sexta-feira, 19 de abril de 2013





TERRA DE ABUTRES

Tive meu corpo abatido
Em um matadouro clandestino,
Esquartejado,
Meus pedaços foram pendurados em ganchos
E expostos n’um açougue imundo
Sem os mínimos padrões de higiene
E fui vendido em quilos.

Os ossos descarnados
Foram parar n’uma usina de trituração
E só sobrou meu berro
Que de tão alto
E tão aterrorizante
Deixou no ar o medo
Que outros tantos de mim
Na fila do sacrifício
Se rebelaram
Quebraram a porteira
E escaparam
Deixando para trás
O cheiro de sangue e carne podre
E o pesadelo de ser mortal
Em terra de abutres.

Zé Lopes

Do livro “Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e daInfância Perdida”


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