UM PEDIDO BEIM BAXADÊRO
(... seim pé, neim cabeça)
Recebi um pedido inusitado, de um baixadeiro e querido amigo. Um disfarçado desafio. Trazer, à baila, expressões, que já não se ouvem mais.
Sei que é uma tarefa muito, muito difícil, mas vou puxando da memória e vou construindo um retalho auditivo de nossa infância. E, pra quem quiser, até, visual. Basta imaginar. E o que mais quero é chegar, ao menos, perto da espectativa de nosso irmão de terra natal. E que os irmãos "istrangeiro" possam, também, "intendê tudinho direitinho. "Si quisê, pôdi pidi ajuda".
E, "pra iniço di cunversa, era terrívi a sensação de ter uma cara branca ou uma vertígi, qui pódia dá i martratá, quano si tava azuzinho di fômi?! E digo logo qui num é uma côsa boa, Naum! Ou, intõu, bardiá, au sinti u pitiu du pêxe ô tê batido um tutano curredô cum farinha sêca".
E, viver situação piorada, só mesmo "si incontrano cum u bucho disarranjado, apóis cumê um ovo istipurado, e mais tarde ficá impanzinado".
E, pior mesmo, era "sofrê cum
uma nacida ô uma ziquizira", que "cambava pra uma curuba, a mordê us suvaco, nu calô du calô dais trêis da tarde". Mas, não ficava só nisso. Havia "imundiça de todo jeito e feitio. Um lombinho, um mondrongo, a papeira, o alastrim e a tosse braba". E o cúmulo do medo, de todo piqueno, era ter "o cascão da pereba", arrancado pelo bico de uma galinha. Haja sangue "a ispirrá lôngi"!
Aí, para acabar com essa sessão de terror, só quem "dismintiu" um dedo e foi vítima de "uma boneca de sal" sabe o que é "ir à lua". E não é"mintira!"
E, para fechar esta narrativa, "seim pé neim cabeça", só foi feliz quem usou "um calção no rendengue" e, como "bõu baxadêro", que se preze, "têvi um quartinho intupetado di bregueço!" O que sempre "dava pano pra manga". Era motivo de "uma disavençazinha, um licute e, até, um báti boca, com a branca".
Espero ter chegado, "pelo ao menos", pertinho do delicioso pedido!
Zé Carlos Gonçalves


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