INFÂCIA
VIOLADA
Sobra, vaza por entre os dedos
Sobra, vaza por entre os dedos
E
escorre como velas queimando
O
resto que sobrou
Daquela
criança que pulava muros,
Que
furava cercas
E
corria nos quintais,
Roubava
frutas,
Garrafas
vazias
E
vendia, para com o dinheiro,
Comprar
a bola “dente de leite”
Para
a pelada das tardinhas.
Cai
no chão,
Em
gotas derretidas
Retalhos
daquela criança
Que
fabricava
Seus
próprios brinquedos,
Seus
carrinhos,
Seus
aviões, seus barcos,
Seus
tanques de guerra, seus trens,
Todos
de lata.
Criança
que fazia suas pipas
Seus
papagaios, suas gaiolas,
Seus
piões, seus castelos de sonhos,
Seus
moinhos de ventos,
Seus
cata-ventos de esperanças.
Que
pão matou sua fome?
Que
água matou sua sede?
Que
açúcar adoçou?
Que
sal salgou?
Que
palavra pronunciada
Disse
daquela criança
Que
sentiu frio e não teve cobertor,
Que
sentiu cansaço e sono
E
não teve pouso
Quem
te salvou do afogamento?
Da
bala perdida?
Da
faca afiada do menino mau?
Da
pedra certeira?
Da
rasteira fatal?
Do
cascudo doído?
Da
surra animal?
Do
castigo bruto?
Quem
te estendeu a mão, afinal?
Anda
agora este homem,
Grisalho,
abatido,
Míope,
envelhecido,
Cheio
de manhas e tiques
E
em tudo que faz,
Deixa
ao relento
O
rastro dos chinelos de couro
Que
pisaram o chão
De
uma infância
Plantada
no jardim
De
uma lembrança muda.
Do livro - Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e
da Infância Perdida
Nenhum comentário:
Postar um comentário