domingo, 11 de fevereiro de 2024

COLUNA DO ZÉ LOPES - O QUE FIZERAM COM O NOSSO CARNAVAL?

 

Desde que comecei a assimilar as coisas, morando em uma rua de pessoas importantes como políticos, deputados, prefeitos, juízes, promotores, médicos, empresários, fazendeiros e grandes comerciantes, via Bacabal dividida em três castas sociais distintas. A elite 1 que era o Clube Recreativo Icaraí,  a elite 2 que era a Associação Atlética Vanguard e a União Artística e Operária Bacabalense, clube povão. .  A AABB - Associação Atlética Banco do Brasil, apesar de independente, fazia parte da casta 1 e 2.

Naquele tempo, o carnaval não passava por órgãos públicos, e acontecia da forma mais alegre e animada. Existiam dezenas de blocos de sujos que saiam bebendo cachaça, batendo latas e garrafas, e jogando pó em todo mundo. Os blocos tradicionais desfilavam fantasiados, batendo seus tambores de compensado cobertos com couro de bode e suas ritintas cobertas com couro  de cobra, visitavam as casas e na terça-feira competiam entre si, com músicas próprias e arrastavam multidões. 

Com a evolução,  instrumentos de latão e pele de nylon, os blocos foram se tornando Escolas de Samba e o Carnaval cresceu tanto em Bacabal, chegando a ter sete agremiações: Asas do Samba, Salgueiro, Unidos do Bairro da Areia, Unidos do Satuba, Unidos do Juçaral, Estrela do Samba e Unidos da Esperança. Já fomos o melhor Carnaval de Passarela do Estado. De tão grande, o carnaval não teve como sobreviver.

Voltando aos clubes, o Icaraí e o Vanguard, duelavam pra ver quem fazia melhor, era uma disputa acirrada e as bandas eram as melhores, Brito Som Seis e Carlos Miranda Show. Já a AABB, fazia um Carnaval para funcionários do Banco e para seletos convidados. Nenhum dos três clubes aceitavam a presença de Pretos, tampouco as "moças faladas", aquelas que não eram "virgens" e nem casadas.

Já a União, que era clube de pretos, fazia um Carnaval muito bom para a massa menos abastada, mas, também não aceitava as tais "moças faladas"

O carnaval não precisava de máquina pública para acontecer, as ruas, as praças eram de todos e as músicas que faziam a folia acontecer, eram os sambas, os frevos e as marchinhas. 

Bacabal também tinha como tradição, o Festival de Músicas Carnavalescas, que movimentavam cantores, compositores, revelavam talentos e lotavam as praças.

Com a carnavalização dos baianos com suas micaretas, seus trios elétricos, seus abadás e seus axés, o poder público viu uma forma de agradar a "todos" e com a folia na praça, ficou inviável a permanência de clubes, chegando a fechar todos em Bacabal.

Hoje a coisa ficou pior, do Carnaval sobrou apenas os quatro dias na folhinha. Não se ouve mais as marchinhas, não se bate mais lata e nem garrafas, os dias são tristes e as ruas vazias, a noite a praça vira um espaço para cantores de seresta, forró, brega, arrocha e outros ritmos eletronicos que não dizem e nem condizem o reinado de Momo.

As redes sociais fizeram muito mal para o movimento cultural. Os políticos se aproveitaram disso para fazer tudo acontecer em um só lugar e aquela multidão é exibida como um troféu em forma de fotos e vídeos. É um novo momento anticultural onde é mais divertido estar no meio da multidão vendo um celular do que se divertindo.

Para quem sobrou dos velhos tempos, o carnaval de hoje é uma tristeza, é o carnaval do adeus. Adeus aos clubes, adeus ao confete, adeus serpentina, adeus pierrot, adeus colômbina,  adeus mascarado, adeus fofão, adeus porta bandeira, adeus batucada, adeus pó,  adeus alegria. Anda bem que de tanto adeus, nos sobrou a saudade. 

Para: Abel Carvalho,  Paulo Campos, Zé Jardim, Vale Neto, Perboire Ribeiro, Nilson Fazenda, Paulinho, Sotero, Zé Maria, Manim da Trizidela, Rachid, Pedro Neto, Aquileia, Gilvanete, Osvaldo Torneiro, Osmar Noleto e todos que fizeram de Bacabal, um celeiro de bambas em muitos carnavais em tempos passados.

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- É verdade que os diretóres dos clubes da elite saiam com algumas meninas e no carnaval mandavam cartas proibindo elas de frequentarem os clubes?

- É verdade, mas isso é assunto pra outro artigo.

Um comentário:

  1. Big Ze Lopes meu camarada!providencial e em tempo o seu comentário a sua dissertação sobre o Carnaval de Bacabal...um bjo no coração é saúde!!!!!

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