A
Justiça suíça quer saber se o HSBC ajudou a camuflar a origem suspeita do
dinheiro de ex-diretores da Petrobrás e que, durante anos, fizeram seus
depósitos nas contas do banco em Genebra. Nessa quarta-feira, 18, o Ministério
Público de Genebra abriu investigação por lavagem de dinheiro contra o banco
HSBC e liderou uma operação de busca e apreensão na sede e em diversos
escritórios da instituição em Genebra.
Fontes ligadas à
investigação confirmaram que as alegações sobre as contas envolvendo
ex-diretores da Petrobrás também serão examinadas. O Estado foi o único
jornal brasileiro a acompanhar a operação.
O HSBC de Genebra
abriu conta e recebeu o depósito de dinheiro em sua sede suíça proveniente de
propinas no caso da Petrobrás. Isso é pelo menos o que revela em sua delação premiada o ex-gerente executivo de engenharia da
Petrobrás Pedro Barusco, que abriu um total de 19 contas em nove bancos na
Suíça para receber propinas. Só no HSBC ele teria cerca de US$ 6 milhões.
Mas as suspeitas
apontam que outros envolvidos na Operação Lava Jato também usaram o banco em
Genebra. Segundo informações do blog do jornalista Fernando Rodrigues,
"pelo menos 11 pessoas ligadas ou citadas de alguma forma no escândalo da
Operação Lava Jato mantiveram contas na filial suíça do banco britânico HSBC
nos anos de 2006 e/ou 2007". As contas somariam US$ 110,5 milhões.
No início da semana,
o Estado
revelou que a conta de um deles, Barusco, está bloqueada e o dinheiro será
devolvido aos cofres públicos.
Agora, a Justiça de
Genebra quer saber se o HSBC realizou os controles exigidos pela lei para saber
como o dinheiro acabou sendo depositado na Suíça. Se ficar provado que o banco
fez vistas grossas à origem dos recursos ou auxiliou na abertura das contas, a
instituição pode ser denunciada formalmente por crime de lavagem de dinheiro.
Operadores e clientes
também podem ser processados, principalmente se dissimularam a origem dos
recursos, criando empresas off-shore.
No Brasil, a
força-tarefa do MP que investiga a Petrobrás também começa a apurar de que
forma os bancos agiram para permitir que o dinheiro da propina fosse
movimentado.
Indústria
A conta de ex-funcionários
da Petrobrás, porém, é apenas parte da história. A Justiça suíça passou a ser
pressionada e o país viveu um mal-estar depois que uma rede de jornais revelou
que o banco havia ajudado 100 mil clientes de todo o mundo a abrir contas na
Suíça e fugir do controle de seus países. Os dados revelam uma verdadeira
"indústria da lavagem de dinheiro". No caso do Brasil, são mais de
8,7 mil contas com um total de US$ 7 bilhões.
Criticados por
permitir que um banco atue para lavar dinheiro de criminosos de todo o mundo,
os suíços decidiram finalmente agir, ainda que a lista dos clientes fosse de
conhecimento de autoridades de pelo menos cinco países europeus há mais de
quatro anos. Espanha, França e EUA, por exemplo, já usaram a mesma lista para
recuperar dinheiro de pessoas que não declararam que tinham essas contas no
HSBC. Só os suíços ficaram em silêncio.
No último fim de
semana, o Ministério Público da Confederação Suíça indicou que não tinha como
agir, alegando que os dados revelados pela imprensa eram roubados.
Mas, na manhã dessa
quarta, foi a Justiça de Genebra que lançou a operação de busca e apreensão no
banco para coletar dados, computadores e documentos. A acusação é de
"lavagem de dinheiro agravado". O processo foi liderado pelos
procuradores Olivier Jornot e Yves Bertossa.
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