A ARTE DE TER RAZÃO-
Schopenhauer
A arte de ter razão é pura e simplesmente isto: é a arte de ganhar uma discussão. A arte de ter razão é a arte de vencer um debate, de convencer uma plateia ou um grupo de pessoas ali por perto. A premissa aqui é bem clara: convença-se de uma vez por todas que quando as pessoas querem discutir ou debater, o interesses delas não é com a verdade; o promotor de justiça ao debater com o advogado no plenário do júri ou numa audiência de instrução, o interesse de ambos não é com a verdade, à moda Platão. Quando as pessoas discutem e debatem, o que elas querem é ganhar a discussão, o que elas querem é ter razão, e ter razão é simplesmente ganhar a discussão.
Quando as pessoas se põem a discutir e a debater, o que elas querem é vencer o outro. E aí você pergunta; mas quem vence o debate não é quem está com a verdade? não! Quem vence o debate é quem é mais astuto com as palavras.
Em geral os homens não sabem onde está a verdade, pois a verdade é relativa. Isto é a primeira conclusão. De modo geral, os homens não sabem onde está a verdade. E, portanto, o que eles querem mesmo numa discussão é vencer o seu oponente. Se você acredita que entrou num debate para encontrar a verdade, você já começou mal. Por que se fala isso? Porque a perspectiva do seu adversário não é essa. O seu adversário quer ganhar o debate, e para ganhar o debate não é fundamental estar com a verdade. O fundamental é ser astuto. Aliás, debater acreditando estar com a verdade seria uma espécie de incoerência estranha; porque se você debate para encontrar a verdade, como você poderia ter a verdade antes do debate? Se uma pessoa é denunciada por um promotor de justiça por crime de homicídio fútil, e você acredita nessa denúncia como uma verdade, então você tem que concordar com o promotor. Advogados não concordam com denúncias ministeriais.
Então, qual é a conclusão a que se quer chegar com o que foi dito acima? A conclusão, é que a maioria das pessoas adoram dar opiniões sobre tudo, e poucas pensam antes de dar opiniões. De modo geral, as pessoas falam antes de pensar, opinam antes de pensar, argumentam antes de pensar, e quando descobrem que estão erradas, elas não mudam de opinião. Elas não cedem, elas não se dobram em nome da verdade. Um exemplo é quando os promotores de justiça elaboram as suas denúncias baseadas apenas no relatório policial sem se debruçarem racional e minuciosamente nos autos do inquérito policial.
Assim, mesmo depois de descobrirem a verdade eles insistem. Como insistem? Usando falácias para ganhar o adversário. Muitas vezes ganham. Essa á a primeira ideia. Schopenhauer não está ensinando você a achar a verdade, ele vai ensinar você a ganhar um debate, usando meios lícitos ou ilícitos, não importa. O que você tem que fazer é ganhar o debate e ponto final. Os meios não importam, ganhe o debate.
Finalmente, você deve perceber que no debate o seu objetivo não é convencer a outra pessoa que está debatendo com você. Perceba que além de você e do seu contendor existem outras pessoas por ali ouvindo e julgando a sua performance: uma plateia, um juiz ou juízes, jurados, amigos etc.
Às vezes quando você está em debate nas reuniões de família você fica encolerizado quando uma ou outra pessoa adere à ideia do seu contendor. Passa a ideia de que você está errado, está blefando, etc. O alvo da sua argumentação são os outros e não o seu contendor. Convencer uma plateia é convencer um indivíduo. A plateia é a massa que importa. O seu objetivo é a retórica em direção à plateia. Observe bem para que plateia você está falando. Qual é o perfil da plateia? Então, ensina Schopenhauer: distorça a tese do seu adversário e depois ataque a distorção, e não a própria tese. O resto é com você.