MARTELO
AGALOPADO
Quando
o cheiro fatal que vem da chila
Faz
rodar a cabeça do cristão
É
normal se dizer que está doidão
Mesmo
vendo em si a tez tranqüila
As
pegadas deixadas na argila
São
caminhos que levam ao outro lado
Cogumelos
sobre o cocô do gado
Alucinam
o vento matinal
Para
os loucos que se acham normal
Vou
cantando o martelo agalopado.
Revelando
os segredos da ciência
Procurei
ocultar os atuais
Só
pra ver quem consegue um pouco mais
Bem
usar toda sua sapiência
Pesquisando,
escrevi com paciência
O
que achei em papiro reciclado
Para
todos ficou o meu achado
E
agora o mundo pode ler
E
pra’quele que gosta de aprender
Vou
cantando o martelo agalopado
Fiz
amigos por onde eu passei
Para
eles cantei os meus repentes
Foi
bonito agradar, vê-los contentes
Outros
vates, com eles duelei
Um
cigarro de palha eu apertei
De
cachaça, bebi um bom bocado
Quando
estava bebim, embriagado
Era
aí que batia a inspiração
Eu
levava ao delírio, a multidão
Só
cantando o martelo agalopado
Viajando
e ganhando esse mundão
Fiz
gastar várias solas e sapatos
Mas
o tino que dei a tantos atos
Não
passaram de alucinação
E
sonhando encontrei a solução
Numa
frase esquecida no passado
Que
na areia do mar tinha anotado
E
desfeita, se foi, tornou-se duna
Solitário
a vagar feito a espuma
Vou
cantando o martelo agalopado
Na
imagem que a nuvem desenhou
Cintilou
o teu rosto pelo céu
É
que Deus viajando seu pincel
O
teu nome na tela ele botou
Com
a tinta que ele inventou
Coloriu
esse mundo tão amado
Mandou
Cristo tirar nossos pecados
E
a mim, que vivendo em viés
Pediu
que eu ajoelhasse aos seus pés
E rezasse um
martelo agalopado
Do Livro "Repente Urbano" de Zé Lopes.
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