“Numa
mulher não se bate nem com uma flor” — esse era o mantra da minha geração.
A mulher era o objeto maior da criação. Ninguém tem vida senão através de uma
mulher, a criatura mais adorável do mundo, nossa mãe.
O Novo
Testamento tem uma protagonista, ao lado de Jesus Cristo, que é Maria.
Nossa Senhora é a personagem essencial no nascimento e na morte de seu Filho.
Ao receber o anúncio do Anjo Gabriel, Maria responde com o mais belo dos hinos:
“A minha alma exalta o Senhor e o meu espírito se
alegra em Deus meu Salvador! Pois Ele contemplou sua serva humilde. Pois
desde agora e para sempre me considerarão bem-aventurada.” (Lc 1,47-48)
A imagem
mais desoladora que já houve é a da Mãe com Deus exangue em seus braços.
Assim, resolvi que a minha mensagem de Natal fosse uma exaltação Mariana. Não
podemos entender que o homem se volte, numa sequência iníqua, a cometer, de uma
maneira brutal e permanente, violência contra as mulheres. Que o Natal, cuja
figura principal é o Menino Jesus nascido de Maria, ícone da família, não
permita que aquela que ele criou para ser a companheira do homem, para que ele
não vivesse a solidão do mundo, se transforme em sua vítima, ensanguentada
e morta pela maldade do homem.
Nada mais
revoltante e ao mesmo tempo humilhante para os homens que a enxurrada de
notícias sobre agressões às mulheres, vítimas do ciúme, da dependência
familiar, do desajuste, do parceiro violento, do alcoolismo ou até mesmo de
formas doentias de desejo sexual, como masoquismo e sadismo — o encontro
de satisfação com a dor dos outros, perversão dos sentimentos cuja existência
está documentada desde a antiguidade.
O Natal é
a festa da família, da solidariedade, do amor, da exaltação da figura de Maria,
escolhida por Deus para ser o instrumento de Sua presença na Terra, para que
nós tenhamos a certeza de não estarmos sós, mas termos a presença de Jesus
Cristo ao nosso lado, para ouvir nossas preces, consolar nossos momentos de
angústia e dar-nos instantes de alegria.
O Natal
nos traz um momento de felicidade, instante de todos os homens, os anjos
cantando a mensagem de Deus: “Paz na terra aos homens de boa vontade.” (Lc
2,14)
Que neste
Natal juntemos as nossas preces pedindo a Deus pelas mulheres vítimas de
violência, para purificar o coração dos homens do pecado da violência e
ver na figura do Deus Menino, do nosso Cristinho, um símbolo de que nas
mulheres, nossas mães, mães de todos, Mãe de Deus, não se deve bater, como se
dizia na minha infância, “nem com uma flor”.
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