A notícia de que Donald Trump pediu pressa
para o FDA (Food and Drug
Administration), órgão que regula os medicamentos nos EUA, aprovar o uso da hidroxicloroquina para tratar a
covid-19 trouxe esperança para a luta contra a pandemia de coronavírus.
Usada contra malária, a droga é alvo de mais
de 20 pesquisas ao redor do mundo e tem se mostrado muito eficaz no combate à
covid-19. Em um recente estudo do Instituto Mediterrâneo de
Marselha, na França, por exemplo, o uso da hidroxicloroquina foi capaz de
eliminar o coronavírus do organismo de 70% dos pacientes após seis dias de
tratamento.
Embora os resultados preliminares estejam
entusiasmando médicos e a cloroquina tenha uma potente ação anti-inflamatória,
que pode ser útil nesse momento de crise, o fato é que o uso da substância
contra o coronavírus ainda não é seguro. Por isso os estudos devem avançar com
calma. Segundo especialistas, os resultados obtidos em
pesquisas utilizaram doses superiores às aprovadas para tratar a malária —que
sabemos ser seguras em curto e longo prazo.
O estudo francês, por exemplo, usou uma dose
de 600 mg por dia. Já algumas pesquisas chinesas trabalharam com essa mesma
dose duas vez ao dia. No tratamento da malária, o paciente geralmente utiliza
600 mg no primeiro dia e 450 mg em outros dois dias.
É preciso lembrar que os casos mais
graves de covid-19 são de pessoas mais idosas, que têm doenças cardíacas, entre
outras. Um dos efeitos colaterais importantes da cloroquina é justamente a
facilitação de arritmias cardíacas.. O
uso desse medicamento no momento não é ponderado, porque isso, eventualmente,
pode levar até ao aumento da morte dessas pessoas.
O que é a cloroquina
A cloroquina é um medicamento utilizado para
tratar malária há mais de 70 anos. Porém, em 1970, observou-se resistência ao
medicamento. Por isso, hoje ela é usada para somente um tipo de malária, a
vivax, mais comum no Brasil. O remédio está disponível em duas apresentações no
país: o sal de cloroquina (ou disfosfato de cloroquina) e a hidroxocloroquina,
que também é indicada para doenças reumatológicas como o lúpus e a artrite reumatóide.
Um dos
efeitos do remédio é modificar o PH de vesículas que estão no interior das
células. Isso prejudica a produção de partículas que um vírus precisa para se
multiplicar. Assim, ele acaba não se reproduzindo e a infecção é controlada.
Não corra para a farmácia
Por mais que o uso da cloroquina seja
promissor, as pessoas não devem promover uma corrida às farmácias para comprar
a substância. Como explicamos, seu uso ainda não é seguro e novas pesquisas
devem ser concluídas antes de pacientes com coronavírus usarem a substância em
seu tratamento.
Além disso, o disfosfato de cloroquina você
nem vai encontrar nas drogarias. Isso porque esse é um medicamento controlado
pelo Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária. Como se sabe
que outro parasita da malária já se tornou resistente à droga devido o uso
abusivo, é preciso dosar seu consumo. Já a hidroxicloroquina até é possível achar nas
farmácias. No entanto, ela é muito importante para tratar pacientes com artrite
reumatóide e se pessoas sem a doença começarem a usar sem indicação, vai faltar
medicação para quem realmente precisa.
Anvisa se pronuncia
Diante das notícias veiculadas sobre
medicamentos que contêm hidroxicloroquina e cloroquina para o tratamento da
Covid-19, a Anvisa esclarece que:
- Esses medicamentos são registrados
pela Agência para o tratamento da artrite, lúpus eritematoso, doenças
fotossensíveis e malária;
- Apesar de promissores, não existem
estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento
da Covid-19.
Portanto, não há recomendação da
Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como
forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus; e - a automedicação
pode representar um grave risco à sua saúde.
Por Dr. Otávio Pinho Filho
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