Florbela, um dos filmes mais assistidos em Portugal em 2012 chega aos cinemas brasileiros. O longa-metragem de Vicente Alves do Ó retrata parte da biografia da poetisa portuguesa Florbela Espanca: uma mulher a frente do seu tempo que em meados da década de vinte divorciou-se várias vezes, escreveu textos eróticos, tentou suicídio mais de uma vez, foi internada em sanatórios e morreu aos 36 anos deixando uma obra riquíssima.
Os
apaixonados por literatura que invadirem as salas de cinema para assistir ao
filme Florbela,
que acaba de estrear, perigam sofrer uma baita decepção.
Apesar
de a atriz Dalila Carmo ter alcançado o olhar melancólico da poetisa portuguesa
e da fotografia ser bonita e coesa o filme é bastante frágil.
É
frágil, entre outras coisas, porque o conflito é apresentado de maneira
periférica: as dificuldades que uma escritora sofria em meados da década de
vinte para se impor no cenário literário - numa época onde somente os homens
tinham voz - bem como o preconceito que uma mulher a frente do seu tempo - que
divorciou-se várias vezes, usava calças, fumava, bebia e escrevia poemas
eróticos - aparecem superficialmente em breves diálogos ao longo da trama.
Nem
mesmo a intensidade e/ou a personalidade neurótica que a levou duas vezes ao
sanatório, tampouco o suicídio, sombra que rondou duas vezes Florbela Espanca e
tirou sua vida na terceira tentativa com uma super dosagem de barbitúricos, tem
destaque no filme.
O
diretor Vicente Alves do Ó privilegiou sua relação simbiótica com o irmão
Apeles e durante 1h59min insinuou haver um amor incestuoso entre eles -
retratando as suspeitas da época.
“Segundo biógrafos como Agustina Bessa
Luís ou Maria Alexandrina, não existiu, na realidade qualquer tipo de
relacionamento incestuoso entre Florbela e o irmão Apeles. O fato de ser como
irmã que Florbela se entrega mais profundamente, deve-se, no fundo, a Florbela
ter tentado ser, mais do que uma irmã e confidente, uma mãe para Apeles”,
que perdera a mãe aos quatro anos de idade. (fonte)
Em
seu segunda longa-metragem, Vicente Alves do Ó erra por excesso de cuidado, por
não querer errar: os atores são marcados demais, as pausas longas, algumas
sequencias teatrais. E erra, também, por querer pretensamente traduzir a poesia
- o que resulta em cenas batidas e cafonas, como uma chuva de folhas brancas
caindo sobre a poetisa.
O
figurino apesar de coerente e bonito é mal arrematado, empresta ares de brechó
e não de uma época.
Saí
do cinema com uma pequena certeza: apesar de biografias e filmes demonstrarem
esforços para dar conta do tamanho de um artista, só há um meio de conhecê-lo
inteiramente: procurando-o em sua arte. Eis aqui Florbela Espanca por Florbela
Espanca:
“O meu mundo não é como o dos outros.
Quero demais, exijo demais. Há em mim uma sede de infinito, uma angustia
constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa, sou
antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada. Uma alma que
não se sente bem onde está, que tem saudade... Sei lá de quê”.
Para
saber mais sobre a poetisa portuguesa, aqui
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