A HiSTÓRIA DO PODER DA MULHER E DA INVEJA DO HOMEM
Segundo alguns antropólogos, o ser humano habita a terra há mais de dois milhões de anos. Mais de um milhão e quinhentos mil anos a espécie humana passou nas culturas de coleta de alimentos e caça aos pequenos animais. Nessas sociedades não havia necessidade de força física para a sobrevivência, e nelas as mulheres possuíam um lugar central. Porém, no nosso tempo ainda existem remanescentes dessas culturas, tais como os grupos “mahoris” na Indonésia e os Pigmeus na África. Estes são os grupos mais primitivos que sobrevivem da coleta de frutos, caça pequena e pesca. Nesses grupos, a mulher é considerada um ser sagrado porque pode dar a vida e, portanto, ajudar a fertilidade da terra e dos animais. Nesses grupos, os princípios femininos e masculinos governam o mundo juntos. Havia divisão de trabalho entre os sexos, mas não havia a desigualdade de hoje. A vida corria mansa e paradisíaca. A supremacia masculina se iniciou na sociedade quando começou a caça aos grandes animais onde a força física passou a ser essencial. Porém, não se conhecia a função masculina da procriação. O homem não sabia da sua capacidade de engravidar uma mulher. Nas sociedades de caça e pesca a mulher era considerada um ser sagrado, pois ela possuía o privilégio dado pelos deuses de reproduzir a espécie. Ela paria e o homem ficava perplexo com aquele fenômeno. Os homens se sentiam marginalizados nesse processo e invejavam as mulheres. Elas parem e nós não temos essa capacidade. Diziam. Todavia, com o passar dos tempos, a “inveja do útero” foi substituída pela “inveja do pênis” que sentem as mulheres nas culturas patriarcais mais recentes. A inveja do útero deu origem a dois ritos universalmente encontrados nas sociedades de caça pelos antropólogos. O primeiro foi o “couvad” em que a mulher começa a trabalhar dois dias depois do parto e o homem fica de resguardo com o recém-nascido recebendo os presentes. O segundo rito é a iniciação dos homens. Na adolescência a mulher se torna apta à maternidade pela menstruação, com esse fenômeno ela vai para um outro patamar da vida. Porém, os homens não têm esse sinal, pois não menstruam. Por esse motivo, na puberdade eles são retirados das mães pelos homens e são levados para a “casa dos homens”. Nesse período nenhuma mulher ou criança pode se aproximar da “casa dos homens” sob pena de morte.” Desse dia em diante o homem pode “parir” num ritual de imitação à mulher e, portanto, tomar o seu lugar na cadeia das gerações. A mulher detinha o poder biológico e o homem foi desenvolvendo o poder cultural à medida que a tecnologia foi avançando. A mulher tinha poder na sociedade de coletas, que era cooperativa, para poder sobreviver nas condições hostis. Então não havia coerção e nem centralização, mas rodízio de lideranças. Não havia transmissão de poder e nem de herança e, por isso, a liberdade era maior. Quase não havia guerra porque não havia a pressão populacional pela conquista de novos territórios. Certo dia diminuiu a quantidade de animais pequenos para a caça e ficaram os grandes animais. Então começou a competividade masculina na busca de novos territórios para coleta de frutos e caça dos grandes animais. As mulheres ficavam esperando esses homens, mas eles não retornavam mais. Surgiu a necessidade de lutar pelo alimento escasso. Os homens começaram a fazer guerras frequentes. Os homens bravos se tornaram grandes heróis guerreiros. Começa aí a desarmonia até então inexistente. Instala-se, definitivamente, a lei do mais forte. O homem ainda não conhecia o seu poder de fazer filhos, não sabia que seus espermatozoides fecundavam óvulos, aliás os espermatozoides e os óvulos eram dois desconhecidos. Os homens pensavam que as mulheres ficavam grávidas dos deuses, por isso elas ainda conservavam o poder de decisão. No decorrer do período neolítico o homem, em certo momento, descobriu a sua função biológica e reprodutora. O homem descobriu que a mulher só engravidava porque fazia sexo com ele. Então descobriu o seu “valor”. Aparece, então, o casamento em que a mulher é propriedade do homem e a herança se transmite através da descendência masculina. Vem então a sociedade pastoril como descrita na Bíblia. A tecnologia se aperfeiçoou depois do arado e sua importância na agricultura. Com o arado e as plantações, o homem deixa de ser nômade e torna-se sedentário. Surgem as primeiras aldeias, depois as cidades, depois as cidades-estados, depois os Estados e os impérios. Por fim, com o arado, a tecnologia e a guerra, o homem chegou ao patriarcado com a “lei do mais forte”. Por fim, há um consenso de que os primeiros humanos a descobrirem os ciclos da natureza foram as mulheres, porque podiam compará-los com o ciclo do próprio corpo. As mulheres foram as primeiras plantadoras, as primeiras ceramistas. Com o início da sociedade patriarcal, em que os portadores dos valores e da sua transmissão são os homens, os princípios femininos e masculinos deixam de governar juntos, mas sim, a “lei do mais forte”. Quem come primeiro é o dono da terra, sua família, seus escravos e seus soldados. Até ser escravo passou a ser privilégio. Os párias, os nômades e os sem-terra morriam abandonados no primeiro inverno. As mulheres passaram a ter a sexualidade totalmente controlada pelos homens. O casamento era dentro da família e a mulher era obrigada a sair virgem das mãos do pai para as mãos do marido. Qualquer ruptura dessa norma gerava morte. A mulher ficou reduzida ao âmbito doméstico, perdeu a capacidade de decisão no domínio público e ficou inteiramente reservada ao homem. Eis aí a origem da dependência econômica da mulher, e esta dependência, por sua vez, gerou, no decorrer das gerações, uma submissão psicológica que dura até hoje. O que era matricêntrica tornou-se patriarcal. MULHER, Somente a consciência da história muda o seu rumo, não viva uma vida acorrentado a um só caminho, pois o medo de mudar te impede de seguir em outra direção. No princípio era a mãe, o verbo veio depois.
(fonte: O Martelo das feiticeiras).
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