Pacientes no Maranhão com
doenças renais, precisam percorrer milhares de quilômetros
Pacientes que sofrem de doenças renais no interior
do Maranhão precisam percorrer milhares de quilômetros durante vários dias da
semana para ter acesso ao tratamento de hemodiálise em São Luís. Isso porque
atrasos em obras de centros de tratamento em alguns municípios maranhenses
impossibilitam que esses pacientes tenham acesso ao procedimento.
O aposentado Pedro Rodrigues, morador do município
de Chapadinha, a 245 km de São Luís, vive essa jornada cansativa há mais de
cinco anos. Pela necessidade do tratamento, o aposentado acorda às 4h da manhã
e percorre um trajeto de dez horas para fazer hemodiálise em São Luís. Segundo
ele há dias que a van que os leva para a capital não passa. “Hoje eu não sei,
mas eu estou aqui arrumado, esperando. Tem dia que eles nos deixam aqui”,
disse.
Nesse mesmo horário alguns pacientes no município
de Pinheiro, a 333 km de São Luís, já estão se preparando para enfrentar a
mesma jornada. Eles enfrentam, quase que diariamente, uma jornada de três horas
de viagem de carro do município até São Luís. Depois disso, os pacientes ainda
precisam enfrentar outra viagem com 1h30 de duração no Ferry Boat para chegar a
capital.
Alguns pacientes por dificuldade de locomoção, não
podem descer e ficam dentro do veículo com o ar condicionado desligado o tempo
todo. Na chegada em São Luís, os pacientes que já estão desgastados, ainda
precisam enfrentar mais três horas na máquina de hemodiálise. “Se a gente sai
cansada, a gente chega aqui muito pior. É muito difícil”, diz a paciente
Marilene de Jesus Corrêa, que enfrenta semanalmente a viagem de Pinheiro até
São Luís.
Centro de
hemodiálise está com as obras paradas em Chapadinha (MA)
Depois de passar o dia em viagens nas estradas do
interior do Maranhão e ainda passar pelo procedimento, os pacientes chegam em
casa exaustos e abatidos. Para o aposentado Raimundo Nonato Borges, essa é a
única forma de se manter vivo. “Você não descansa nada e no dia seguinte já tem
que voltar novamente. É uma maratona mesmo, mas a gente tem que lutar pela
vida”, afirma.
Os pacientes não precisavam passar por isso se
todos os sete centros de hemodiálise em construção em cidades do interior do
Maranhão estivessem prontos. Quase R$ 7 milhões de reais foram liberados para
as obras que estão inacabadas. Em Chapadinha, um centro está sendo construído
em um terreno atrás de um hospital. Ambos estão com as obras paradas e os
pacientes que precisam de atendimento, precisam se locomover de suas casas até
a capital maranhense para obter atendimento.
Para o médico nefrologista, Alex do Vale Costa, os
pacientes renais que passam por essa situação podem evoluir mais rápido ao
óbito. “Se nós temos uma alteração na filtração de sangue, pelo tempo que esses
pacientes às vezes têm que fazer essa viagem, nós temos um paciente que pode
evoluir mais rápido ao óbito. Então se diminui a expectativa de vida de um
paciente desse”, explicou.
Segundo Jane Carvalho Araújo, chefe da assessoria
jurídica da Secretaria de Estado de Saúde, o atraso nas obras ocorreu por conta
de uma revisão nos projetos, que deveriam seguir o padrão imposto pelo
Ministério da Saúde. “Os projetos eles tiveram que ser revistos e a obra paralisou
para adequar as normas do Ministério da Saúde, adequar às normas da Vigilância
Sanitária. E nós estamos inaugurando três dessas clínicas na grande São Luis
até o final do ano e nós vamos ofertar 111 novas vagas”, finalizou.