O
ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, preso
preventivamente desde 14 de janeiro deste ano, disse ao juiz Sérgio Moro, da
Operação Lava Jato, que 'não é garoto de Ipanema'.
Preso desde janeiro de 2015 por suspeita de
ter recebido US$ 30 milhões em propinas, Cerveró está sendo interrogado na Justiça Federal em Curitiba, base das investigações da Operação
Lava Jato.
Em um depoimento que durou cerca de 1h15, em
determinado momento, o magistrado perguntou a Cerveró o que ele possuía de
patrimônio. "O senhor bloqueou tudo, né?", disse Cerveró.
Segundo ele, antes de ser preso, estava
morando em uma casa em Itaipava, distrito da cidade de Petrópolis, na região
serrana do Rio. Itaipava é uma região conhecida por suas casas de alto padrão e
por ser refúgio de inverno da alta sociedade carioca.
"O que eu tenho hoje é a minha casa em
Itaipava, que eu estou morando em Itaipava, devido a essa exposição gigantesca
que eu fui vítima na imprensa, na mídia, em todas essas operações", disse.
"Depois de morar 45 anos em Ipanema, porque eu praticamente nasci e me
criei em Ipanema. Eu não chego a ser um garoto de Ipanema, mas morei 45 anos em
Ipanema."
Os US$ 40 milhões correspondem a uma suposta
propina repassada ao lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como
operador financeiro do PMDB no esquema de corrupção da Petrobrás, e a Cerveró.
Em petição à Justiça Federal, o lobista Julio Camargo, que denunciou o
envolvimento de Cerveró na contratação de navios sonda para a Petrobrás, em
2005 e em 2006, retificou para US$ 30 milhões o valor que o ex-diretor teria
embolsado em propinas.
"Eu tinha essa casa que eu comprei em
2002, tinha 3 apartamentos, que eu doei para o meu filho, para a minha filha e
para a minha neta, já não são meus", declarou Cerveró na audiência.
"Meu, hoje, tem a casa de Itaipava, um apartamento na (avenida) Visconde
de Pirajá (em Ipanema, zona sul do Rio) lá no final, um apartamento pequeno. E
tenho um apartamento em Copacabana (zona sul do Rio), onde reside minha sogra,
que eu sustento minha sogra. Mas com esse parco salário que o senhor deixou na
minha mão. O senhor bloqueou tudo", afirmou.
Durante o depoimento, o ex-diretor pediu que
o dinheiro fosse desbloqueado. Cerveró afirmou que nem ele e nem seus filhos ou
sua mulher têm bens, dinheiro ou offshores no exterior.
"Eu estou sem receita. Eu ganhava na
Petrobrás, é isso que o pessoal às vezes fica assustado, meu salário na
Petrobrás dava mais de R$ 110 mil por mês. E eu não era o maior salário, a
Graça chegava a R$ 150 mil, fora bônus, fora gratificações, isso tudo em março
de 2014, eu perdi", afirmou Cerveró.
"O meu salário hoje é a aposentadoria.
Eu estou aposentado desde 2011. É uma dificuldade. Meu filho quando vai lá
buscar, tem referência na Caixa Econômica, eles liberam, mas dá trabalho. De
uma renda que eu tinha de R$ 120, 130 mil, hoje eu tenho uma renda que deve dar
uns R$ 12 mil, R$ 15 mil."