Por José Sarney
Quando eu, como
Presidente da República, lancei a ideia de construir uma estrada de ferro de
norte a sul, ligando a malha rodoviária nacional ao Porto do Itaqui, o de
melhores condições do Brasil, competindo com os grandes portos mundiais, o mundo
caiu. Os jornais de Sul/Sudeste, a começar pelos de São Paulo, vieram em cima
de mim dizendo que era caipirismo do Sarney, querendo beneficiar o Maranhão ao
canalizar a produção do Brasil central para escoar por aqui.
Enfrentei tudo,
ataques dia e noite, comissões de inquérito, denúncias e o diabo. Comecei a
construção pelo trecho que liga a estrada de ferro Carajás-Itaqui a Porto
Franco e construí ali a ponte sobre o Tocantins. Inaugurei esta parte e mais um
pedaço em Goiás. Os governos que me sucederam puseram uma pedra em cima do
projeto.
Lula, candidato em
2002, veio a minha casa pedir apoio. Disse-lhe que sim. Pedi duas coisas: que
restaurasse o Programa do Leite — em que eu distribuía oito milhões de litros
de leite por dia para as crianças pobres — e terminasse a Norte-Sul.
Ele cumpriu e deu
todo apoio à construção da estrada, que está praticamente pronta. Agora o
governo resolveu privatizá-la — o que acho certo — e ontem realizou leilão,
dando-a em concessão por 30 anos por 2,72 bilhões reais, um ágio de 100,92%.
Se esta estrada
tivesse ficado pronta naquele tempo, como eu desejava, o Brasil seria outro — e
o Maranhão também. Basta lembrar que tivemos então, com o programa de irrigação
e os incentivos à produção agrícola, uma sucessão de maiores safras da
história, chegando a 72 milhões de toneladas de grãos. Hoje, com o
desenvolvimento da técnica, com as pesquisas da Embrapa, vamos chegar a 230
milhões de toneladas, transportadas 90% em caminhões. Isso polui o planeta,
acaba com as estradas rodoviárias e custa 36 reais por quilômetro/tonelada,
contra seis reais nas ferroviárias! Calculem quanto isso significaria para o
Brasil ao longo dos trinta anos que se passaram desde que comecei a estrada.
Deixei o Maranhão
preparado para o futuro. Fiz o Porto do Itaqui, trouxe o escoamento de
minério de Carajás para ele, liguei o Tocantins e o Pará a São Luís. Evitei que
o Geipot — o órgão responsável pelas estradas nacionais durante o regime
militar — desativasse a São Luís-Teresina. A Norte-Sul vai fazer do Itaqui o
maior porto do Brasil.
Os que foram contra a
estrada e impediram que eu a concluísse hoje a exaltam e se arrependem
publicamente. Muitas vezes Lula me pediu desculpas por ter sido contra; e
tornou-se o entusiasta a quem devemos sua retomada.
Agora, com a
Norte-Sul privatizada e, em breve, começando a operar, o Itaqui tirará uma
grande parte da carga de Santos e Paranaguá, pois a estrada de ferro oferecerá
a economia direta do seu custo somada à indireta do custo marítimo, por sua
localização estratégica em relação ao canal do Panamá.
Dei ao Maranhão a
melhor infraestrutura do Nordeste. Preparei-o para este dia. Como dizia
Churchill, não olhe as próximas eleições, mas o futuro.
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