domingo, 22 de outubro de 2023

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO

O GOVERNANTE TEMIDO DE MAQUIAVEL


O filósofo italiano Nicolau Maquiavel é considerado o fundador do pensamento político moderno, porque desenvolveu a sua filosofia política em um quadro teórico completamente diferente do que tinha até então. A política antiga estava relacionada diretamente com a ética. Foi durante a idade média que foi acrescida a ética cristã. O bom governante seria aquele que possuísse as virtudes cristãs e que as implementasse no exercício do poder político. Maquiavel percebeu, porém, que havia uma grande distância entre a política ideal e a política real da sua época. Foi esse o motivo que o levou a escrever o livro O príncipe, com o propósito de tratar da política tal como ela é e como se dá. Em outras palavras, ele não pretendeu fazer uma teoria da política ideal, mas, ao contrário, compreender e esclarecer os princípios da política como ela realmente é. 

Ele se afastou da concepção romântica de política. Maquiavel centrou a sua reflexão na constatação de que o poder político tem como função regular a luta entre as classes sociais, conforme ele entendeu, eram, basicamente, duas classes: a classe dos poderosos e a classe do povo. As lutas e tensões entre essas duas classes sempre irão existir, é uma ilusão buscar o bem comum para todos. Sempre haverá uma ou outra classe insatisfeita. Mas aí vem uma pergunta: se a política não tem como objetivo o bem comum, qual seria o seu objetivo? Maquiavel respondeu: A POLÍTICA TEM COMO OBJETIVO A MANUTENÇÃO DO PODER. E, para manter o poder, o governante deve LUTAR COM TODAS AS ARMAS POSSÍVEIS, ficando atento às correlações de forças que se mostram a cada instante. Isso significa que a ação política não cabe nos limites do juízo moral. O governante deve fazer aquilo que, a cada momento, se mostra interessante para conservar o seu poder para administrar pessoas diferentes. Não se trata, portanto, de uma decisão moral, mas sim de uma decisão que atende à lógica do poder. É por isso que, para Maquiavel, OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS. Aí vem a pergunta: o governante deve ser temido ou amado? Seria melhor ele ser temido e amado ao mesmo tempo, mas como isso não é possível, é melhor ser temido, pois ninguém teme um governante amado. Em resumo, o que devemos reter do pensamento de Maquiavel? Devemos reter o fato de que ele inaugurou um novo patamar de reflexão política, que procura compreender e descrever a ação política como ela se dá realmente. Ele compreendeu que a política, no início da idade moderna, se desvinculou da esfera moral e da religião para viver numa esfera autônoma de poder para governar as pessoas diferentes, suas diferentes ideologias e modos de pensar. Na política, a frase "Os fins justificam os meios" sugere que, com o intuito de se alcançar determinado objetivo, seria aceitável tomar qualquer atitude. Trazendo a frase para o momento atual da democracia republicana brasileira, é algo a se refletir.

4 comentários:

  1. Traduzindo em miúdos. A Força vale mais que as atitudes.

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  2. Gostei da reflexão, bem oportuno para os nossos dias

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  3. Este texto apresenta de forma clara e objetiva o pensamento político de Nicolau Maquiavel, destacando sua importância para o desenvolvimento do pensamento político moderno. Além disso, ele é bem estruturado, dividindo a apresentação do pensamento de Maquiavel em tópicos que permitem ao leitor compreender melhor suas ideias. A abordagem crítica do autor também é um ponto positivo, pois apresenta o pensamento de Maquiavel de forma neutra e sem julgamentos de valor, permitindo que o leitor reflita sobre os temas apresentados e tire suas próprias conclusões. Por fim, o texto ainda faz uma conexão do pensamento de Maquiavel com o contexto político atual, o que torna a leitura ainda mais relevante e atual.

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