Preocupado
com os novos protestos previstos para o dia 12, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva intensificou as cobranças sobre o governo e quer que Dilma
Rousseff mude com urgência a articulação política do Palácio do Planalto, sob
pena de trilhar um caminho sem volta. Para ele, a presidente não pode mais
esperar e precisa mexer nos interlocutores com o Congresso, que se transformou
em uma trincheira contra o governo após a Operação Lava Jato.
"Mercadante
vive falando de rating para cá, rating para lá. Que rating que nada! A crise é
política e o governo tem que resgatar a confiança. O resto acontece
naturalmente", disse Lula, em recente conversa com um senador do PT, numa
referência ao ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Nos
últimos dias, tanto Mercadante como o ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
afirmaram que o ajuste fiscal é necessário para manter o grau de investimento
no País, com uma nota de crédito (rating) elevada. Lula, porém, escolheu
Mercadante como alvo das críticas.
O
ex-presidente não esconde a contrariedade com o fato de Dilma manter o chefe da
Casa Civil no comando da articulação com o Congresso. No varejo das negociações
com os parlamentares está Pepe Vargas, titular da Secretaria de Relações
Institucionais, mas é Mercadante quem dá a linha política.
Rearranjo
Em
mais de uma ocasião, Lula aconselhou Dilma a transferir essa função para Jaques
Wagner, hoje ministro da Defesa, e pôr no lugar de Pepe um nome do PMDB, como o
ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, ligado ao vice-presidente Michel
Temer. Dilma, no entanto, resiste à troca. Diante desse quadro, o PMDB entende
que o atual modelo da articulação deixa o ocupante da Secretaria de Relações
Institucionais como uma "rainha da Inglaterra" e não quer assumir a
tarefa.
Na
avaliação de Lula, a raiz da crise é política, mas, como o governo não consegue
dissipar as turbulências com os aliados, o problema contamina a economia. A
instabilidade se agravou com a inclusão dos presidentes do Senado, Renan
Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), ambos do PMDB, na lista de
investigados por denúncias de corrupção na Petrobrás, no rastro da Lava Jato.
Ao
saber na quarta-feira da acentuada queda na taxa de aprovação de Dilma,
apontada pela pesquisa CNI/Ibope, a reação de Lula foi de quem já esperava o
resultado. O levantamento mostra que 64% dos brasileiros consideram a gestão de
Dilma "ruim ou péssima". Para piorar, outras pesquisas em poder do PT
indicam que o desgaste de Dilma e a Lava Jato também atingem a imagem do
ex-presidente, hoje o principal nome do partido para a eleição de 2018.
No
diagnóstico de Lula, somente uma forte reação do Planalto, com ações que
dialoguem com a sociedade, é capaz de reverter o mau humor da população e
evitar um quadro irreversível para a presidente.
Sem
dinheiro para novos programas, Dilma anunciou que enxugará os gastos, apostando
na atração de investimentos privados com a concessão de rodovias, ferrovias,
portos e aeroportos. O corte no Orçamento pode atingir R$ 80 bilhões.
O
temor de Lula e do PT é de que um ajuste nessas proporções paralise a economia
e afaste ainda mais o partido de sua base social. Com esse argumento,
parlamentares pressionam a equipe econômica a suavizar as medidas que endurecem
as regras para o seguro desemprego.
"É
problema que a sociedade não tenha sido consultada sobre as medidas e que o
peso do 'ajuste' proposto tenha recaído mais sobre os trabalhadores do que
sobre outros setores das classes dominantes", diz manifesto da corrente
Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT e integrada por Lula.
Escrito
para nortear os debates do 5.º Congresso do PT, em junho, o documento endossa
críticas de alas radicais às ações do governo para pôr a economia nos trilhos.
"Essas práticas foram em grande parte responsáveis pelo mal-estar de
muitos movimentos sociais que lutaram pela eleição de Dilma e que, hoje, se
encontram perplexos e frustrados com as primeiras medidas do governo", diz
o texto.
Para
a tendência Mensagem ao Partido - grupo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo
-, o Planalto precisa superar o impasse provocado por promessas não cumpridas.
"O segundo governo Dilma se iniciou com clara inflexão conservadora na
gestão macroeconômica, contraditória com o programa eleito", destaca o
documento, escrito pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro.
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