As
eleições que se avizinham no Brasil prometem muito pano para a manga, no que diz respeito a candidaturas negras.
Corrijo!
Candidaturas
de pessoas negras. Sobretudo, àquelas vinculadas ao Movimento Negro ou que assumam um discurso antirracista.
Talvez nunca se havia visto tanto “alvoroço
racial” ao redor de um pleito eleitoral. Pode ser
que já ocorrera antes, mas talvez sem a mesma “visibilidade
negra”, e tão pouco, com essa forte presença de candidaturas
de MULHERES NEGRAS.
Quando
temos hoje no Brasil um governo, declaradamente racista e misógino, que usa o negro para dizer que a escravidão o
beneficiou; as candidaturas,
principalmente das MULHERES NEGRAS, assumem uma
importância crucial para a construção de uma nova frente
de batalha, neste campo de guerra contra o racismo.
Houve
esse tempo em que as eleições eram coisas de branco. A tradição escrava pesava sobre os ombros de todos. Ver a
imagem de uma pessoa negra entre os candidatos,
causava burburinhos, chacotas, piadas e
insultos. A inadmissibilidade era tão generalizada, que sobretudo os negros, eram os que mais se divertiam
com o que lhes parecia palhaçada e atrevimento.
– Olha esse nêgo! – Negro palhaço! Negro
atrevido! Estes são apenas alguns entre tantos outros estigmas atribuídos aos negros no Brasil, que a gente
negra assimila, sem dar-se conta, de
que tem o inimigo dentro.
QUANDO
UM NEGRO FALA, QUE NÃO VOTA EM NEGRO, a sua
ala está
servindo ao Seu Senhor Branco. É o Senhor que lhe concede
a fala. E a sua fala reproduz a voz submissa de quem serve.
Cada
eleitor negro – ou quem mesmo não sendo negro, está contra o racismo – é livre para votar. Existe o voto da chibata
e o voto da verdadeira abolição.
O voto da chibata diz - sim, Senhor! O eleitor faz
gesto de quem se ajoelha e pede licença para sair. O patrão, a patroa, o patriarca - o seu Senhor Branco - decide sobre
o seudestino. Quem vota na abolição das desigualdades raciais, vota na abolição do Brasil da sua mentalidade escravista.
Nestas
eleições, mais que ninguém, é a MULHER PRETA – como gosta de reafirmar a negritude do movimento negro – a que
exibe asua cara e impinge a estas eleições um quadro diferente da mulher negra
é marcante. E não é só isto! Estas candidaturas representam um avanço
importante no combate contra a discriminação racial no país. Ainda que
saibamos, e é sempre bom lembrar, que não basta ser negro, é necessário
ter ideia própria e consciência de combate ao racismo. Devemos recordar
Solano
Trindade,
quando nos advertia de que, negros que pensam como osopressores, ou com estes
se aliam, não são nossos amigos. E nos dias de hoje, abundam os
oportunistas. Amigos da onça. Traidores. Os contemporâneos Capitães-do-mato.
Ainda
assim, a MULHER PRETA CANDIDATA, é uma realidade irrefutável. As mulheres
pretas saem à luta. Não será possível fazêlas retroceder. O discurso
escravista de que o lugar da mulher negra
é na
cozinha, e que política é para o senhor branco “machomasculino-homem”, já não
cola. A “mulherada” está desperta e está de olho em novas
conquistas.
Porém,
não nos esqueçamos, candidatar-se não é eleger-se. A garantia de ser
eleito quem dar é o voto do eleitor.
Mas,
quem são os eleitores das candidatas e candidatos de cor negra? O “povo
negro”? Quem é este “povo negro”? Este coletivo tão determinante, está
organizado em torno da luta de combate ao racismo, a ponto de saber
distinguir quem são os seus verdadeiros aliados?
O
eleitor, a eleitora NEGRAS, têm a palavra!
E
o poder do voto!
Antonio
Vieira
Economista
e Mestre em Antropologia Sócio-cultural
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