1 – Até o momento,
não há base para impeachment
Para os analistas
entrevistados pela BBC Brasil, apesar dos graves problemas enfrentados pelo
governo, não está claro qual seria a base para um processo de impeachment.
"Há tensões
dentro do governo, tensão entre Lula (o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva)
e Dilma, entre o PT e (o novo ministro da Fazenda) Joaquim Levy. A polarização
no Brasil está ficando muito forte, entre o PT e a oposição, entre o Congresso
e a presidente", enumera Peter Hakim, presidente emérito do instituto de
análise política Inter-American Dialogue, em Washington.
"Mas a pergunta
que eu tenho é como o processo de impeachment seria iniciado, qual seria a base
para impeachment", questiona.
Segundo Hakim, até o
momento não parece haver nada que possa desencadear um processo de impeachment.
Ele ressalta que acusações de "incompetência", por si só, não são
motivo para impeachment.
O cientista político
Riordan Roett, diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade
Johns Hopkins, em Washington, lembra que nos Estados Unidos a ameaça de
impeachment também costuma ser mencionada com frequência.
"O impeachment
nunca está fora de questão. Os conservadores do Tea Party estão sempre falando
em impeachment no Congresso americano, mas obviamente isso não vai
acontecer", compara.
"(No caso do
Brasil) penso que é muito cedo para sequer pensar sobre a possibilidade de um
processo sério de impeachment."
2 – Não há evidências
de envolvimento de Dilma no escândalo da Petrobras
O escândalo de
corrupção na Petrobras, que já provocou o rebaixamento da nota da empresa pela
agência de classificação de risco Moody's, é considerado por Hakim o principal
problema enfrentado por Dilma no momento.
Mas ele e outros
analistas ressaltam que nada indica que a presidente – que esteve à frente do
Conselho de Administração da empresa entre 2003 e 2010 – tenha tido algum tipo
de envolvimento ou soubesse dos casos de corrupção.
"Até o momento,
não há evidência de que Dilma seja culpada de nada além de má administração (no
caso da Petrobras)", diz o cientista político Matthew Taylor, pesquisador
do Brazil Institute, órgão do Woodrow Wilson Center e professor da American
University, em Washington.
Taylor observa que,
assim como no escândalo do Mensalão muitos dos membros mais céticos da oposição
diziam na época que o então presidente Lula deveria saber do que ocorria, no
caso da Petrobras é possível que muitos digam o mesmo de Dilma, que seus laços
com a empresa eram tão estreitos que ela deveria saber do esquema de corrupção.
"Mas em uma
grande organização como essa, é bem plausível que ela simplesmente não tenha
investigado mais profundamente o que poderia estar ocorrendo", afirma.
"Até agora não
há qualquer sugestão nos documentos que se conhece de que Dilma seja culpada de
qualquer comportamento criminoso", diz Taylor.
3 – A oposição não
tem interesse em um processo de impeachment
Segundo os analistas
ouvidos pela BBC Brasil, a oposição não teria condições e nem tem interesse em
levar adiante um processo de impeachment.
"Não acho que o
PSDB teria muito a ganhar. Além disso, precisaria do apoio do PMDB e de outros
partidos na coalizão do governo. E, francamente, nenhum desses partidos
gostaria de ver Dilma sofrendo um impeachment", afirma Taylor.
"Eles têm muito
a ganhar com uma Dilma enfraquecida", observa. "Talvez seja melhor
para a oposição simplesmente deixar Dilma mergulhada na crise e deixar que ela
tome as difíceis medidas de austeridade e ser responsabilizada por elas."
4 – Apoio no
Congresso
Dilma enfrenta
dificuldades em sua relação com o Congresso e com a própria base aliada, em um
momento em que o PT e o PMDB, apesar de terem as maiores bancadas, perderam
cadeiras nas últimas eleições, que também foram marcadas por uma maior
fragmentação do Congresso.
"Uma das
questões cruciais para Dilma é lutar contra a oposição que há no Congresso ao
plano de ajuste fiscal. Mas ela está em uma posição enfraquecida, porque não é
popular, o PT tem menos membros no Congresso, há mais partidos pequenos",
enumera Roett.
Apesar das
dificuldades, os analistas ressaltam que a estrutura de apoio de Dilma é muito
mais forte do que a do ex-presidente Fernando Collor de Mello, alvo de
impeachment em 1992.
"Collor estava
implementando políticas que eram de certa maneira radicais, que iam contra a
maioria dos eleitores, e estava fazendo isso em um contexto em que seu partido
tinha menos de 3% do Congresso", diz Taylor
5 – Dificuldades em
toda a América Latina
A avaliação dos
analistas é de que, apesar de graves, os atuais problemas não são exclusividade
do Brasil. Muitos países da América Latina também enfrentam um período de
escândalos e economia em queda.
"Não é como se o
Brasil estivesse sozinho", observa Hakim.
Ele cita os casos de
México, Venezuela, Peru, Chile e Argentina, onde os presidentes também
atravessam um momento de fraca popularidade.
"Se no Brasil a
inflação chega a 7,3% nos últimos 12 meses, na Argentina está em torno de 40%,
e na Venezuela perto de 70%", diz Hakim.
"A confiança do
investidor está em baixa em toda a América Latina."
Exagero
Para Hakim, há um
certo exagero quando se fala na possibilidade de impeachment de Dilma.
"Ninguém falava
em impeachment de Fernando Henrique Cardoso por causa da crise do apagão.
Ninguém falava em impeachment de Lula por causa do Mensalão", lembra.
O analista reconhece
que Dilma está enfrentando problemas em várias frentes, mas afirma que esses
problemas não são incomuns em governos com a economia em baixa.
"Lembra quando
todos falavam que o Brasil era um foguete em direção à lua, que ninguém
segurava o Brasil? Aquilo foi dramaticamente exagerado. Agora, o suposto
desastre enfrentado pelo Brasil também está sendo exagerado. Pode estar prestes
a enfrentar um pouco de turbulência, mas não se compara à situação da Argentina
ou da Venezuela", afirma Hakim.
Taylor diz que o
escândalo da Petrobras o deixa "cautelosamente otimista".
"Quando se pensa
no Brasil e nas experiências da América Latina, em quantos outros países você
prenderia alguns dos mais importantes empresários e consideraria a
possibilidade de prender alguns dos mais importantes políticos? E, mesmo eu não
achando um cenário realista, a própria contemplação de impeachment de uma
maneira válida institucionalmente. Isso tudo aponta para a força da democracia
brasileira, não fraqueza."
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