Excesso
de sal, uso de remédios, estresse... Investigamos o que faz a glândula entrar
em parafuso, situação cada vez mais comum hoje
É na
região da garganta que fica a tireoide, glândula
com o formato de borboleta que orquestra o funcionamento do organismo — e
influencia, inclusive, nossas emoções. Foi pensando em resguardá-la que a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, mandou reduzir o teor de
iodo do sal de cozinha. As taxas, que antes ficavam entre 20 e 60 miligramas
por quilo, precisaram se adaptar à faixa, de 15 a 45 miligramas.
O corte,
segundo a entidade, teve a ver com o aumento de casos de hipotireoidismo,
distúrbio que prejudica a produção dos hormônios pela glândula. A doença
desacelera o metabolismo, gerando fadiga, sonolência, depressão e raciocínio
vagaroso. E o iodo em excesso é um gatilho para o seu surgimento.
A Anvisa
resolveu agir com base em estatísticas preocupantes: o brasileiro consome, em
média, 12 gramas de sal todos os dias. É um exagero se considerarmos a
recomendação da Organização Mundial da Saúde, de apenas 5 gramas.
O abuso
do condimento nas refeições elevou, por sua vez, a porção de iodo no prato dos
cidadãos. A iodação do sal foi calculada pensando em uma dieta de 9 gramas
diárias de sal e está, portanto, defasada. Essa resolução da Anvisa não poderia
ter sido mais adequada.
·
Na época
de sua aprovação, a medida, porém, dividiu opiniões. A Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia criticou a regra e afirmou que o foco deveria
estar na quantidade de sal que o brasileiro ingere e falta de iodo, que pode
trazer complicações, principalmente na gestação e nos primeiros anos de vida.
Nem só o
iodo deixa a tireoide lenta. Os cientistas possuem uma lista de suspeitos
envolvidos nessa história. Ainda não está totalmente demonstrada a relação
entre hábitos e componentes químicos com o hipotireoidismo. mas não faltam
estudos procurando evidências sobre seu papel no colapso da glândula.
Uma
investigação, por exemplo, procurou estabelecer o impacto da poluição na
tireoide. A pesquisa, da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo,
acompanhou mais de 6 mil pessoas durante 15 anos. Elas foram divididas em dois
grupos. O primeiro morava perto de um parque industrial petroquímico, enquanto
o segundo habitava uma área residencial menos poluída.
Em 1992,
cerca de 2% dos indivíduos que viviam nas cercanias das
fábricas — e travavam contato com poluentes — tinham hipotireoidismo. Em
2001, a quantidade de pessoas com a mesma doença nessa região subiu para 57%. Já na área com menos sujeira no ar, as taxas não
tiveram modificações tão gritantes.
A glândula em pessoas predispostas, o que
dizer de remédios e produtos de limpeza? Alguns medicamentos, como xaropes
expectorantes, contêm iodo. E o mesmo vale para certos desinfetantes que, em
contato com a pele, podem passar o mineral para o organismo. Nesses casos, a
saída é consultar o médico e, na hora de limpar a casa, investir em luvas.
Potes
plásticos e panelas antiaderentes também geram polêmica. Existe uma suspeita de
que esses utensílios soltariam compostos tóxicos que atingem a tireoide/ Outro
inimigo em potencial se esconde sob a vida conturbada das grandes cidades. Toda
vez que o corpo passa por um estresse, há uma resposta do sistema imune, que
pode afetar a glândula. Enquanto a ciência levanta dados para bater o martelo,
convém relaxar e, como sugerem pesquisas recentes, tentar escapar da poluição e
maneirar no sal. Tudo para a borboleta continuar na ativa, isto é, fabricando
seus hormônios.
Se hoje é
farto, ontem faltava
A
deficiência de iodo foi um grave problema de saúde pública no século 20. A
carência do mineral estava por trás do bócio, um inchaço na região da garganta,
e até retardo mental em bebês. Embora a iodação do sal no Brasil para mudar
esse panorama tenha começado nos anos 1950, a primeira lei nacional sobre o
assunto é de 1995. E os resultados são incontestes: os casos de bócio em
crianças caíram de 20,7% em 1955
para 1,4% em 2000.
Nas asas
do equilíbrio
A
dosagem correta de iodo é um dos fatores mais importantes para manter uma
tireoide saudável
Nem
demais…
A
tireoide usa o iodo para produzir os hormônios T3 e T4. Se a
substância está em excesso, o órgão sofre um processo de inflamação. O sistema
imunológico manda anticorpos para a região, que acabam atacando a própria
glândula.
…Nem
de menos
Se o iodo
escasseia, a tireoide não tem matéria-prima para fabricar a dupla hormonal. Na
tentativa de compensar a baixa produção, ela cresce de tamanho. A deficiência
está relacionada a casos de bócio e problemas de desenvolvimento na infância.
·
Nódulo de
tireoide na ponta da agulha
Novo
método, ainda em fase de testes, elimina essas formações sem deixar cicatriz no
pescoço
O
surgimento de massas tumorais na glândula costuma incomodar, seja por questões
estéticas, seja por problemas funcionais. Para retirar esses nódulos hoje, é
preciso passar por uma cirurgia que deixa uma cicatriz na garganta. Mas um
equipamento ainda sob estudos no Brasil promete resolver o problema com mais
comodidade
“Introduzimos
uma agulha bem fina na região do pescoço. Ela é guiada por ultrassom e emite um
raio laser sobre os nódulos Esse laser queima a formação defeituosa, que então
diminui e é eliminada pelo organismo.”
Por Dr.
Otávio Pinho Filho
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