Apesar
da queda mais acentuada da popularidade da presidente Dilma Rousseff nos
últimos meses, os protestos desde domingo não cresceram significativamente em
tamanho – em geral, foram menores que os de 15 de março e semelhantes ou pouco
maiores que os de 12 de abril.
Ainda assim,
mobilizaram pela terceira vez no ano centenas de milhares de pessoas em cidades
de todo país.
Em São Paulo, o
instituto Datafolha calculou que 135 mil manifestantes estiveram no domingo na
Avenida Paulista – mais que no dia 12 de abril (100 mil), mas menos do que no
dia 15 de março (210 mil).
Na avaliação de
analistas e políticos ouvidos pela BBC Brasil, alguns acontecimentos da última
semana somados ao não crescimento significativo dos protestos contribuem para
aliviar um pouco a situação de estresse do governo federal.
No entanto, eles
notam que a conjuntura continua muito complicada e incerta para Dilma e que sua
evolução dependerá dos imprevisíveis desdobramentos da Operação Lava Jato e da
economia.
"Dilma e PT
ganharam tempo. Agora, qual a duração desse tempo? Só esses dois fatores,
operação Lava Jato e situação econômica, vão responder mais adiante. Se a
situação econômica se deteriorar mais e se a Lava Jato atingir de forma mais
dura o núcleo do governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, (a
possibilidade de impeachment) pode voltar com força", afirma o cientista
político Antonio Lavareda, professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Lavareda destaca
alguns fatores que contribuíram para um noticiário mais positivo para Dilma na
última semana. Dois processos contra a presidente, que podem resultar em um
pedido de impeachment ou na sua cassação, estão ainda sem data de julgamento.
O Tribunal de Contas
da União (TCU) resolveu dar mais tempo para o governo se defender sobre as
acusações de "pedaladas fiscais". Já o julgamento de uma ação sobre
supostas irregularidades nas contas eleitorais de Dilma pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) também foi adiado após o ministro Luiz Fuz pedir vista do
processo.
Na esfera política,
houve uma reaproximação entre o governo petista e o presidente do Senado, Renan
Calheiros, com o lançamento de um apanhado de propostas chamado de Agenda
Brasil – que, embora contenha pontos polêmicos, serviu para criar um
contraponto à agenda negativa do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha.
Além disso, movimentos sociais como CUT e trabalhadores rurais
estiveram com a presidente ao longo da semana passada e manifestaram apoio ao
governo.
"O conjunto
dessas coisas terminou por arrefecer o ânimo de ir para a rua, porque é como se
a sociedade visse diminuída as chances de conseguir o impeachment, que é o que
eles querem."
"Não vejo
grandes alterações (políticas) após os protestos de hoje. É óbvio que os
protestos fossem ainda maiores isso iria abalar bastante essa agenda positiva
criado pelo PMDB com a qual o governo se abraçou. Sua implementação será
difícil e poderá ter efeitos negativos e positivos (para o governo)",
acrescentou.
O cientista político
Paulo Baía, da UFRJ, considera que, mesmo que menores que em março, os
protestos foram expressivos, pois continuaram mobilizando um número grande de
pessoas, em muitas cidades.
"Vale destacar
que as pesquisas de opinião mostram uma avaliação muito baixa da presidente.
Dessa forma, os protestos acabam sendo a ressonância de algo maior",
destacou.
Na sua avaliação, o
fato de as pesquisas recentes mostrarem um amplo apoio ao impeachment (66%,
segundo levantamento do Instituto Datafolha do início do mês) mantém a
presidente em situação delicada. Por outro lado, contribui no sentido contrário
o fato do empresariado estar dando sinais de que não gosta dessa possibilidade,
devido à instabilidade que acarretaria.
"Os empresários
estão indicando que querem um acordo pela governabilidade, que pacifique a
economia", afirma.
Oportunidade?
Presente na
manifestação que ocorreu de manhã em Brasília, o senador Aloysio Nunes
(PSDB-SP) reconheceu a dificuldade de conseguir que seja votado e aprovado o
impeachment da presidente pelo Congresso Nacional. Ele é um dos que defendem
abertamente a medida dentro do PSDB, ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG).
"Acho que
existem hoje fatos com base jurídica suficientes para isso, as pedaladas
fiscais, os indícios cada vez maiores de utilização de dinheiro sujo na
campanha eleitoral. O problema é a solução política. Não há unidade política
entre aqueles que sustentam o governo e que poderiam promover uma alternativa,
que é o caso do PMDB", afirmou.
Já o senador Humberto
Costa (PT-PE) disse à BBC Brasil que acha que "a história está dando mais
uma oportunidade para a presidenta Dilma" e que "ela tem que
aproveitar isso".
Para o petista, a
população está compreendendo que não há base para a derrubada da presidente.
Ainda assim, ressaltou que o movimento deste domingo foi "forte" e
"demonstra uma insatisfação real com o governo".
"As pessoas já
começam a enxergar ou apoiar a ideia de que não é possível derrubar a
presidente da República, não há elementos para um processo de impeachment. E
por essa razão também as pessoas vão se mobilizando menos em torno desse
tema", disse.
"O governo
ganhou um pequeno fôlego para trabalhar bastante e tentar reverter esse quadro
de queda de popularidade", ressaltou, defendo que o Planalto reforce o
diálogo com o Congresso e os movimentos sociais.
Políticos
O protesto de ontem
foi marcado pela presença de políticos. Em São Paulo, o senador José Serra
(PSDB-SP) circulou, mas não chegou a discursar. Em Belo Horizonte, onde seis
mil protestaram de acordo com a Polícia Militar (um quarto dos manifestantes de
março), o senador Aécio Neves discursou de um dos carros de som.
"O Brasil
despertou. Temos um Brasil onde as pessoas lutam por seus direitos e não
aceitam mais tanta impunidade, tanta corrupção, tanta mentira e tanta
incompetência. Esse é o novo Brasil e é o povo na rua que vai tirar o Brasil da
crise", disse.
Para Baía, da UFRJ, o
fato de o PSDB ter convocado a população para comparecer ao protesto por meio
de inserções na televisão pode ter afastado algumas pessoas das manifestações
de domingo. Ele destaca que há um forte sentimento contra partidos e políticos
entre os manifestantes.
Já Lavareda acredita
que as convocações foram discretas e não tiveram efeito nem positivo nem
negativo na decisão das pessoas.
"Os políticos
comparecem menos porque acham que vão se beneficiar com isso e mais pelo temor
de serem cobrados por sua ausência."