Em 1º debate de TV da disputa ao
Planalto, candidata do PSB explora imagem de ‘terceira via’ fazendo elogios a
FHC e Lula
Sob o
impacto da pesquisa Ibope que mostrou Marina Silva (PSB) isolada na segunda
colocação da corrida presidencial, o primeiro debate entre os candidatos à
Presidência, realizado nesta terça-feira pela TV Band, foi marcado por
confrontos estratégicos e calculados entre os principais adversários na
disputa. Enquanto a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT,
mirou na polarização com o nome do PSDB, o tucano Aécio Neves partiu
preferencialmente para um embate direto com a sucessora de Eduardo Campos.
Marina
reforçou a tática de tentar se colocar como a terceira via propositiva,
apontando o que classifica como equívocos da briga entre PT e PSDB e insistindo
em temas que lhe credenciem como a “nova política”.
Não por
acaso, a ex-ministra do Meio Ambiente abriu o bloco de perguntas dos candidatos
questionando a presidente - que lidera as intenções de voto - sobre o que deu
errado com os pactos propostos por Dilma na esteira das manifestações de junho
do ano passado. A petista insistiu que os cinco pactos que ela desencadeou após
as manifestações tiveram bons resultados. “Nós acreditamos que tudo deu certo.”
Marina retrucou que “o Brasil que a presidente Dilma acaba de mostrar com
colorido quase cinematográfico não existe.”
Na sua
vez de perguntar, a petista questionou Aécio se a expressão “medidas
impopulares” utilizada por ele iria significar redução do valor dos salários e
do índice de empregos. O tucano lembrou a carta que Dilma enviou ao
ex-presidente FHC, no início do governo dela, elogiando medidas como o controle
da inflação e a responsabilidade fiscal. Os dois também protagonizaram o
confronto mais duro, no quarto bloco, quando Aécio perguntou a Dilma se não era
hora de a petista pedir desculpas por “gestão temerária” na Petrobrás.
Dilma
afirmou que a declaração do adversário era uma “leviandade” e citou problemas
enfrentados pela empresa estatal durante o governo FHC. Foi o momento do debate
em que a tradicional polarização entre PT e PSDB ficou mais “quente”.
Alvo. Mas o
tucano não podia disfarçar a necessidade de criar um confronto direto com
Marina, que na pesquisa Ibope lhe ultrapassou e abriu uma vantagem de 10 pontos
porcentuais. Na primeira oportunidade que teve para perguntar, o candidato do
PSDB questionou a coerência da ex-ministra em relação à nova política pelo fato
de ela se negar a compartilhar a campanha com o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB), apoiado pelo PSB, e, ao mesmo tempo, fazer um aceno ao
ex-governador e candidato ao Senado, José Serra (PSDB).
Marina
disse que defender a nova política é combater a velha polarização. Aécio
criticou o discurso da candidata do PSB afirmando que o importante é distinguir
a boa da má política. Fez também questão de lembrar que o PT, na época que
Marina era filiada, foi contra o Plano Real e o processo de estabilização.
No
final do debate, tentou ligar a ex-ministra de Lula à presidente. Concluiu sua
fala dizendo que “as propostas de Dilma e Marina são muito parecidas”. Sugeriu
que um governo Marina poderá ser uma “aventura”. E “nomeou” o ex-presidente do
Banco Central Armínio Fraga, que ocupou o posto no governo FHC, seu ministro da
Fazenda caso seja eleito em outubro.
Como já
era esperado, para rebater as críticas sobre a falta de experiência
administrativa, Marina citou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e
Fernando Henrique Cardoso, classificados não como gerentes, mas pessoas com
visão estratégica. Fez elogios aos ex-presidentes - à estabilidade da gestão
FHC e aos investimentos sociais de Lula -, mas ressaltou que não é “complacente
com os erros”.
Quando
pôde, se disse a favor de um “estado laico” - adversários usam a religiosidade
da ex-ministra para associá-la a um “obscurantismo evangélico”. Fez várias
menções a Eduardo Campos, cuja morte em 13 de agosto após um acidente de avião
abriu caminho para a sua candidatura ao Planalto.
Os
outros candidatos usaram as perguntas sobretudo para valorizar algum ponto de
vista mais marcante de sua campanha. Eduardo Jorge, do PV, quis saber de Aécio
Neves qual era a posição dele sobre o aborto. Depois de ouvir o tucano afirmar
que vai defender a legislação atual, Jorge defendeu a mudança da lei, lembrando
que 800 mil mulheres praticam aborto anualmente no Brasil, em condições
precárias, em clínicas clandestinas.