso sozinho

Mesmo sem construir nenhum ninho


Talvez seja estranho ser gente

Homem comum

Diferente

Sem fé

Sem tridente

Sem paz

Sem Céu ou Olimpo

Sem dores

Sem choro

Sem dia sem fim

Talvez seja estranho não pedir perdão

Não querer doação

Não comungar benção

Não aceitar ovação

Não seguir o coração


Talvez seja estranho seguir a razão

Te dar razão

Ouvir uma única canção

Repelir a devoção

Negar a criação

E te dizer por toda a vida

Não


Abel Carvalho

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