Adeus, Augusto:
Augusto César Soares *
- Uma semana sem o nosso craque!
João Preto, o dono da bola e da PELADA no Campo do CONASA, exigia: o meu time é EU, o Augusto, o meu compadre Mario Lago Açú e mais 8 ai do meio de vocês...
Essa cena se repetia todas às tardes, durante pelo menos uns 3 anos consecutivos, lá no Campo do Ginásio/CONASA, propriedade dos Padres, hoje bairro São Francisco - Cohabinha, na década de 70; onde todos os dias, apartir das 3 horas da tarde, mais de 40 'peladeiros' se reuniam, pra dá início a maís uma tarde de lazer! Porquê o Augusto e Mário Lago Açú têm que está do seu lado? Perguntavam ao que "seu" João respondia: primeiro não gosto de perder; depois, eu adoro fazer gol - assim como o meu cumpadi Mário - e isso só acontece, a gente estando ao lado do Augusto que deixa a gente de cara pro gol!...Pronto! Tava explicado! Assim começava a despontar pra todos; a carreira de um dos maiores jogadores de futebol de Bacabal em todos os tempos!
Augusto nasceu em Bacabal no dia 7 de junho de 1960, no seio da tradicional família Soares, composta pelo casal Ruy e Guiomar. Além dele tinha os irmãos/primos/tios Renato; Remir ; Renan; Ramar; Renner, dentre outros. Ele iniciou os estudos com o Professor Juarez e fez o ginásio no Colégio Municipal. Depois estudou no Colégio Batista e concluiu o curso técnico em Contabilidade no Colégio Santa Rosa, onde conheceu Leliane - a Lili - com quem acabou se casando em 1980. Nessa época, Augusto já era muito conhecido como atleta de futebol, tendo em vista que ele sempre sangrava-se campeão e artilheiro em todos os torneios locais e da região. Iniciou no mais tradicional e disputado campeonato de futebol amador pra juvenil em Bacabal, era o do CAMPO DO RATO, com mais de 40 times e que era organizado pelo talentoso José Raimundo, o CHOCOLATE, e que se estendia por quase 6 meses de competição. Era uma das principais atrações da juventude sadia e sem maldades daqueles longíguos e inocentes anos e que vale a pena recordar....
Pois bem: durante várias vezes, Augusto reinou e tornou-se o artilheiro dessa competição, disputada descalço. Os troféus eram adquiridos em São Luís e o de artilheiro Zé Raimundo já mandava gravar o nome de Augusto antecipado, tamanha a certeza que tinha no talento do jovem goleador. Isso perdurou até surgir nomes como o de Pedão, Sinda, Eutimidio, Neto de Zanunes, Bala e Maza, tornando a disputa acirrada! O Campinho do Rato, era uma vitrine e produziu muitos talentos pro futebol de Bacabal! Acabou- se com a ida de Chocolate pra Salvador, onde foi estudar Engenharia Mecânica e com isso encerrava-se uma era DE OURO do nosso esporte! Vieram os jogos/disputas escolares e descobriu-se maís um talento de Augusto: Ele era exímio jogando futebol de salão, com seu VELHO tênis kichut. A seguinte pergunta: e com uma cachorra/ chuteira nos pés? Ele respondeu a essas expectativas, quando aos 16 anos disputou o campeonato amador pelo Flamenguinho da dupla Teodoro/Bolinha. O público acostumado com craques como Ferramenta; Betti; Rui; Domingo Pancho; Adonai do Socorro; Walter Correia; e depois com a geração de Bocudo; Luizão; Bujão; Pirrita; Paulinho; Carlos Longar; Melancia; Osmar Noleto; Bilisca; Lambal; Tucum; Jesus, Rato, Serginho , Corró, Mingo, Osmarino, Flaubert, Tadeu, Clécio e tantos outros - via agora desfilar uma nova geração de craques refinados - comandados por Augusto, Miguel, Nato, Sidega, Pituiba, Aulo, Waltinho, Espíndola, Eutimidio , Hidelbrando, Paraíba, Claudecir, Cinato, Rogério, Kleber, Duílio, Serginho, Renato e todos que brilharam Naquela década de OURO e que não volta mais!... Não por escassez de talentos - mas por falta de interesse dos atuais gestores da maldita política /herança hereditária (mistura explosiva de malfeitores portugueses- negros cativos e Índios Livres) com o roubo/ cobiça/maldade inseridos e aínda fluindo com intensidade e apetite nas nossas veias. "Quero mais é me arrumar" - esse é o lema! Deixa prá lá!! Mais, voltando àquela época, eis que surge em Bacabal, um empresário apaixonado por futebol - seu Geraldo do fumo Inconfujal - resolve fundar uma Empresa Clube, fundinho o fumo que representava com o Clube Ponte Preta. Queria formar a mais forte e competitiva equipe amadora da região do Mearim. Disse logo: Quero esse tal de Augusto no time. Pronto! Todos conheceram e se lembram desse timaço que fez história e dava gosto vê -lo em ação. Nessa época, Bacabal dispunha como opção pra adolescência/juventude, além dos esportes, festas nos clubes e festejos, 2 cinemas, 2 bibliotecas, Circos, espetáculo de lutas livres, Carnaval de rua, de clube e dos desfiles das escolas; Concursos variados como beleza - feiura - damas - dominó - miss, banhos de rios e igarapés, festivais de música, arraiás, expofeira, e tudo mais. Detalhe: NADA de roubos, brigas, crimes...eita tempos bons!! Pra absorver toda essa juventude sequiosa por empregos/ trabalhos, o comércio local composto por Armazém Paraíba, Casas Pernambucanas, alguns Frigoríficos, Lojas de Móveis, Mercado Central, algumas lojas de sapatos, confecções, o Mercado Informal, Padarias e Supermercados - todos se virando nos 30 - pra absorver essa demanda - após a extinção das grandes indústrias de arroz, açúcar, óleo, sabão e algodão; começaram a "pipocar" vários bancos privados no cenário de Bacabal; considerado uma potência do Agro, com fortíssimos Fazendeiros e Agricultores. O jovem que não conseguia se 'encaixar' era OBRIGADO a cair fora - foi o que aconteceu comigo - que mesmo antes de atingir a maioridade, me ARRANQUEI pra Brasília!..
E o que aconteceu com o nosso craque Augusto? Vamos Lá: Darlan Caldas, um dos jovens talentos administrativos de Bacabal - provou Isso administrando várias empresas privadas - assumiu a gerência do Banco Nacional. Astuto e amante do futebol; resolveu fazer do 'seu Banco' uma vitrine de craques. Começou dando oportunidade para jovens talentos. Nessa época foram contratados por ele os craques Flaubert, Mirim ( cunhado de Augusto), Miguel, Augusto, Nonatinho, Fernando Lago Açú, Fernando Ipixuna, Ruimar e tantos outros, fazendo do Banco Nacional uma potência temida no futebol de campo e salão. Cansado da vidinha de Casado-Banco-Futebol; ele aceitou a proposta de um dos seus irmãos e foi pra Brasília, morar na cidade satélite do Gama e trabalhar na Metalon, uma grande empresa de Material de Construção. Lá fez testes no Gama e o treinador, ex- craque do Cruzeiro - Dirceu Lopes ficou encantado com aquele meia marrento e goleador. Mas Augusto estava insatisfeito com o clima frio da Cidade, os ônibus lotados, a correria e tudo o mais. Numa de suas férias, em visita a Bacabal, resolve aceitar o convite do sogro Manezinho e vem trabalhar com ele na compra e vendas de côco babaçu e no período da tarde fazer o que ELE MAIS GOSTAVA: jogar bola!!!
Pronto! Estava feliz da vida ao lado dos amigos, parentes e principalmente, quando veio o primeiro filho e na sequência mais dois. Ele continuava a desfilar nos gramados jogando por várias equipes amadoras, até que recebeu uma proposta irrecusável do saudoso "seu Araújo", um dublê de dirigente- treinador - empresário e tudo o mais no mundo do futebol local. Essa era a proposta: se profissionalizar pelo Americano e um emprego na Construtora Mendes Junior. Conciliava as duas coisas e de quebra recebia salários por ambas funções. Tinha coisa melhor,? Ele permaneceu na Mendes Junior durante 20 anos. Criou e formou os filhos. Chegou a separar -se da esposa por um breve período e foi trabalhar na empresa OAS, na cidade de Estreito, durante a construção da barragem, pelo período de 4 anos. Terminada a obra, Augusto foi pra Goiânia, pela mesma empresa, trabalhar na Construção do Shopping Águas Lindas durante 2 anos; época em que aposentou-se e retornou a Bacabal pro lado de sua amada Lili. Não aceitou o convite da Empresa pra ir trabalhar na Bahia. Na terrinha; o público volta a delirar nos estádios com as belas jogadas - agora já não tão ágeis - ao lado de feras amigas como Corró, Nonato Andrade, Zé Carlos Reis, César Construnorte, Baresi, Bala, Espíndola, Castro, Zé Roberto e tantos outros! Aceitou convite da CGB e já estava a 11 anos trabalhando na empresa. Ia parar agora em definitivo - CHEGA - disse pra mim em uma de nossas últimas conversas. Eu e Augusto sempre fomos muitos amigos desde a infância, quando íamos aos bailes de Carnaval, tivemos muitas escaramuças com o porteiro Nonatão pra varar na União e no Campo do Operário. Todas às vezes que EU chegava em Bacabal ele ia cedinho em minha casa me buscar pra beber e resenhar com os amigos. Sempre era assim. Nunca discutimos ou brigamos por política, futebol ou qualquer motivo. Ele sempre me respeitou como flamenguista e eu suportava o seu Fluminense. Durante a vida ele jogou bola todos os dias até os 60 anos. Depois, aconselhado por médicos e amigos, reduziu e PASSOU a jogar só aos sábados, onde após 'a pelada' ia com os amigos tomar uma gelada e uma boa resenha. No último sábado - dia 24 de maio - não foi diferente - lá estava ele se aquecendo e ainda jogou por 'apenas' uns 15 minutos quando se retirou do gramado. Todos estranharam, já que era o último a sair do CAMPO. Ninguém sabia, mas era a última vez! O coração de TITA, ou melhor, de Augusto, não resistiu e ele nos deixou prematuramente, aos 65 anos, incompletos. Dia 07/06 eu já estava convidado pro goró! Ele deixa além da esposa, os filhos Jonh Henrique, Adson e Fernanda. Agora só saudades meu amigo!
Que descanse em paz!!!
Valmiro Colibri