Levantamento
do Ministério Público Federal mostra que ao menos R$ 2,1 bilhões foram
desviados da Petrobras no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava
Jato.Como o número é referente aos crimes denunciados pelo MPF até agora, é
possível que o volume aumente com o avanço das investigações da Polícia
Federal.
A
Procuradoria, no entanto, estima que só na área de Abastecimento, os desvios
podem ser da ordem dos 5 bilhões de reais, de acordo com entrevista publicada
no jornal O Globo. Ontem, a Petrobras divulgou seu balanço trimestral, mas as
perdas acumuladas com os casos de corrupção não foram contabilizadas.
Perto
de completar um ano de investigações, o Ministério Público Federal criou um
site para divulgar informações sobre a Operação Lava Jato. Segundo o balanço
divulgado na página, 400 milhões de reais já foram recuperados e 200 milhões de
reais em bens dos acusados foram bloqueados.
Até
agora, 86 pessoas já foram denunciadas. A expectativa é de que, em fevereiro, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhe ao Supremo Tribunal
Federal (STF) pedidos de abertura de inquérito contra parlamentares e
autoridades citados nas delações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
e do doleiro Alberto Youssef.
Veja
nos slides a seguir os grandes números das investigações da Operação Lava Jato.
A
presidente da Petrobrás, Graça Foster, afirmou na tarde desta quinta-feira, 29,
em teleconferência a analistas e investidores, que as perdas com corrupção,
estimadas pela empresa em R$ 4 bilhões, podem ser maiores, caso novas denúncias
de desvios de recursos apareçam.
O cálculo do rombo da
corrupção no patrimônio da companhia considerou os projetos firmados com
empresas investigadas pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato. Do total
orçado dos projetos, foram descontados 3%, que seria o pagamento de propina,
segundo denúncia feita pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa à Polícia
Federal.
De acordo
com Graça, a companhia poderá reavaliar os dados apresentados em seu balanço
quanto aos valores imobilizados e contratos relacionados às empresas sob
investigação da Polícia Federal. Segundo a executiva, a companhia poderá
ampliar o escopo dos contratos sob análise, os períodos e também o valor dos
ajustes estimados inicialmente no balanço.
"Novas
informações oriundas das investigações em curso podem causar novos ajustes,
ampliação do escopo dos contratos e empresas e também do período
analisados", disse. "É importante frisar que o período analisado não
foi escolhido pela companhia, mas extraído dos depoimentos recebidos como
"prova emprestada" pela Petrobrás", acrescentou.
A presidente da
estatal informou que foram gastos R$ 150 milhões para dimensionar o tamanho das
perdas causadas pela corrupção. O custo diz respeito à contratação dos serviços
de consultores internos e também aos gastos com a equipe interna.
Preço justo. Graça Foster disse,
ainda, que recomendou ao conselho de administração que não fosse utilizada a
metodologia de valor justo para calcular o efeito da corrupção em seu
patrimônio. Isso porque considera essa metodologia - em que o valor contábil é
corrigido pelo valor de mercado - falha, por utilizar inúmeras variáveis.
Entre as variáveis
utilizadas que podem comprometer o resultado da análise dos ativos, Graça cita
mudanças de preços e margens de insumos, dos equipamentos, salários,
deficiência no planejamento de projetos, contratações de bens e serviços antes
da conclusão dos projetos básicos das obras - além da "cartelização de
fornecedores, corrupção e sobrepreços".
"Recomendamos ao
conselho de administração que não utilizaríamos essa metodologia, por ser uma
composição de muitas variáveis", afirmou a presidente da Petrobrás. Em
seguida, ela acrescentou que, agora, "o trabalho é fazer uma limpeza
dedicada em tudo o que tivermos que fazer". E que a intenção é "ter
uma avaliação correta para o patrimônio líquido e o ativo imobilizado".
Graça disse também que o esquema de corrupção na empresa não afetou a posição
de caixa da petroleira.
A
Petrobrás poderá deixar de pagar dividendos aos acionistas se entender que
atravessa uma situação de "estresse financeiro". A avaliação é do
diretor Financeiro da companhia, Almir Barbassa. Segundo ele, essa é uma
prerrogativa da Lei das S.A., mas a companhia ainda não analisa a possibilidade
no momento.
"A alternativa
poderá ser considerada a depender da avaliação da situação financeira da
companhia", afirmou Barbassa.
Segundo ele, "em
situação normal de negócio", a política da Petrobrás é remunerar as ações
preferenciais e garantir 25% de distribuição do lucro. Mas o diretor frisou que
esse pagamento dependerá da avaliação da situação da estatal.
"Há uma
possibilidade, e ela não está sendo colocada nesse momento, mas poderá sê-lo,
que se refere à não haver pagamento de dividendos. Se uma companhia, qualquer
companhia, julga que há situação de estresse financeiro, há possibilidade de
não haver pagamento", explicou.
Balanço. O balanço divulgado
nesta quarta-feira sem o aval da auditoria independente e sem baixas contábeis
frustrou a expectativa de investidores. Entre julho e setembro do ano passado o
lucro foi de R$ 3,1 bilhões, queda de 38% em relação ao segundo trimestre de
2014 e de 9% em relação ao terceiro trimestre de 2013. O Ebitda ajustado foi de
R$ 11,7 bilhões - queda de 28% ante mesmo período de 2013.
A companhia atribuiu
a queda no lucro líquido ante o trimestre anterior às maiores despesas
operacionais, principalmente pela baixa dos valores relacionados à construção
das refinarias Premium I (R$ 2,1 bilhões) e Premium II (R$ 596 milhões), devido
à descontinuidade desses projetos.
Segundo a empresa, a
divulgação dos resultados sem a revisão dos auditores independentes tem o
objetivo de atender obrigações da companhia (covenants) em contratos de dívida
e de cumprir seu dever de informar o mercado e agir com transparência no
episódio da Lava Jato. A companhia diz que entende ser necessário fazer ajustes
no balanço para corrigir os valores dos ativos, mas não houve consenso sobre a
metodologia adequada para a correção.
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