segunda-feira, 12 de agosto de 2013

HOJE É DIA DE SANTA CLARA DE ASSIS


Clara de Assis viveu há oito séculos, e sempre foi bastante conhecida nos ambientes franciscanos. Foi contemporânea e companheira de São Francisco de Assis, fundadora da Segunda Ordem Franciscana, a das Irmãs Clarissas. 

Irmã Clara de Assis e as Senhoras Pobres

O estilo de vida de Francisco não poderia ser privilégio dos homens. Muitas mulheres escutavam sua pregação, observavam seu estilo de viver o Evangelho e também queriam viver assim. Uma delas foi Clara.

Nasceu Clara em torno de 1193, em Assis, filha de Ortolana di Fiumi e Faverone Offreduccio. Recebera da mãe uma sólida religiosidade e do pai a força de caráter. Tinha mais três irmãs e um irmão. A caçula era Inês. Francisco a conhecia de vista, pois em Assis todos se conheciam. Admirava nela os longos cabelos dourados.

Aos 18 anos, Clara ouviu Francisco pregar os sermões da Quaresma na igreja de São Jorge, em Assis. As palavras dele inflamaram tanto seu coração, que ela o procurou, em segredo, pois também ela desejava viver "segundo a maneira do santo Evangelho".

Francisco lhe falou sobre o desprezo ao mundo e o amor a Deus, e fortaleceu-lhe o desejo nascente de abandonar tudo por amor a Cristo. Encerrou a conversa dizendo: "Quero contar-te um segredo, Clara: desposei a Senhora Pobreza e quero ser-lhe fiei para sempre". Clara respondeu que queria viver a mesma vida, a mesma oração e sobretudo a mesma pobreza.

Acompanhada de Bona di Gueifuccio, amiga íntima, para escutar Francisco, passou a frequentar a capela da Porciúncula. Estava decidida a viver o Evangelho ao pé da letra. Mas, como sair de casa? Francisco e os irmãos ensinaram-lhe o modo. O dia 18/19 de março de 1212 era Domingo de Ramos. Rica e belamente vestida, Clara participou da Missa da manhã. Não havia meio de sair desapercebida do castelo de seus pais, mas encontrou a única saída possível pela porta de trás do palacete: a saída dos mortos. Toda casa medieval tinha esta saída, por onde passava o caixão dos defuntos.

À noite, quando todos dormiam, a nobre e jovem Clara de Favarone fugiu de casa por esse buraco, percorrendo uma milha fora da cidade, até chegar à Porciúncula, onde foi recebida com muita festa pelos irmãos franciscanos, que tinham ido ao seu encontro com tochas acesas e a acompanharam até à porta da igreja.

Ali se desfez das vestes elegantes, e São Francisco, com uma grande tesoura, lhe cortou os cabelos, causando-lhe dó cortar tão formosa cabeleira. Em seguida, deu-lhe o hábito da penitência: uma túnica de aniagem amarrada em volta por uma corda e um par de tamancos de madeira. Clara se consagrou pelos três votos: pobreza, obediência e castidade.

Os familiares, enfurecidos, procuravam por Clara. Entrando na Capela, viram Clara prostrada aos pés do Altar. Puxaram-na com tanta força que lhe arrancaram o véu, percebendo então a cabeça raspada. E foi aí que concluíram que nada mais poderiam fazer: não conseguiriam mesmo mudar-lhe a ideia.

Como Francisco não tinha convento para freiras, Irmã Clara ficou alguns dias no mosteiro de São Paulo e algumas semanas no mosteiro beneditino de Panzo. Por fim, recolheu-se a São Damião, numa casa pobre contígua à capela, onde ficou até sua morte, em 1253. Seguiu-a na vocação a irmã Inês, 16 dias depois, e mais tarde sua irmã Beatriz e, por fim, até sua mãe, Ortolana.

A obra tornou-se conhecida, e diversas mulheres vieram fazer-lhe companhia. Ficaram conhecidas como as "Senhoras Pobres", ou "Irmãs Clarissas". Em pouco tempo, havia mosteiros em diversas localidades da Itália, França e Alemanha. Inês, filha do rei da Bohemia, também fundou um convento em Praga, e ela mesma tomou o hábito.
As Senhoras Pobres e a pobreza

Clara e sua comunidade praticavam austeridades desconhecidas entre as mulheres da época: não usavam meias, sapatos, ou qualquer outra proteção para os pés. Dormiam no chão. Observavam a abstinência completa de carnes, e falavam apenas quando obrigadas pela necessidade e pela caridade. Clara aconselhava o silêncio como meio de evitar os pecados da língua e de conservar a mente sempre concentrada em Deus. Jejuava tanto que Francisco teve de obrigá-la a não passar os dias sem comer ao menos um pedaço de pão. Clara mesmo percebeu seus exageros, e mais tarde escreveu para Inês da Bohemia: "Nossos corpos não são feitos de bronze, e nossas forças não são como pedra; por isso vos imploro, no Senhor, que vos abstenhais desse rigor excessivo da abstinência que praticais".

Como Francisco, Clara não aceitava qualquer propriedade. Quando o Papa Gregório IX lhe ofereceu uma renda, Clara protestou veementemente, dizendo: "Eu preciso ser absolvida dos meus pecados, mas não desejo ser absolvida da obrigação de seguir a Jesus Cristo". Em 1228, o Papa lhe concedeu o "Privilégio da Pobreza". Tinha sido um pedido insistente de Clara. Na Cúria romana, onde se pediam privilégios, títulos, propriedades e honrarias, causou espanto alguém pedindo o "privilégio de ser pobre".

Clara e Francisco conheciam a alma do mundo e sabiam que qualquer exceção à regra da pobreza desencadearia sua negação. Francisco o exemplificou com o caso do livro que um frade queria ter: primeiro se quer um livro, depois mais livros, depois uma estante, vem uma biblioteca, segue-se uma casa para guardá-la... E adeus, pobreza evangélica.

Mais tarde, em 1247, o Papa Inocêncio IV queria impor às Senhoras Pobres uma Regra que de certo modo permitisse a propriedade comum. Preocupada, Clara mesma redigiu uma Regra, lembrando-se de tudo o que vira e aprendera com Francisco. Ela pede, por amor de Deus, que concedam ao Convento de São Damião o "Privilégio da Pobreza". Esta Regra foi aprovada dois dias antes de sua morte, valendo o privilégio para São Damião. Para os outros conventos, permitiu-se uma espécie de propriedade comum.
Francisco e Clara, amizade de Santos 

A obra de Clara estava sempre no coração de Francisco. Muitas vezes ele enviou doentes e enfermos que ela conseguia curar sob seus delicados cuidados. Apesar de sua humildade, Francisco era obrigado a reconhecer a grande admiração que Clara e as outras irmãs tinham por ele. Era uma admiração espiritual, mas também humana. Para evitar qualquer tipo de dependência, e para torná-las totalmente livres dele, passou a visitá-las cada vez mais raramente. As irmãs sofriam a sua ausência e alguns frades acharam que isso era falta de caridade, mas Francisco disse que a finalidade da ausência era "no futuro não haver nenhum intermediário entre Cristo e as irmãs".

Após longa ausência, e depois de muitos pedidos das irmãs, um dia Francisco aceitou ir pregar em São Damião. Entrou na igreja e ficou um momento de pé, rezando de olhos levantados para o céu. Depois pediu um pouco de cinza. Com ela desenhou um círculo à sua volta e o resto passou na cabeça. E então rompeu o silêncio, não para pregar, mas para rezar o Salmo da Penitência (Si 50). Depois foi embora, feliz por ter ensinado à Clara e às irmãs que nada mais podiam ver nele do que um pecador que fazia penitência.

Em março de 1225, já muito doente, Francisco visitou Clara em São Damião e manifestou o desejo de ali permanecer, mas a doença exigia tratamentos em outros lugares. Foi ali, sofrendo terrivelmente com a enfermidade e o barulho dos ratos que lhe impediam o sono, que explodiu num hino de alegria ao Criador, o "Cântico das Criaturas" ou ao "Irmão Sol". Foi no jardinzinho de Clara, que, pela última vez, que os dois conversaram. No ano seguinte morreu o "pai Francisco". Clara viveu mais 27 anos na paz e na saudade de Francisco.


Clara de Assis, mãe e adoradora

A si própria Clara gostava de chamar "uma plantinha do bem-aventurado pai Francisco". Ela nunca deixou os muros do convento de São Damião. Designada abadessa (superiora) por Francisco, em 1215, Clara dirigiu o convento durante 40 anos. Sempre quis ser serva das servas, submissa a todas e beijando os pés das irmãs leigas quando regressavam do trabalho de esmolar, servindo à mesa, assistindo aos que estivessem doentes. Enquanto as irmãs descansavam, ela ficava em oração e as cobria, caso as cobertas lhes caíssem. Saía da oração com o semblante iluminado. Falava com tanto fervor que inflamava os que ouviam sua voz.

A exemplo de Francisco, nutria fervorosa devoção ao Santíssimo Sacramento. Mesmo quando estava doente e acamada (esteve sempre doente nos últimos 27 anos de vida), ficava confeccionando belos corporais e toalhas para o serviço do Altar, que depois distribuía pelas igrejas de Assis.

A força e a eficácia poderosa de sua oração foi sentida, de maneira muito especial, em 1244, quando o imperador Frederico II atacou o vale de Espoleto, tendo ao seu serviço um exército de sarracenos. Lançaram-se ao saque de Assis, e como São Damião ficava fora dos muros, resolveram começar por ali. Embora muito doente, Clara levantou-se, fez colocar o Santíssimo num ostensório, e saiu com ele em punho, colocando-se bem à vista do inimigo. E Clara orou, com grande fervor, pedindo a Cristo que salvasse suas irmãs do saque e do estupro. Em seguida, orou pela cidade de Assis. No mesmo instante, o terror se apoderou dos assaltantes, que fugiram em debandada.


A morte de uma Santa

Clara suportou os longos anos de enfermidade com santa paciência. Em 1253, teve início uma longa agonia. O papa Inocêncio IV deu-lhe duas vezes a absolvição com o perdão dos pecados, e comentou: "Quisera Deus que eu necessitasse de perdão tão pouco assim". Clara doente e pobre, as mais altas autoridades da Igreja sentiam sua sabedoria e santidade, e vinham aconselhar-se com ela em São Damião.

Durante os últimos 17 dias não conseguiu tomar nenhum alimento. A fé e a devoção do povo aumentavam cada vez mais. Diariamente cardeais e prelados chegavam para visitá-la, pois todos tinham certeza de que era uma santa que estava para morrer

Ir. Inês, sua irmã, estava presente, bem como os três companheiros de Francisco, os freis Leão, Ângelo e Junípero. Vendo que a vida de Clara estava chegando ao fim, emocionados, leram a Paixão de Jesus segundo João, como tinham feito 27 anos antes, na morte de Francisco.

Clara consolou e abençoou suas filhas espirituais. E, para si, disse: "Caminhas pois tens um bom Guia. ó Senhor, eu vos agradeço e bendigo pela graça que me concedestes poder viver'. E foi recebida na Corte Celeste. Era Senhora Pobre e tinha 60 anos de vida.

Dois anos após a sua morte, o papa Alexandre IV canonizou-a em Anagni. Era o ano de 1255.

Oração a Santa Clara
Querida Santa Clara, que fostes motivo de alegria e orgulho santo para vossos pais e irmãs, que soubestes retribuir-lhes o amor e a dedicação com que vos cercaram desde o berço, eu vos consagro minha família e todos que comigo convivem.

Bem vedes, querida santa Clara como são difíceis os tempos em que vivemos, onde o amor e a fidelidade familiar, tornam-se quase impossíveis. Sei, contudo, que a Deus nada é impossível e que, com fé e confiança, tudo se alcança. Por isso, imploro confiante: visitai nosso lar, permanecei conosco, e já que sois mais clara que vosso próprio nome, auxiliai-nos a clarear nossa mente e nosso coração, para que possamos permanecer unidos entre nós, e, sobretudo, permanecer fiéis a Deus. Ide a Nosso Senhor Jesus Cristo e dizei-lhe uma palavra em nosso favor! Santa Clara, rogai por nós!

Amém.

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