A INSUSTENTÁVEL NEGAÇÃO DO FASCISMO
Muitos dos que se querem intelectuais na cena literária brasileira torcem o nariz quando se fala em ressurgimento do fascismo. Apegados à rigidez de seus conceitos, consideram um exagero encarar as coisas dessa forma. Mesmo que Jair Bolsonaro e sua gangue tenham passado quatro anos fomentando um golpe de Estado que por pouco não se concretizou. Ainda que o mesmo Bolsonaro tenha patrocinado a morte de milhares na pandemia por meio de ações genocidas, que ainda terão que ser julgadas. Sim, para essas pessoas, genocídio também é um exagero que não condiz com a fleuma lítero acadêmica.
Mas e agora? Quando o governador do Rio, um tosco que mal consegue se expressar verbalmente, autoriza o massacre que foi a operação policial que resultou em mais de 100 mortos, muitos dos quais a facadas e tiros pelas costas, como começa a ser revelado? Não, não foi uma operação malsucedida nesse sentido, porque intencional. Um fracasso completo, sim, do ponto de vista do que se espera de uma operação policial em um país civilizado.
E agora? O massacre de pobre e pretos, comemorado nas primeiras horas como uma final de campeonato carioca, não é revelador de inclinações fascistas (para ser modesto)? E ainda com o agravante de tentar transformar o massacre em peça de marketing eleitoral? O tráfico é cruel e precisa ser combatido com toda energia, assim como o crime organizado. Mas quem tem um mínimo de inteligência e decência sabe que não é com espetáculos macabros como esse que o problema será resolvido. Os bandidos eventualmente mortos em meio a jovens, velhos, crianças e trabalhadores, serão apenas substituídos, e as ações criminosas seguirão cada vez mais ousadas e corrosivas do já esgarçado tecido social. Armas para isso não faltam, um ex-presidente genocida se encarregou de prover de armas a bandidagem, não satisfeito em afagar e proteger milicianos.
Por gentileza, senhoras e senhores, não sejam cínicos como é cínica a maioria da mídia corporativa do país, que parece ter abandonado de vez a noção de que o jornalismo trabalha com fatos para se converter em linha auxiliar do reacionarismo boçal, esforço no qual o execrável Estadão é exemplar, seguido bem de perto por todos os outros. Desçam da torres, doutas e doutos, antes que ela caia sobre as vossas luminosas cabeças.
(Fernando Abreu)


Nunca vi tanta besteira escrita como no texto acima.
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