domingo, 26 de julho de 2020

PONTO DE VISTA- NEGROS NAO VOTAM EM NEGROS - POE ANTÔNIO VIEIRA

Em expansão nos EUA, voto negro, jovem e latino é alvo de ...
As eleições que se avizinham no Brasil prometem muito pano para a manga, no que diz respeito a candidaturas negras. Corrijo!
Candidaturas de pessoas negras. Sobretudo, àquelas vinculadas ao Movimento Negro ou que assumam um discurso antirracista. Talvez nunca se havia visto tanto “alvoroço racial” ao redor de um pleito eleitoral. Pode ser que já ocorrera antes, mas talvez sem a mesma “visibilidade negra”, e tão pouco, com essa forte presença de candidaturas de MULHERES NEGRAS.

Quando temos hoje no Brasil um governo, declaradamente racista e misógino, que usa o negro para dizer que a escravidão o beneficiou; as candidaturas, principalmente das MULHERES NEGRAS, assumem uma importância crucial para a construção de uma nova frente de batalha, neste campo de guerra contra o racismo.

Houve esse tempo em que as eleições eram coisas de branco. A tradição escrava pesava sobre os ombros de todos. Ver a imagem de uma pessoa negra entre os candidatos, causava burburinhos, chacotas, piadas e insultos. A inadmissibilidade era tão generalizada, que sobretudo os negros, eram os que mais se divertiam com o que lhes parecia palhaçada e atrevimento. – Olha esse nêgo! – Negro palhaço! Negro atrevido! Estes são apenas alguns entre tantos outros estigmas atribuídos aos negros no Brasil, que a gente negra assimila, sem dar-se conta, de que tem o inimigo dentro.

QUANDO UM NEGRO FALA, QUE NÃO VOTA EM NEGRO, a sua ala está servindo ao Seu Senhor Branco. É o Senhor que lhe concede a fala. E a sua fala reproduz a voz submissa de quem serve.

Cada eleitor negro – ou quem mesmo não sendo negro, está contra o racismo – é livre para votar. Existe o voto da chibata e o voto da verdadeira abolição. O voto da chibata diz - sim, Senhor! O eleitor faz gesto de quem se ajoelha e pede licença para sair. O patrão, a patroa, o patriarca - o seu Senhor Branco - decide sobre o seudestino. Quem vota na abolição das desigualdades raciais, vota na abolição do Brasil da sua mentalidade escravista.

Nestas eleições, mais que ninguém, é a MULHER PRETA – como gosta de reafirmar a negritude do movimento negro – a que exibe asua cara e impinge a estas eleições um quadro diferente da mulher negra é marcante. E não é só isto! Estas candidaturas representam um avanço importante no combate contra a discriminação racial no país. Ainda que saibamos, e é sempre bom lembrar, que não basta ser negro, é necessário ter ideia própria e consciência de combate ao racismo. Devemos recordar Solano 

Trindade, quando nos advertia de que, negros que pensam como osopressores, ou com estes se aliam, não são nossos amigos. E nos dias de hoje, abundam os oportunistas. Amigos da onça. Traidores. Os contemporâneos Capitães-do-mato. 

Ainda assim, a MULHER PRETA CANDIDATA, é uma realidade irrefutável. As mulheres pretas saem à luta. Não será possível fazê￾las retroceder. O discurso escravista de que o lugar da mulher negra é na cozinha, e que política é para o senhor branco “macho￾masculino-homem”, já não cola. A “mulherada” está desperta e está de olho em novas conquistas. 

Porém, não nos esqueçamos, candidatar-se não é eleger-se. A garantia de ser eleito quem dar é o voto do eleitor. 

Mas, quem são os eleitores das candidatas e candidatos de cor negra? O “povo negro”? Quem é este “povo negro”? Este coletivo tão determinante, está organizado em torno da luta de combate ao racismo, a ponto de saber distinguir quem são os seus verdadeiros aliados? 

O eleitor, a eleitora NEGRAS, têm a palavra!

E o poder do voto!

 

Antonio Vieira

Economista e Mestre em Antropologia Sócio-cultural

Nenhum comentário:

Postar um comentário